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Cada vez que escrevo

Cada vez que escrevo para o Público tenho de cortar bastante do que tinha escrito à partida e fico sempre frustrada.

Ainda algumas notas por aqui:

– Só mais uma achega sobre o uso inadequado do termo “abuso” para falar de violência sexual, a Miriam Ben Jattou utiliza o exemplo do sabão, abusar do sabão é utilizar demasiado sabão, até que este desapareça ou quase, mas podemos pensar noutros exemplos, como comer demasiado, “abusar dos fritos”, “abusar dos doces”. Significa que há uma forma moderada de o fazer. Ora, no caso dos abusos sexuais na Igreja não existe uma forma moderada de violência sexual contra menores (nem contra ninguém, aliás).

– Sobre o celibato, que merecia um texto autónomo, é evidente que estamos diante de pura diversão quando se começa a falar disto logo a seguir à questão das violências contra menores ou da pedocriminalidade. Grande parte das violências sexuais contra menores é perpetrada por homens casados, nomeadamente em contexto de incesto, e a pedo-criminalidade não tem nada a ver com o celibato. Um padre “aflito” pode ter relações esporádicas ou permanentes consentidas com pessoas adultas, pode utilizar a mãozinha, pode comprar sextoys, alguns são até bastante realistas. Se a Igreja não quer acabar com o celibato e está preocupada com o bem estar dos seus servidores pode patrocinar estes dispositivos. Quando se agride sexualmente alguém e nomeadamente menores o objetivo não é o de aliviar “tensões naturais”, mas o de exercer poder. E falar também aqui especificamente da questão da pedo-criminalidade seria demasiado longo.

Em França, já passámos por todo este debate e já se avançou em algumas questões ainda embrionárias em Portugal. Vale a pena ler o relatório da Comissão independente que tratou disto. Sobre o celibato, declaram que a única relação com a questão das violências sexuais a menores é a de que o padre aparece como um ser heroico, que consegue resistir às tentações terrestres e isso atribui-lhe um estatuto de admiração, confiança, autoridade, etc.

Luísa Semedo

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