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Apetecia-me algo

© Oxalá Editora

Apetecia-me algo. Juro que hoje me apetecia algo…

Como não tenho por perto um Ambrósio que me diga…

– Tomei a liberdade de pensar nisso senhor. – carregando logo de seguida num botão que baixaria uma pequena e luxuosa porta, em forma de prateleira, por onde deslizaria uma, também pequena, pirâmide de diabetes em forma de chocolate e amêndoa crocante, terei então de ser eu a descobrir esse misterioso desejo.

Há um vazio dentro de mim que precisa ser preenchido com algo que vá ao interior da minha alma, e exercite os meus mais profundos e misteriosos sentimentos.

Uma espécie de luz que não se extingue, nem mesmo quando, nas sombras do passado há dor e escuridão, e essa luz se apresenta como um caminho que, não importa as atribulações que nele seja preciso contornar, me há de guiar de novo há esperança.

Uma luz que em nenhum lugar se extingue.

Apetecia-me algo. Juro que hoje me apetecia algo.

Quando assim é, eu sei que a resposta está num livro, e para a obter, terei de ler esse livro, não sabendo, no entanto, se é nesse livro em particular, onde o mistério se há de revelar.

Sei que não será no livro que nestes últimos dias ando a reler, não negando no entanto, que da leitura que lhe dedico antes de apagar a luz para dormir, dele bebo momentos de prazer, e um conforto que só os amantes da leitura conseguem compreender.

É certo de que vou continuar com a leitura de, “O Reino da Noite” de Robert Gaillard, mas agora…neste momento Ambrósio…apetecia-me algo.

De frente a esta prateleira de livros, sei que a resposta estará algures por aqui.

O ideal seria, um livro de poesia.

Sei que não posso, ou não devo, meter a mão na prateleira de cima, porque essa é preenchida com os livros de José Saramago, indo de facto até mais ou menos a meio da segunda prateleira.

O espaço entre os livros do grande Mestre, até à ponta da segunda prateleira, é reservada aos livros do Alfie, que apesar dos seus tenros dois anos de idade, mostra um entusiasmante interesse pelos livros, ainda que estes sejam coloridamente próprios da sua idade.

Aqui está. Pego nele. Bem sei que ainda recentemente o li.

Mas… há mais de trinta anos que ouço “The Wall” dos Pink floyd e continuo a adorar o álbum.

Há coisas que são intemporais. Que se podem ouvir ou ler, ao longo da vida, e de todas as vezes se colhe o mesmo prazer de sempre, porque de todas as vezes há algo de novo que se revela de maneira fascinante. 

A Luz Em Nenhum Lugar Se Extingue é, para mim, um antídoto às atribulações da alma e da condição humana, que como todos deveremos saber, tem a eterna mania de se meter em situações obscuras, por vezes complexas, precisando assim, de uma luz que em nenhum lugar se extingue, servindo de guia para a continuação da nossa jornada no emaranhado mecanismo dos sentimentos.

“É esta a tua vontade, desejar percorrer o chão dos poetas. Perderes-te no território das palavras e emergir da dor e do desamparo.”

“Deixa o coração falar. Despoja-te dos pesos desnecessários da vida. Escuta a tua voz interior. Permite-te escutar o som do silêncio. Sente a leveza do amor e da luz.”

Não é maravilhoso ler algo como isto? É quase como um mapa que nos indica o caminho da felicidade. 

Da primeira vez que li estas linhas do poema, gostei. Fez-me sentir bem, mesmo não sabendo bem o verdadeiro porquê de me terem tocado estas palavras.

Mas desta vez, as palavras são as mesmas, mas o sentido poético e ao mesmo tempo filosófico, revela-se como algo de novo. Esta é a magia da arte e de quem tem o dom de a revelar.

– Apetecia-me algo…Ambrósio. Não…não paramos para comer algo. Apetece-me reler o livro de São Gonçalves, A Luz Em Nenhum Lugar Se Extingue. Por isso…continua a conduzir por aí, sem destino.

No reino da imaginação… tudo é possível.

António Magalhães 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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