Amor como escolha: A importância do respeito e da consciência na relação

As relações não são contratos de permanência, mas sim escolhas diárias. Ninguém é obrigado a ficar onde não se sente bem, mas mais do que isso, uma relação deve ser o melhor sítio para se estar. E, para que isso aconteça, é essencial perceber que, mesmo nos momentos de maior irritação ou desentendimento, podemos chamar a atenção do outro com amor e não com turbulência, o falar alto, ser impulsivo, explosivo… podem realmente quebrar e prejudicar a comunicação, e a própria mensagem que se deseja passar. Por muito que se tenha a razão, sempre que a mensagem passa a ser mais agressiva, o outro vai assimilar mais facilmente essa agressividade do que propriamente tentar compreender o parceiro e a mensagem que ele quer transmitir.
Muitas vezes, quando algo nos incomoda, reagimos por impulso, esquecendo-nos de que o tom da nossa voz e a forma como nos expressamos podem ser a diferença entre afastar ou aproximar. A raiva, a acusação e a cobrança criam distância, enquanto o respeito e a comunicação consciente fortalecem os laços. No final, uma relação não deveria ser um campo de guerra, mas sim um espaço seguro onde ambos se sintam valorizados e compreendidos, para que possam funcionar como uma equipa.
Contudo, há um erro comum que muitas vezes se infiltra silenciosamente: a tentativa de moldar o outro à nossa vontade. Sem nos apercebermos, exigimos mudanças, não porque o outro precise realmente delas, mas porque acreditamos que, dessa forma, as nossas próprias feridas e inseguranças serão preenchidas, claro que, pode sempre acontecer sempre alguma idealização, aquilo que desejamos encontrar no outro, que preencha de certa forma o que sentimos que nos falta, no entanto, que seja um complemento e uma extensão, não uma substituição, caso contrário, podemos cair na dependência.
Procuramos no outro uma solução para as nossas dores, esquecendo-nos de que essa responsabilidade é nossa. O amor saudável não impõe, não força, não exige. Ele orienta, aconselha, partilha perspetivas, mas nunca oprime. Amar alguém é compreender que essa pessoa não existe para suprir todas as nossas necessidades emocionais, mas sim para caminhar ao nosso lado, na sua própria individualidade. E para que juntos, criem uma dinâmica de crescimento mútuo.
No fim, uma relação só pode prosperar quando ambos se sentem livres dentro dela. Quando a presença é uma escolha e não uma obrigação. Quando se percebe que o amor não sobrevive de cobranças, mas sim de respeito, paciência e da consciência de que o outro é, antes de mais, um ser humano autónomo, com as suas próprias dores, necessidades e caminho a percorrer.
Por isso, antes de exigirmos do outro aquilo que nos falta, devemos perguntar a nós próprios: estamos a amar ou a querer preencher um vazio?
Sempre que elevamos a voz desejamos ser ouvidos… mas isso acaba quase sempre por não se suceder. Se calhar, devemos repensar no que desejamos realmente, sempre que queremos ser ouvidos, devemos questionarmo-nos, será a mágoa passada da minha infância onde senti que as minhas necessidades não foram atendidas? Desejo que seja o outro a repará-la? Será o meu interior magoado que deseja ser curado? Muitas vezes o que procuramos no outro não é o outro em si, mas sim a ilusão de que ele pode dar um sentido ao nosso vazio, o problema é que ninguém pode preencher completamente a falta do outro, porque essa falta é estrutural, faz parte da nossa subjetividade.
Temos que compreender que se isso está a acontecer, existe muito em nós que precisa de ser entendido, pois muito facilmente pode ser o gatilho para destruir a dinâmica relacional.
A relação deve ser um espaço onde possamos também ser melhores, onde deve existir presença, cuidado… mas não deve ser uma procura incessante por algo que sentimos que nos faltou, e que alguém tem que dar. Ninguém é de ninguém, e ficar com o outro é uma escolha. O amor respeita a falta, não a tenta apagar, encontra prazer na troca, no encontro real entre duas pessoas que se desejam, mas que não se anulam um no outro. O amor acontece de forma saudável quando reconhecemos as nossas faltas e vazios, mas percebemos que o outro não existe para as preencher.
Da próxima vez que levantares a voz, lembra-te que o outro não é obrigado a ficar, o amor só se torna saudável, se tu fores o melhor lugar para morar.