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Uma comunicação social distante da realidade

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As eleições legislativas de 18 de maio merecem de todos nós uma profunda reflexão sobre vários temas. Afinal, aquilo que era uma possível disputa entre o PSD/CDS e o PS pelo primeiro lugar tornou-se numa corrida pelo segundo lugar entre Chega e PS.

Ouvimos Alexandra Leitão, minutos antes de conhecermos as projeções com os resultados das eleições, dizer que as sondagens não costumam transmitir a realidade dos votos do Partido Socialista, apontando sempre um menor resultado para os Socialistas do que aquele que se verifica na realidade. É caso para dizer que tinha razão em metade do enunciado. As sondagens falharam redondamente, mas porque demonstravam um PS confortável na segunda posição, quando na verdade o conforto poderia ser na terceira posição. 

A culpa desta derrota do Partido Socialista tem dois nomes principais: Pedro Nuno Santos e António Costa. Pedro Nuno Santos assumiu a liderança do PS num contexto difícil, após uma queda de uma maioria absoluta liderada por António Costa. Depois de oito anos de governação de esquerda, o PS que Pedro Nuno assumiu deixou um legado de problemas de fundo para Portugal, uma crise na Habitação, uma crise na Saúde, uma crise na Imigração descontrolada, entre outros problemas estruturais graves. Já se sabia, à partida, que Pedro Nuno não teria uma vida fácil como Secretário-Geral do Partido Socialista, fruto do seu passado político, tendo até sido demitido no Governo de António Costa.

Note-se que foram os militantes do PS que preferiram entregar o rumo do partido a Pedro Nuno Santos, ao invés de o entregarem a José Luís Carneiro, que, na minha opinião, estava mais capacitado para liderar um partido fundador da Democracia. Assim sendo, deve também atribuir-se esta responsabilidade pelo desmoronar do PS aos seus próprios militantes. Pedro Nuno Santos não fez nem mais nem menos do que aquilo que se estava à espera. A falta de apoio de figuras “de peso” contribuiu para esta pesada derrota do PS. Enquanto o PSD conseguiu reunir os seus grandes líderes, desde Manuela Ferreira Leite, Pedro Passos Coelho, Aníbal Cavaco Silva, entre outros, Pedro Nuno Santos teve até que lidar com oposições implícitas de Sérgio Sousa Pinto e Fernando Medina e com uma quase saída de José Luís Carneiro das listas dos candidatos a Deputados. Se o próprio partido parecia não apoiar o seu líder, como seria possível que os eleitores confiassem. 

Há, também, que se reconhecer o bom trabalho que Luís Montenegro fez nos seus onze meses de Governo. Conseguiu recuperar os votos da população mais velha, que estava há anos de costas voltadas com o PSD por conta das políticas de Pedro Passos Coelho. Não era uma tarefa fácil, pelo que se lhe deve reconhecer este mérito. Além disto, saiu reforçado destas eleições, mesmo que o motivo que as originou tenha sido uma polémica em torno de si mesmo e de negócios familiares. O PSD/CDS obteve um crescimento face às eleições legislativas do ano passado, o que demonstra o contentamento dos portugueses com o curto mandato que desempenhou no Governo, tendo agora a oportunidade de estabilidade para uma governação reformista, algo que o país bem precisa. Luís Montenegro não tinha estabilidade para Governar, na medida em que o Parlamento estava profundamente fragmentado e os líderes da oposição pareciam não querer cooperar nesta estabilidade, e não é que agora a tenha, mas certamente irá encontrar um Partido Socialista mais disponível para conversar do que o PS de Pedro Nuno Santos.

