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Por que não existe extrema direita em Portugal?

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A virtude está no meio! O extremismo depende da distância do centro e também este é variável, se se parte da ideologia dominante numa mundivisão político-social. Numa época em que a crença dominante é a do pensar politicamente correcto, torna-se difícil determinar o que é centro. O extremismo político tem a ver com a rejeição de um Estado constitucional democrático. A extrema esquerda vê no capitalismo e no patriotismo o mal do sistema e trabalha para instalar um novo regime e a extrema direita caracteriza-se, principalmente, por um nacionalismo xenofóbico.

A sociedade portuguesa não corre o perigo de produzir extremismos políticos: os que tem tido são oportunamente importados. É uma sociedade acomodada que se expressa politicamente mais pela boa fé, pela mediania e pelo seu caracter de intermediário (conciliador). Os multiplicadores de ideias e ideologias chegam sempre um pouco atrasados a Portugal; geralmente através de “burgueses” insatisfeitos que se aproveitam das fraquezas do sistema político.

Na incapacidade de se criar um pensamento conservador e um pensamento progressista de matriz própria, importam-se ideologias destemperadas, sem espaço para as temperar ao nosso modo e menos ainda para produzirmos as nossas. Por isso passamos a andar politicamente, como nação, atrás da História, o que, por vezes, também nos poupa as asperezas de alguns erros…

Razões da moderação à direita na sociedade portuguesa

Um país com 20% de pobres e com um milhão de reformados com reformas inferiores a 250€ mensais não é tão homogéneo como parece. Apesar disso mantém-se um país socialmente pacífico, moderado, acolhedor, trabalhador e ordeiro.

O Artigo Artigo 46.º 4 da Constituição (1976) proíbe organizações que representem valores fascistas ou racistas. Na cultura política portuguesa a compreensão democrática é anti-ultra-direitista. Na opinião de comentadores internacionais, a Constituição portuguesa, de coloração socialista, não aplica a mesma medida para as forças comunistas ou anárquicas.

O uso do método d’Hondt nas eleições desde 1975 impede também ele o aparecimento de partidos pequenos e favorece os partidos maioritários (populares). O embargamento da ideologia à direita tem ajudado a impedir a formação de um polo radical com expressão institucional política (ao contrário do que acontece à esquerda) e deste modo impossibilitando a confrontação de extremismos, por ausência de um extremismo militante de direita. Por outro lado, a influência maçónica opera como factor de sustentabilidade a uma facção republicana influente de timbre socialista. Daí uma certa distorção da sociedade portuguesa quanto à percepção do que é esquerda e do que é direita, em comparação com a sociedade da Europa central e norte (p.ex. atitude do PS partido português e SPD partido irmão alemão!).

O Golpe de 25 de Novembro (Ramalho Eanes, Melo Antunes, Jaime Neves, etc.) interrompeu em Portugal a acção dos protagonistas do terrorismo internacional, que tinha entregado as colónias aos grupos de guerrilha comunista. Esta correcção da revolução recusou todo o extremismo, sobretudo o da direita.

A partir do Golpe, deu-se também a uma socialdemocratização de todos os partidos com excepção de alguns partidos da esquerda (Marxista-Leninista, Trotskista e Maoista).

O problema ganhou mais relevância com a Geringonça porque antes o extremismo de esquerda não participava no poder, mas, com o governo de António Costa, o Poder assumiu uma certa radicalização, dado o partido socialista, para formar Governo, ter de conceder muito espaço ao partido Bloco de Esquerda (Marxista-Leninista e Trotskista) que propaga agendas internacionais da marxização da cultura ocidental).

Uma mentalidade portuguesa universalista, respeitadora do indivíduo e da sua expressão pessoal e um espírito católico ainda presente na sociedade portuguesa, têm possibilitado um comportamento moderado e tolerante também entre os partidos.

Quanto mais liberdade no sistema político mais potencialidade se nota para o aparecimento de posições mais individualizadas e também extremas; em Portugal a liberdade encontra-se mais na mão das corporações e o descontentamento social é mais fácil de ser instrumentalizado contra os patrões do que contra a classe política que se iliba de responsabilidades criando uma cultura política do culpabilizar o partido adversário e assim desviar as atenções do cidadão de políticas factuais concisas (principalmente a esquerda comporta-se em tempo útil de governação como se estivesse em permanente campanha eleitoral; a direita é mais cómoda e indolente neste sentido, contando com um certo apoio de muitas pessoas não politizadas).

