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Portugueses e espanhóis querem espigueiros como património da UNESCO

© DR

A rede transfronteiriça Horrea, constituída por investigadores e associações de Portugal e Espanha, quer candidatar os espigueiros existentes nos dois países a Património Imaterial da UNESCO.

Em Espanha, nomeadamente na Galiza, Astúrias, Cantábria e Leon, o processo começou em 2021 e, em Portugal, “o primeiro passo” com vista àquela classificação vai ser dado no II Encontro Internacional Rede Horrea (nome que significa espigueiro em latim), que vai decorrer entre os dias 19 e 21, em Arcos de Valdevez, no distrito de Viana do Castelo.

Em declarações à agência Lusa, o arquiteto Fernando Barros, da organização, explicou que rede Horrea portuguesa vai ser formalmente apresentada naquele encontro, bem a intenção de classificação dos espigueiros existentes no norte e centro do país como Património Imaterial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

“É a primeira manifestação pública do trabalho que temos vindo a desenvolver nos últimos dois anos para atingir uma classificação importante não só pela relevância dos espigueiros na economia local e, na identidade dos espaços onde estão localizados, como por estarmos a sentir que este património e os saberes construtivos a ele associados se podem perder face à desertificação das aldeias e ao abandono de práticas agrícolas”, sublinhou o investigador.

A rede Horrea dedica-se ao estudo, preservação e valorização de estruturas de armazenamento de produtos agrícolas na Península Ibérica, nas suas várias tipologias, desde espigueiros, celeiros, canastros, canastros de varas (mais antigos), caniços, palheiros e sequeiros.

Os espigueiros são estruturas retangulares, também chamadas de canastro, caniço ou hôrreo, normalmente construídas em pedra, sobretudo granito e madeira.

A sua função é secar o milho grosso através das fissuras laterais, e ao mesmo tempo impedir a destruição deste por roedores através da elevação da construção e da dimensão dos apoios.

“O objetivo da Rede Horrea é classificar não apenas o património construído, mas também o imaterial, de caracterização da paisagem, dos saberes construtivos, de como trabalhar a pedra, a madeira e outros materiais”, especificou o Fernando Barros.

Em Portugal, além de Fernando Barros, que representa o Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, fazem parte da rede Horrea Alice Tavares, arquiteta da Universidade de Aveiro e presidente da Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Proteção do Património (APRUPP), e a Associação dos Amigos dos Hórreos, das Astúrias, que iniciou, em Espanha, o processo de classificação.

“Espanha já tem o processo mais adiantado, e não queremos que Portugal fique fora da classificação. Estamos abertos a que outros investigadores e outras associações se juntem a nós para estarmos na primeira linha deste processo”, apelou Fernando Barros, acrescentando que a Horrea já iniciou contactos com as Câmaras Municipais do norte e centro do país, onde existem espigueiros, tendo obtido resposta de “dezenas de autarquias” interessadas em associar-se ao processo.

“Na região centro, a APRUPP, em colaboração com algumas autarquias já iniciou a inventariação destas estruturas que, por serem património corrente que praticamente todas as famílias rurais tinham nas suas casas, não está identificado”, explicou o arquiteto.

Segundo Fernando Barros, nos últimos anos, algumas autarquias da região centro, em parceria com a APRUPP, fizeram o inventário destas estruturas, trabalho que vai ser apresentado no encontro internacional, em Arcos de Valdevez.

“Há resultados surpreendentes. Municípios que julgavam ter um património residual, em alguns casos, identificaram mais de um milhar de espigueiros”, afirmou, apontando como exemplos as zonas de Viseu, Vale de Cambra e Arouca.

Na “região norte, várias autarquias iniciaram o processo de inventário de arquitetura popular, no âmbito das revisões dos Planos Diretores Municipais [PDM] e já começam a ter os espigueiros identificados e com alguns núcleos classificados”.

No Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), “a aldeia do Soajo, no concelho de Arcos de Valdevez, tem 24 espigueiros na eira do Penedo, que estão classificados como património de interesse público, e no Lindoso, em Ponte da Barca, há 67”.

“Fazendo um inventário apurado facilmente ultrapassaremos os três milhares de espigueiros, só no Alto Minho”, sublinhou o investigador.

O encontro internacional da rede Horrea, conta com o apoio da Câmara de Arcos de Valdevez e é aberto ao público e de acesso gratuito. O programa inclui ‘workshops’ para construção de canastros de varas, praticamente desparecidos, palestras com especialistas internacionais neste tipo de património, e dois dias de visitas a núcleos de espigueiros situados junto ao PNPG.

Há ainda uma visita à aldeia de Sistelo, classificada pela UNESCO como paisagem natural.

“Sistelo está na origem da tradição de construção da paisagem para a cultura do milho, o que fez crescer o número de espigueiros. É uma aldeia interessante para se perceber a transformação da paisagem associada à construção destas estruturas”, indicou Fernando Barros.

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