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Venezuela caminha para eleições em clima de crise

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Organizações não-governamentais alertam para uma degradação da crise política, económica e social na Venezuela, enquanto o país se prepara para duas eleições debaixo de sanções internacionais e em clima de desconfiança entre os principais atores.

Segundo um novo relatório do International Crisis Group (GC) a crise política, a falta de diálogo entre o Governo e a oposição e as sanções internacionais ameaçam agravar a situação económica na Venezuela, que vai ter eleições presidenciais em 2024 e legislativas em 2025 “em condições que favorecem claramente” Nicolás Maduro.

“Com alguns políticos da oposição desqualificados, partidos sequestrados e sem a presença de observadores eleitorais profissionais, umas eleições nos termos do Governo deixariam a crise por resolver e a maioria das sanções norte-americanas em vigor, ameaçando agravar a terrível situação económica do país”, adverte o documento.

Sete anos depois do eclodir da crise, a Venezuela regista uma emergência humanitária complexa que forçou mais de 7 dos 30 milhões de venezuelanos a abandonar o país e outros 19 milhões a migrarem internamente à procura de melhores condições de vida.

O relatório lembra ainda que a legitimidade das presidenciais de 2018 foi questionada, alertando que “a miséria económica da Venezuela poderá agravar-se, exacerbando uma emergência humanitária já de si terrível e empurrando mais migrantes a juntarem-se aos 7 milhões que deixaram o país”.

O IGC afirma que “sob pressão do governo”, os reitores do Conselho Nacional Eleitoral demitiram-se, abrindo a porta para que o parlamento, de maioria chavista, “nomeie as novas autoridades eleitorais, correndo o risco de exacerbar a desconfiança em relação ao sistema de votação”.

A decisão “de impedir a candidatura da principal candidata da oposição, Maria Corina Machado”, tem levantado “suspeitas de que as eleições vão ser tendenciosas”, adianta.

Segundo o ICG, “a crescente desconfiança entre os EUA e a Rússia na sequência da guerra na Ucrânia reforçou o ‘status quo’ da Venezuela, impedindo a cooperação entre os dois países”.

No novo relatório, o IGC insta a comunidade internacional a pressionar para a retoma urgente das negociações e Washington a “intensificar a diplomacia bilateral com Caracas, a oferecer um alívio tangível das sanções, para tentar persuadir Maduro a regressar às conversações e a fazer concessões eleitorais para evitar um aprofundamento do conflito”.

“Embora o país tenha registado uma recuperação económica modesta em 2022, enfrenta novamente uma recessão e inflação elevada, exacerbadas por uma corrupção alarmante e pelas sanções dos EUA. No entanto (…) Maduro não está disposto a afrouxar o seu controlo”, explica.

O relatório sublinha ainda que os países da América Latina devem ter “um papel muito mais destacado como mediadores diplomáticos”.

E explica que, em 2022, o Governo e a oposição concordaram em descongelar parcialmente os ativos do Estado venezuelano no estrangeiro e transferi-los para um fundo de ajuda humanitária administrado pela ONU, e Washington deu luz verde à petrolífera norte-americana Chevron Corporation para extrair petróleo venezuelano e exportar para os EUA.

“Este acordo injetou dólares na economia venezuelana (…) mas em vez de gerar confiança foi seguido por meses de paralisia e crescente desconfiança mútua”, precisa.

Também “dificuldades técnicas e a relutância dos EUA atrasaram a criação do fundo e, embora os obstáculos tenham sido ultrapassados, o governo de Maduro tem recusado retomar as conversações formais até que o fundo esteja operacional”.

Segundo a ONG HumVenezuela, a crise tem tido efeitos devastadores na vida das pessoas: “para a maioria da população, não é possível cobrir um nível mínimo de necessidades vitais”, enquanto é “alta a vulnerabilidade a riscos pessoais, incluindo abusos e violência”.

O Comité Internacional de Resgate – Venezuela defende que são necessários mais fundos para assistência humanitária e alerta que pelo menos 12,3 milhões de venezuelanos enfrentam insegurança alimentar, que o sistema de saúde está sobrecarregado e que a alta inflação tem tornado os medicamentos inacessíveis para 9,3 milhões de cidadãos.

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