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Jovens sentem-se pouco representados nas discussões sobre o clima

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Ao longo de quase duas semanas, foram poucos os jovens portugueses a passar pela cimeira do clima, no Dubai, e o problema, dizem, está na falta de espaço que lhes é aberto para participarem nas discussões.

A 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28) está quase a terminar e, ao longo de quase duas semanas, passaram pela cimeira alguns jovens portugueses, mas poucos e a maioria em trabalho.

A agência Lusa conversou com duas jovens que, apesar de não integrarem a delegação portuguesa, estão no Dubai desde o final de novembro para acompanhar a cimeira e ambas falaram sobre a falta de espaço para os jovens entrarem na discussão e nos processos de decisão.

“Em Portugal há uma grande falta de representação jovem em espaços políticos, incluindo na COP. Eu própria não sei como é que funciona a delegação portuguesa que cá vem, são processos muito fechados e parece-me que não há esforço para haver representação jovem”, disse Bianca Castro.

Esta é a quarta vez que participa numa cimeira do clima e nunca o fez através da delegação portuguesa. Este ano, veio com a Greenpeace Internacional, organização não-governamental da qual faz parte.

Para Mariana Maraschin, a porta de entrada para a COP28 foi outra: a associação Youth Climate Leaders, uma organização que representa os jovens criada no Brasil em 2018 e que está em Portugal há dois anos.

Apesar de Mariana viver em Portugal há sete anos, foi pela delegação brasileira que viajou para a cimeira.

A falta de representação dos jovens em Portugal é um problema que também identifica e, apesar de reconhecer que a mobilização não é tão significativa como no Brasil, não é neles que coloca o ónus.

“Tem muito a ver com a falta de sermos ouvidos”, explicou, sublinhando a necessidade de impulsionar os governantes a envolverem os jovens nos processos de decisão.

“Há muitos que querem participar, mas não sabem sequer como podem fazê-lo, porque não pertencem a esses espaços, não lhes foi dada essa oportunidade”, acrescentou.

Por outro lado, e do ponto de vista dos ativistas climáticos, Bianca Castro acrescenta que existe também a perceção de que não é da COP28, à semelhança das anteriores, que sairá a mudança necessária.

“Enquanto há pessoas que estão aqui, em Portugal também houve uma marcha por justiça climática, também está a haver resistência e acho que isso é o que é mais importante. (…) Este é apenas mais um sítio onde vamos lutar, mas não é o sítio mais essencial”, defendeu.

Exemplo do que reforça esse ceticismo é, precisamente, a forma como está a decorrer a COP28: uma montanha-russa de expectativas em que o ceticismo inicial deu lugar a alguma esperança crescente ao longo de quase duas semanas, mas que caiu por terra com a proposta de texto final para o Balanço Global apresentada na segunda-feira pelo presidente da cimeira.

“O que é mais triste é que o que está a acontecer não é surpreendente”, lamentou Bianca Castro, que não é estreante nas cimeiras e antecipa que não será possível chegar a um texto final satisfatório.

“Isso seria um texto em que houvesse [um compromisso por] um abandono dos combustíveis fósseis justo e equitativo e por uma forma justa de chegar a financiamento suficiente para perdas e danos, e não é possível acreditar que isso possa acontecer”, concluiu.

A COP28 está a decorrer no Dubai, Emirados Árabes Unidos, desde 30 de novembro e tem encerramento marcado para esta terça-feira, mas poderá prolongar-se até que seja aprovado o texto final, ao contrário da expectativa do presidente da cimeira, Sultan Al Jaber, que esperava concluir os trabalhos até às 11h00 desta terça-feira (07h00 em Lisboa).

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