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Em quem acreditar?

Vão surgindo neste nosso Portugal notícias que merecem da minha parte alguns comentários, uma vez que tais notícias são verdadeiras “boutades” dos seus autores, como dizem os franceses, ou então “langue de bois” judiciosamente também citadas pelos gauleses.

Assim comecemos pela primeira, permitindo quem me lê que eu divague antes de entrar no surrealismo de quem fez eco das notícias.

O fenómeno da emigração portuguesa é estrutural com picos conjunturais. A tendência é de ligar o fenómeno ao factor económico, quando existem outros factores, nomeadamente o político, a aventura e o desejo de novos contactos com outras culturas.

Foi assim na década de sessenta/setenta, com milhares e milhares de portugueses em circulação.

Quando o Governo da Coligação apelou aos jovens portugueses, com formação académica, que procurassem oportunidades de trabalho no estrangeiro, sem especificar que espécie de trabalho, caiu o Carmo e a Trindade com as criticas acerbas da oposição socialista, comunista e extrema esquerda.

É certo que sairam para o espaço europeu, que também é nosso, porque pertencemos a uma União, cerca de meio milhão de portugueses, em virtude da crise provocada pela bancarrota socialista.

As críticas políticas e maldosas não foram esquecidas e ouviram-se, no início de funções da geringonça, apelos aos emigrantes para regressarem ao país, porque ia haver condições favoráveis de emprego.

Meses depois, o mesmo que chefiara as críticas do passado,vem apelar aos professores no desemprego, na ordem dos 28.000, que vão dar aulas para França.

Onde está a “boutade” ou a “langue de bois” do Primeiro Ministro António Costa?

No dia 10 de Junho de 2016, na comemoração do Dia de Portugal, em Paris, realizou-se uma cerimónia no Hotel de Ville, ou seja na principal Câmara da cidade luz, um encontro com a presença do PR, do PM e do PR de França.

François Hollande prometeu dar mais incremento ao Ensino do Português em França.

Como estive presente nessa cerimónia ouvi todo o discurso e curiosamente fui o tradutor do discurso para um jornalista dum canal de televisão português, que apenas sabia inglês.

Devo referir que durante os meus 35 anos de docência em França ouvi estas promessas dezenas de vezes, desde PR, PM e Ministros da Educação Gauleses.

Faz parte do cerimonial este tipo de promessas, as quais soam bem e fazem encher o peito de orgulho aos portugueses que as ouvem.

Ouvi isto a Giscard, a Chirac, a Mitterrand e agora a Hollande.

Depois é a abulia completa, a começar no Ministério da Educação, a continuar nos Inspectores das Academias,nos Inspectores Departamentais até aos Directores de Escola ou Reitores.

A exigência dum número mínimo de alunos por curso, a inexistência de salas disponíveis nos estabelecimentos escolares, sobretudo para Cursos Integrados, a ignorância de encarregados de educação, a distância do funcionamento dos Cursos, a carga horária dos alunos, as actividades extra-escolares, com apelativos ATM’s, as dificuldades financeiras do nosso país para pagar salários a docentes, tudo isto ao nível do ensino primário, para passarmos ao ensino secundário, da responsabilidade francesa, com números restritos de estágios profissionais para professores de Português, enquanto Lingua Viva (LV) denominados C.A.P.E.S., número diminuto de alunos a escolherem o nosso idioma, como LV1, LV2 ou LV3, etc.

São atractivos os salários?

Os da responsabilidade portuguesa recebem à hora, conforme o horário dos núcleos que lhes cabem.

O Partido Socialista no poder a partir de 2006 acabou com a mobilidade de Docentes em Comissão de Serviço e Requisição, com remunerações que valiam a pena, passando-os a contratados,
sobretudo locais, com salários que levou um Professor Contratado, que me substituiu no Liceu Montaigne, de Paris, a dizer que tinha vergonha que a sua filha em Portugal o fosse visitar, por causa da casa onde residia, tão exiguo era o estúdio, mas cuja renda já era elevada para o seu rendimento.

Em França o máximo que atingimos foi no tempo da AD, em 81, com 462 professores, que leccionavam 2600 cursos, com 55.000 alunos e estes eram apenas 50% dos alunos portugueses escolarizados no sistema francês e a França responsabilizava-se por 20.000 alunos, dos quais 4.000 eram franceses, em LV1, LV2 e LV3.

Portugal realizava exames a cerca de 5000 alunos anuais, desde equivalências de estudo até ao Curriculum Completo Português e 12° ano a nível nacional.

Tudo isto o PS deu por findo.

O que temos para o ano lectivo de 2016/17?

Temos 90 docentes para 15.000 alunos, e 6 secções internacionais em toda a França.

A França oferece ensino do nosso idioma em cerca de 200 estabelecimentos do ensino secundário, enquanto LV.

Agora pergunto ao PM António Costa: que vão fazer os professores desempregados de Portugal para França? Certamente “faire la manche” nos corredores do Metro!

O que peço eu aos professores desempregados? Não acreditem nem nas autoridades portuguesas nem francesas.

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