
Apesar de alguns dos leitores saberem que sou militante do Partido Socialista e que fui o primeiro suplente na lista do PS pelo círculo da Europa, começo por aqui para fazer uma declaração de interesses antes de escrever este artigo. Ontem foi, indiscutivelmente, uma noite difícil para nós, socialistas. No entanto, não escrevo hoje para lamentar derrotas, mas para expressar a minha perplexidade diante de um cenário eleitoral em que os eleitores portugueses parecem estar a premiar um partido que, a muitos níveis, se apresenta como a pior opção disponível.
Compreendo, até certo ponto, a desilusão de alguns eleitores face aos partidos que há mais tempo marcam a nossa democracia. Foi precisamente essa inquietação que me levou a juntar-me ao movimento interno do Partido Socialista, “Democracia Plena”, e a persuadir Daniel Adrião a candidatar-se à liderança do partido pela terceira vez – desta vez contra Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro.
Os tempos que vivemos exigem que haja, no Partido Socialista, uma minoria capaz de agir como consciência crítica e influenciar a maioria a promover as mudanças necessárias.
Se compreendo o sentimento de revolta, já não consigo entender a solução escolhida. Por um lado, ao analisarmos o “currículo” dos deputados e dirigentes do Chega, torna-se evidente que muitos deles não têm percursos profissionais de excelência nem são tão sérios como apregoam. Além disso, os processos internos de funcionamento do partido são tudo menos transparentes e meritocráticos. Um exemplo claro disso é o facto de nem sequer terem divulgado a lista de deputados eleitos, demonstrando um claro desrespeito pelos eleitores. Por outro lado, nunca houve tantas alternativas viáveis aos partidos tradicionais. Os chamados “partidos novos”, como o Livre e a Iniciativa Liberal, apresentam quadros muito mais qualificados e preparados do que o Chega, mas, curiosamente, essa superioridade não se reflete nas urnas.
Compreendo que, em tempos de instabilidade, muitos portugueses possam sentir-se tentados a votar no partido que representa o maior caos, aquele que esconde os seus candidatos à Assembleia da República. No entanto, numa democracia madura, esse comportamento não deveria ser aceitável. Não mereciam sequer um voto, muito menos o apoio significativo que receberam!
Aos partidos que irão compor a nova Assembleia da República cabe agora aprender uma lição fundamental: ou escolhem afastar-se do caos e contribuir para a estabilidade e a resolução dos problemas do país, ou continuarão a caminhar, ALEGREMENTE, DE VOTO EM VOTO, RUMO AO PRECIPÍCIO.
Tiago Corais
Candidato pelo círculo eleitoral da Europa pelo Partido Socialista. Bracarense, residente em Oxford, Reino Unido, há uma década. Engenheiro especializado na indústria automóvel, com vasta experiência em desenvolvimento de produtos, gestão de projetos e inovação tecnológica. Ativista político desde a juventude, exerce funções como autarca, conciliando esta atividade com sua carreira profissional, ocupando atualmente o cargo de Deputy Lord Mayor na Câmara Municipal de Oxford, onde se dedica a promover o bem-estar da comunidade e a sustentabilidade urbana.