Português detido no Qatar sem dinheiro e sem possibilidade de trabalhar
César Ferreira trabalhou para a Qatar Airways até ser despedido sem justificação. O visto de residência terminou e esteve detido dois meses no médio oriente, sem saber porquê.
No dia em que César Ferreira tinha marcado voo para Portugal, o processo de saída foi negado e o português acabou por ser detido, como refere a revista Sábado. Foi transferido para as instalações do departamento de investigação criminal do Qatar.
Ficou detido até poder contactar a embaixada portuguesa, seis dias depois. Apenas um mês após a detenção, César foi visitado por um representante do consulado português. Está livre, mas o estado do Qatar não lhe permite arranjar emprego ou sair do país.
César está neste momento a viver à porta da embaixada portuguesa, num espaço de um metro quadrado, onde não tem dinheiro e tem uma refeição por dia. Ainda não conseguiu receber apoio da diplomacia nacional, embora tenha enviado cartas ao Presidente da República, primeiro-ministro, à Assembleia da República, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e a outras embaixadas.
César Ferreira contou à revista que foi detido depois de tecer críticas à gestão da companhia aérea onde trabalhava. “O Akbar Al Baker – dono da Qatar Airways – não gostou da forma transparente, sincera e honesta que partilhei com os meus colegas, recursos humanos e administradores, os procedimentos caóticos e desonestos a que fui sujeito dentro da Qatar Airways”, admite, relatando também que várias pessoas já foram presas por criticar a companhia aérea.
Durante todos os dias, César vestiu a mesma roupa, assumindo ainda que não dormiu no colchão que o dispuseram por ter nojo dele. Optou por um banco de metal.
O MNE revelou à Sábado que acompanha a situação desde o início. Presta “o apoio adequado e tem mantido contacto com a sua família”, tentando garantir alojamento provisório “enquanto o cidadão em apreço se encontra em liberdade condicional, mas impedido de sair do país devido ao decorrer do processo judicial”.
Mesmo em tribunal, César não aceitou a exigência que lhe haviam pedido. “Quando fui a tribunal, disseram me que tinha que pagar uma multa de 8.000 riyals [cerca de dois mil euros] e sinceramente, mesmo se eu tivesse esse dinheiro, não pagava. Porque é uma injustiça que me fizeram só porque este homem, este autarca, tem tanto poder”, conta em entrevista.
Várias organizações não-governamentais têm grandes preocupações com os direitos humanos no Qatar, que se vieram a acentuar com a receção do Campeonato mundial de futebol em 2022 no país. “Todas as semanas, dezenas de empregados da Qatar Airways são colocados em prisão. Um colega meu esteve detido e ainda estava quando eu saí”, conta César.