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O Robin dos Bosques tuga

“Amigos verdadeiros são os que nos acodem inopinados com valedora mão nas tormentas desfeitas.” Camilo Castelo Branco em Memórias de um Cácere

O meu texto de hoje vem de cima do trono para baixo ao povo. Vou contar a história de Zé do Telhado, o Robin dos Bosques tuga!

Zé do Telhado, recordado por muitos como ladrão, por outros como um herói, tem o seu nome com origem nas suas raízes. De nome José Teixeira da Silva, nascido na aldeia do Telhado, em Penafiel, cresceu numa família pobre. Mais tarde viu na vida militar o seu futuro, acabando por se alistar no exército, tornando-se um soldado exemplar e destemido.

No fim da guerra, casou e regressou à terra, onde teve cinco filhos. 

Mas não conformado com a pacata vida doméstica, no ano de 1846, ingressou numa revolta popular na sequência da Revolução da Maria da Fonte, onde salvou a vida do general Sá da Bandeira. Foi condecorado pelo general depois desse ato, com a medalha de cavaleiro de torre e espada. 

Com o fim das revoltas, a falta de meios de subsistência, seis bocas para alimentar, o pobre homem não encontrou outra solução a não ser dedicar-se à arte do gamanço. 

Mas ele não roubava qualquer um: juntou um grupo de companheiros que tinham como alvo roubar a elite. Ele e os seus companheiros dedicavam-se a assaltar a casa dos ricalhaços das redondezas. Foi, e é, até aos dias de hoje, o salteador mais famoso de Portugal. A sua marca era a forma gentil como tratava os donos das casas que assaltava. Generoso, não ficava com o despojo todo para si, mas distribuía parte dos bens pelos seus vizinhos e conhecidos necessitados. 

Zé do Telhado ficou na memória de todos os habitantes de Penafiel e arredores, e construiu-se o famoso lema em volta dele: “Roubar aos ricos para dar aos pobres”.

A tragédia surgiu um dia em que alguém do seu bando matou um funcionário de uma casa senhorial, as autoridades passaram a procurar o Zé do Telhado e o seu grupo com mais dedicação. Por isso, Zé do Telhado tentou escapar para o Brasil, mas foi encontrado a bordo do navio que tinha como destino esse país. 

Foi preso na cadeia de relação da cidade do Porto, partilhou a cela com Camilo Castelo Branco, de onde nasceu uma bela amizade. Camilo estava preso por adultério e vivia com medo que o marido de Ana Plácido, a sua amante, arranjasse alguém para o matar. Foi então que Zé do Telhado se tornou seu protetor. Graças à defesa do advogado de Camilo a sentença de Zé foi reduzida de pena de morte para extradição para Angola. 

Acabou por falecer em Angola de varíola, no ano de 1875, aos 57 anos. A sua sepultura ainda hoje permanece na aldeia de Xissa, a poucos quilómetros de Malanje. A sua história ficou eternizada na literatura portuguesa, por Camilo Castelo Branco. 

Para terminar esta história, despeço-me com uma receita de sável frito com açorda de ovas, receita tradicional de Penafiel.

Ingredientes:

12 postas finas de sável

200 g de ovas de peixe a gosto

1 sêmea de véspera

1 cebola

4 dentes de alho

1 L de óleo

Farinha q.b.

Azeite q.b.

Sal e pimenta q.b.

Folhas de salsa para decorar

Preparação:

  • Tempere as postas de sável com sal, passe-as por farinha e frite-as de ambos os lados no óleo, previamente aquecido. Retire, escorra sobre papel absorvente e reserve.
  • Leve ao lume um tacho com água e sal, deixe levantar fervura, junte as ovas de peixe e deixe cozer, até se desfazerem. Reserve as ovas e a água da cozedura.
  • Corte a sêmea em pedaços pequenos e demolhe-os na água das ovas. Descasque e pique a cebola e os alhos e aloure-os num tacho com um pouco de azeite. Junte a sêmea escorrida, mexa e deixe cozinhar bem. Se necessário, adicione um pouco mais de água para tornar a açorda mais homogénea.
  • Retifique o sal da açorda, tempere com uma pitada de pimenta, adicione as ovas cortadas em pedaços e envolva bem. Retire do lume, coloque num prato e decore com folhas de salsa. Sirva com o sável frito.

Bom Apetite!

Dévora Cortinhal

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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