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Porque é que as presidenciais foram importantes?

Düsseldorf

A agenda mediática esteve por estes dias grandemente concentrada nas eleições presidenciais. Contudo, parece haver ao mesmo tempo um clima quase consensual de desvalorização da própria eleição, que me parece bastante pernicioso.

Marcelo Rebelo de Sousa venceu sem surpresa logo na primeira volta. Isto não diminui, contudo, a pertinência de fazer algumas leituras acerca dos resultados deste exercício democrático. Ao contrário do que os mais ingénuos possam pensar, o efeito ideológico de uma eleição presidencial não se esgota numa dicotomia na qual o vencedor conquista o poder e todos os outros ficam de mãos a abanar.

O período de campanha oferece uma possibilidade interessante de franquear a entrada no espaço mediático em condições de igualdade a atores políticos normalmente condenados à sombra. Para o bem ou para o mal os temas sobre os quais os candidatos escolhem fazer incidir luz vão marcar as conversas de café dos portugueses (quando estes estiverem abertos pelo menos).

Os resultados, embora não tenham fugido muito do esperado, não são inócuos. Para lá da votação de Marcelo estas eleições oferecem sinais para o futuro da direita.

André Ventura é a figura maior desta eleição com um resultado que pela primeira vez confirma nas urnas o exponencial crescimento eleitoral do populista português desde a eleição nas legislativas que o tornou num produto mediático. Ainda assim fica a derrota moral de ter ficado atrás de Ana Gomes, um objetivo autoimposto que acabou por ser um erro tático que condicionou a retórica pós-eleitoral.

Num cenário em que PSD e CDS vivem uma crise de identidade na qual as atuais direções demonstram muito pouca capacidade de resistência à canibalização pela extrema-direita o resultado de Marcelo Rebelo de Sousa pode congelar este processo. O presidente reconduzido comprovou que o espaço centrista que concorda no essencial dos valores constitucionais democráticos se mantém intacto e maioritário.

Tiago Mayan e a Iniciativa Liberal, embora com um crescimento sustentado, falharam a oportunidade de assegurarem um lugar na reconfiguração da direita portuguesa.

Também à esquerda se jogaram cartadas importantes. Sem um candidato próprio o PS vê nestas eleições uma catarse das suas convulsões internas que preparam o terreno para uma aguerrida luta entre os socialistas na era pós-Costa. A candidatura da eurodeputada Ana Gomes foi assumidamente incómoda para o establishment do PS, o que ficou ainda mais vincado com as críticas que esta lançou ao primeiro-ministro que sub-repticiamente comparou a Victor Orban.

Ana Gomes cumpriu os serviços mínimos, saindo da eleição com uma vitória simbólica sobre Ventura e fazendo história como a mulher mais votada de sempre. Contudo, a sua incapacidade de polarizar a área política do PS foi notória. No momento pós-eleitoral o mal-estar era percetível. No seu discurso de noite eleitoral Ana Gomes cutucou as outras esquerdas lamentando a ausência de uma convergência, o que perante a fraca prestação eleitoral da mesma parece ainda mais disparatado.

Marisa Matias sai das eleições como a grande derrotada, bem longe dos 10% que obtivera nas anteriores presidenciais. À capacidade que Ana Gomes por si já tinha de disputar o eleitorado bloquista juntou-se o voto útil daqueles que viam no 2º lugar do candidato de extrema-direita o perigo a evitar a qualquer custo.

João Ferreira não deixa de alcançar uma pequena vitória. Aumentou ligeiramente o resultado percentual do PCP relativamente às anteriores eleições presidenciais. É a primeira vez que o PCP não desce os resultados numa eleição desde 2015. A revitalização retórica que se esforçou por fazer parece ter tido alguma adesão, algo que ainda carece de validação.

Vitorino Silva diminuiu o seu resultado em relação a 2016, mas não o seu bom humor.

 

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