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Um sonho requintado

“No Tavares, ainda solitário àquela hora, um moço areava o sobrado. E enquanto esperava o almoço, Ega percorreu os jornais. […] Ega sorriu, cofiando o bigode. Justamente o bife chegava, fumegante, chiando na frigideirinha de barro. Ega pousou a Gazeta ao lado, dizendo consigo: ‘Não é nada malfeito, este jornal!’”

Eça de Queirós, Os Maias, 1888

Um dos restaurantes mais antigos do mundo é português, está na capital e é saudado pela sua graciosidade.

Datado de 1784, no coração do Chiado, este restaurante de nome Tavares, ou Tavares Rico, junta Portugal à lista de países pioneiros na área da restauração.

Nos seus primórdios, começando o negócio com o nome de Talão, ficou famoso ao servir refrescos, bebidas e ovos fritos. O local ficou marcado pelo período conturbado de conflitos entre miguelistas e liberalistas, onde subsistiam suspeitas de o local apoiar os opositores ao Rei D. Miguel que se apoderou do trono da Rainha Dona Maria II.

No ano de 1861, o espaço foi comprado por Vicente Marques Caldeira, que estava determinado em transformar aquele restaurante no local mais requintado e luxuoso de toda a Lisboa. Vicente Marques Caldeira e o seu filho conseguiram ir mais longe, transformando o local num dos exclusivos de toda a Europa.

O próprio Eça de Queirós fez referência às refeições do mesmo no seu romance “Os Maias”, datado de 1888, sendo o restaurante igualmente eternizado nas obras de Camilo Castelo Branco. Entre outros, o local guarda na memória alguns ilustres nomes que o frequentavam regularmente como Fernando Pessoa, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro ou Sidónio Pais.

Em 1940, infelizmente este restaurante abriu falência, sendo o seu recheio leiloado em hasta pública. São 200 anos carregados de história, passando de mãos em mãos até os dias de hoje, mantendo-se um ícone de gastronomia e arquitetura. Em 2009, recebeu uma estrela Michelin nas mãos do chef José Avilez.

Na ementa principal pode-se degustar algumas especialidades requintadas de peixe e carne, para finalizar uma ementa de sobremesas com sabores frescos e texturas variadas, além de uma carta de vinhos diversificada.

Neste momento o restaurante encontra-se fechado para reabilitação, sem data estimada de reabertura.

Despeço-me com algumas das receitas que mais me apuraram os sentidos.

Polvo assado acompanhado de batata, pimento e azeite

Ingredientes:

1 polvo cerca de 2 kg

2 cebolas grandes

4 dentes de alho

200 ml de azeite

2 colheres (sopa) de vinagre

1 colher (sobremesa) de pimentão-doce

Pimentos morrone q.b.

Azeitonas pretas q.b.

Coentros picados q.b.

Sal e pimenta q.b.

Batatas assadas a murro para acompanhar

Preparo:

Disponha o polvo numa panela, cubra-o com água e leve ao lume, deixando cozer por cerca de 50 minutos ou até ficar macio. Desligue o lume, tempere com sal e deixe repousar um pouco.

Escoe o polvo do caldo e coloque-o num tabuleiro. Descasque as cebolas e os alhos, corte as cebolas em meias-luas e lamine os alhos. Disponha à volta do polvo, regue tudo com o azeite e o vinagre e tempere com o pimentão-doce, sal e pimenta.

Leve ao forno, pré-aquecido a 180ºC, até ficar dourado e apurado. Retire do forno e transfira para uma travessa. Junte batatas assadas a murro, pimentos morrone e azeitonas e cubra com a cebolada e o molho do polvo. Sirva de seguida, salpicado com coentros picados.

Arroz de Pato com enchidos de fumeiro

Ingredientes:

1 pato médio

350 g de arroz agulha

100 g de chouriço de carne

70 g de bacon

1 cebola

2 dentes de alho

1 dl de vinho branco

2 colheres (sopa) de azeite

1 colher (café) de pimenta em grão

1 folha de louro

Sal q.b.

 Preparo:

Coloque o pato numa panela, com a folha de louro, os grãos de pimenta, metade da cebola, o chouriço e o bacon, acrescente água até cobrir bem, leve ao lume e deixe cozinhar até o pato ficar macio. Retire o pato e guarde os enchidos e o caldo da cozedura.

Esfiape o pato, coloque os ossos e as peles num tabuleiro e leve ao forno pré-aquecido a 200ºC até ficar douradinho. Junte depois os ossos ao caldo, leve de novo ao lume e deixe ferver até a água ficar mais escura.

Leve tacho ao lume com o azeite, a restante cebola e os alhos picados e deixe refogar um pouco. Junte o vinho branco, o caldo e o arroz, mexa bem, deixe cozer em lume brando e retifique o sal. Espalhe metade do arroz num tabuleiro, adicione o pato, cubra com o resto do arroz e disponha por cima o chouriço em rodelas e o bacon em pedacinhos. Leve ao forno a 180ºC cerca de 10 minutos ou até alourar e sirva quente.

Créme brûlée de baunilha

Ingredientes:

8 dl leite

200 g açúcar

60 g farinha maisena

8 gemas

1 fava de baunilha

1 casca de limão

açúcar em pó para polvilhar

Preparo:

Leve ao lume o leite com as sementes que retira da fava de baunilha e a casca de limão e deixe ferver. Retire do lume e reserve.

Numa tigela, bata o açúcar com a farinha maisena, junte as gemas e bata novamente. Adicione depois o leite em fio, mexendo sempre muito bem. Leve novamente ao lume, mexendo sempre até engrossar. Retire do lume e retire a casca de limão.

Distribua o creme por taças e deixe arrefecer. Na hora de servir, polvilhe com um pouco de açúcar em pó e queime com um ferro próprio para o efeito.

Dévora Cortinhal

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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