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O Natal quando nasce, não nasce para todos

Se eu pudesse escolher o Natal perfeito, com certeza que escolhia o Natal dos anúncios dos supermercados.

Não me refiro a nenhum supermercado em particular.

Qualquer um deles mostra-nos o Natal ideal, e não o Natal real, que esse a maior parte das vezes não tem a magia que tem quando é pensado, quando é idealizado pelos nossos desejos, mesmo que esses desejos sejam os mais ardentes que possamos imaginar.

O Natal dos anúncios dos supermercados normalmente mostra uma mesa grande e farta de tudo quanto é bom. E para compor essa imagem, em volta da mesa está toda a família, de sorrisos rasgados no rosto.

À cabeceira da mesa está o pai, que também é o avô, e o sogro. E logo a seguir, num canto da mesa está a mãe, que também é a avó, e a sogra. Depois estão os filhos e as filhas, que também são os pais e os genros, e as noras. E depois, para compor a mesa perfeita, com a família perfeita, estão os miúdos com os seus barulhos naturais de alegria e boa disposição, às vezes até, alguma birra, que não deixa de ser um sorriso nos lábios, dos avós.

Neste quadro perfeito do Natal ideal, onde se junta toda a família numa reunião de alegria, harmonia e muita felicidade, estampada nos rostos de toda a gente, há uma emoção perfeita do espírito de Natal. 

Neste convívio onde se partilha a amizade e o amor entre todos, não há razões para tristezas. O pai, que também é o avô, e o sogro, do alto do seu reino à cabeceira da mesa, observa com orgulho e emoção, a sua família feliz e unida. 

O filho, ou o genro, tem a tarefa de ser ele a cortar o enorme peru que se encontra no meio de uma mesa farta, e as filhas ou noras, num gesto de partilha harmoniosa, chegam as travessas com os vegetais, aos que estão um pouco mais afastados do local onde foram colocadas, para que ninguém tenha o trabalho de ter de se levantar para se servir de comida.

Por trás da mesa farta onde toda a família se reúne na perfeita ceia de Natal, está um glorioso presépio, majestosamente decorado, e em sua volta estão os presentes de Natal que cada um irá receber quando chegar a hora de os partilhar.

Quem não gostaria de ter um Natal assim? O Natal ideal.

Porque…o Natal real, é bem diferente deste que só serve para suavizar, ou por vezes aumentar, a tristeza e a dor daqueles que deixaram um lugar vazio nesta mesa farta. Daqueles que partiram e nunca mais ocuparão esse lugar, ficando apenas a dor da saudade.

O Natal real, para muita gente é o dia de todas as saudades. O dia da dor e do sofrimento. O dia em que a solidão se sente com maior intensidade. 

Será também o dia da solidariedade genuína, da compaixão, da partilha do amor como um eficaz antidoto ao sofrimento e à dor.

E será também o dia da solidariedade daqueles que hão de registar o momento da sua boa ação, se não do dia, do ano também, com uma camara de vídeo, que depois mostrará no Facebook o quão generoso se pode ser, nem que seja apenas por um dia, e nem que esse dia seja por acaso o dia de Natal. 

O dia onde tamanha bondade se reflete na alegria do sem abrigo que recebeu uma refeição quente, ou até mesmo um cobertor aconchegante. Que importa, se o gesto pode valer uns quantos likes (Gostos), e com um bocadinho de sorte, uns comentários tão generosos quanto o gesto praticado.

E para outros, o dia de Natal, não será Natal, porque estão ocupados de mais a tentar sobreviver à maldição e crueldade de quem tem os destinos da nação nas suas mãos, verdadeiros plutocratas, inventores de guerras onde ninguém ganha e todos perdem, porque quem sofre são os inocentes, e não os que estão protegidos nos seus palácios, rodeados de tudo o que faz falta a quem sofre.

O Natal quando nasce, não nasce para todos. A não ser que seja num anúncio de um qualquer supermercado.

Mesmo assim, na medida do possível, desejo a todos quantos possam ler este texto, um santo Natal, cheio de coisas boas.

Se não puderem ter o Natal ideal, ao menos que o Natal real seja do vosso agrado.

Às vezes o que nos faz verdadeiramente felizes está bem mais perto de nós, do que aquilo que nos apercebemos.

De terras de sua majestade The King, Merry Christmas.

António Magalhães

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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