Passando agora para um dos temas principais destas eleições, o crescimento do Chega, que, como tudo indica, com os votos dos emigrantes, ascenderá à segunda força política em Portugal. Bom, se olharmos para as sondagens que vinham sendo publicadas, devemos ficar surpreendidos com estes resultados. Contudo, atendendo à verdadeira realidade, seria de esperar que o Chega atingisse resultados surpreendentes. Levando à letra o que diziam os telejornais, os espaços para comentários políticos, até mesmo muitos jornalistas que não souberam ser objetivos, o Chega nunca poderia ser a segunda força política em Portugal. Fica, assim, evidente a completa irrealidade que paira na comunicação social. A representatividade do Chega e da direita nas televisões não condiz com a sua representação na Assembleia da República. Dizem-me, será que o Chega tem capacidade para ter comentadores nas televisões, isto é, sendo um partido de um homem só, será possível que outros para além do próprio integrem os painéis de comentário político? A minha resposta é: até que ponto as televisões têm dado abertura para que pessoas afetas ao Chega e à direita entrem nesses espaços. É que para que tal aconteça, as próprias televisões têm de convidar essas pessoas. E o mesmo não parece estar a acontecer. E o resultado está à vista, uma enorme desproporção entre a realidade televisiva e a pura realidade dos portugueses. Não é novidade para ninguém que os espaços televisivos estão “apinhados” de comentadores políticos ligados à esquerda. Talvez, por isto, os resultados das eleições não condigam com aquilo que recorrentemente se ouve nas televisões e que, como deveria ser, transmite a realidade da população. A comunicação social deve, agora, fazer uma profunda reflexão do seu trabalho, do tempo de antena que dão e têm vindo a dar a partidos e opiniões de esquerda. Não digo, com isto, que por conta da maior representatividade da direita no Parlamento se deve deixar de fora do espaço televisivo as opiniões e comentadores ligados à esquerda. Nada disso. Digo apenas que tem de haver uma atualização da realidade e do pensamento dos portugueses. O crescimento de partidos radicais deve-se em parte à profunda descrença pela comunicação social. À descrença pelo que são os comentários políticos, que parecem resistir à realidade popular. Se não houver esta reflexão, também a comunicação social deverá ser responsabilizada pelo progressivo e promissor crescimento de forças radicais. 

O Chega atingiu uma proporção tal que já não se pode dizer que os seus eleitores são racistas, xenófobos, de extrema-direita, pouco inteligentes. Essa desculpa para disfarçar o progressivo crescimento deste partido já não “cola”. Os comentadores políticos que o continuam a afirmar não estão a prestar um bom serviço à Democracia. Até porque a Democracia é isto mesmo, respeitar as diferentes opiniões da população, que é livre de eleger quem entende melhor representar os seus interesses e necessidades. Partilho da opinião que quem vota no Chega não está a pensar nas soluções que o partido tem para o país. Vota, sim, porque concorda com as críticas que André Ventura faz, com os problemas que enuncia, que não são mais do que as queixas recorrentes das pessoas. A Imigração é um exemplo visível do porquê do crescimento do Chega. Vê-se em Portugal um aumento desregulado da Imigração. Os portugueses não são contra a imigração, são sim contra a imigração desregulada. O Partido Socialista, com as suas políticas de “portas escancaradas”, motivou o aumento desta imigração ilegal, da vinda para cá de pessoas que não sabemos quem são, desconhecemos o seu passado, e o PSD tardou em perceber que este era um problema que incomodava os portugueses. André Ventura, com a sua habitual perspicácia, cavalgou sobre este assunto, fazendo até com que agora se diga que o PSD se está a apropriar de ideias do Chega. Se não forem tomadas medidas imediatas pelo novo Governo e que os portugueses sintam no seu dia a dia, estou certo de que o Chega tem ainda muito a crescer. Porque quem é partido de oposição tem o trabalho facilitado, na medida em que apenas tem de apontar os problemas, e não as soluções. Sendo o PSD um partido de estabilidade, moderado, com capacidade notória para governar o país, deve agora aproveitar a oportunidade que os eleitores lhe deram para resolver este problema premente, de forma humanista, mas com a força certa para pôr fim ao problema que o Governo de António Costa criou. Só assim Luís Montenegro poderá conter o acentuado crescimento do Chega. 

Agora que o Chega se enquadra no panorama político como a segunda força mais votada, veremos como o Governo irá garantir a estabilidade que o país bem precisa. Não defendo que se crie um bloco central, que, para além de não parecer a vontade dos portugueses como demonstram os resultados das eleições, não seria benéfico para o PSD e PS. Defendo, sim, que o Governo de Luís Montenegro tenha a capacidade de dialogar com os dois partidos da oposição, de forma a criar condições para aprovar os Orçamentos de Estado, bem como demais iniciativas, e garantir que terá um mandato de quatro anos, como assim deve ser.  

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