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A estratégia do caos

O recente debate entre Donald Trump e Joe Biden foi simbólico dos tempos que vivemos. O moderador, o jornalista Chris Wallace da Fox News (estação ligada ao partido Republicano), não cumpriu a sua função de disciplinar os candidatos. O presidente americano destilou ódio através de ataques pessoais ao candidato democrata e propagou informações falsas, mas o mais significativo é que interrompeu constantemente o seu adversário. Este ponto é essencial para podermos entender o fenómeno da extrema-direita hoje.

O candidato republicano aplicou no debate televisivo o mesmo modus operandi que utiliza nas redes sociais, intoxicar permanentemente a comunicação. A avassaladora e permanente campanha de desinformação que as forças trumpistas levam a cabo visa esvaziar o debate público de qualquer réstia de ideologia.

Trump não possui uma proposta de sociedade. A mobilização de massas que opera baseia-se na luta contra ameaças contruídas à volta de tudo o que é o Outro. Donald Trump é uma figura que só pode existir no meio do caos, este é essencial para fundamentar a mitologia da extrema direita.

O presidente dos EUA já afirmou que não se compromete em aceitar o resultado das eleições, e referiu-se a uma milícia armada de supremacistas brancos (Proud Boys) dizendo “mantenham-se a postos”. A extrema-direita move-se num imaginário que é por definição violento. As suas referências são cristalizações de momentos históricos como guerras ou batalhas. A banalização do discurso de ódio leva a que uma franja radical e violenta (que sempre existiu), sentindo-se aceite no espaço público, parta para a radicalização e mobilização.

As redes sociais tornaram este trabalho fácil, através da rapidez do fluxo de informação, das bolhas provocadas pelo algoritmo, dos exércitos de perfis falsos enquanto câmara de eco, e da ausência de mediação da veracidade das informações propagadas.

Joe Biden está em vantagem nas sondagens. Contudo, neste momento histórico o futuro da sociedade americana é imprevisível. E isso já é, em si, uma parte da estratégia do caos.

 

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