Um outro factor da moderação social portuguesa deve-se também à circunstância de o regime político tratar bem as suas elites, que uma vez insatisfeitas provocariam instabilidade política. (Portugal tem 220 generais dos quais 114 na reserva; tem tantos generais de quatro estrelas como a Alemanha (quatro). A moderação do povo é acompanhada por uma certa cumplicidade de um corporativismo encostado ao Estado e sem vocação para a população. Desde que os grandes ou pretendentes a sê-lo se encontrem satisfeitos, o povo acomoda-se sempre porque não tem a quem se encostar (como hipérbole observamos no reino animal este fenómeno em relação às hienas, à sua presa e aos outros animais que esperam até que elas se saciem).

Uma outra razão do nosso espírito temperado vem do facto de Portugal ainda não ter tido uma experiência com o islamismo como têm as nações ricas da Europa (na Suécia a viragem é radical). A fragilidade do sistema social português e a pobreza tem colocado Portugal fora da rota da imigração muçulmana.

Por outro lado, o radicalismo da extrema direita verifica-se mais em Estados com experiência das ditaduras socialistas (Veja-se o caso do radicalismo alemão que vem sobretudo da antiga DDR: país do real socialismo e outros países do antigo domínio soviético).

O extremismo político português, vem de fora e é contrário ao génio português que pouco tem de protestante sendo universalista e amante da festa. Recorde-se o radicalismo importado pelo Marquês de Pombal, as invasões francesas, os extremismos pré-república, a acção das forças escondidas por trás da carbonária, o cobarde assassínio do rei e os inícios da república que conduziram à ditadura militar (1926) e, na consequência, os 40 anos do regime autoritário de Salazar que se caracterizava por ocupar o espectro nacionalista e combater os movimentos moderados de esquerda e de extrema esquerda; de não esquecer o comunismo soviético, marxista-leninista e maoista, que esteve na base da revolução do 25 de Abril e que deixou uma opinião pública com conexão à esquerda na sequência de um ideário maçónico socialista.

O desequilíbrio, gerado por uma esquerda destemperada dominante, cria na sociedade um sentimento de insegurança que desestabiliza a ala conservadora da sociedade, fomentando-se assim pequenos grupos à esquerda e à direita que criam a sensação do caos social.

Se observarmos a vida dos líderes das nossas esquerdas, que se arrogam a defesa dos desbeneficiados do sistema, elas continuam com a mentalidade burguesa que combatem ad extra, só que disfarçada numa vida burguesa ad intra, encostada ao Estado. Também este tem sido um factor de resfriamento de extremismos latentes.

O drama português vem do facto de ser um povo demasiado propenso a influências; no regime de Salazar adaptou-se à maneira de ser do Estado Novo e, no que toca à atualidade, interiorizou de tal modo a propaganda do regime de abril que não nota as partes do seu cérebro branqueadas por ele, passando a viver de forma adaptada ao pensar do novo regime, tal como vivia antes em relação ao velho; o que é mas grave na mentalidade actual é o facto moralista de pensar que a sociedade portuguesa pós 25 de Abril é melhor e de mentalidade qualitativamente diferente da do antigo regime. Esta mentalidade leva o povo a viver no equívoco de que a liberdade e a justiça são propriedade da esquerda. Assim se vai embalando uma sociedade em valores e contravalores entre “esquerda” e “direita” sem exigências em termos de eficiências governativas. Vive-se a nível físico social superficial uma paz dos cemitérios com governos que se alternam, mas que, em vez de manterem um equilíbrio com uma certa neutralidade governativa para poderem beneficiar o Estado, o minam devido a uma contínua intervenção pública de carácter jacobino.

Portugal o que tem a menos à direita tem a mais à esquerda; o bem-estar de uma sociedade revela-se mais eficiente quando a relação entre conservadores e progressista é normal e equilibrada. Na discussão política e nos meios de comunicação social chega a ter-se a impressão que há donos da democracia e que a esquerda se tornou, por graça do 25 de Abril (da Geração 68, a nível internacional), no pontífice da interpretação da opinião, determinando substancialmente a opinião pública.

O Extremismo político português é constatável em grupos que o importam, na retórica e nalguma legislação ou regulamentações de carácter ideológico. A inexistência de um CDS e de um PSD fortes, ou melhor, a sua desestabilização significará a desestabilização do PS e uma consequente radicalização da sociedade.

Uma democracia eficiente tem de manter os extremos à direita e à esquerda de maneira a não ultrapassar os 10-15%, doutro modo dá lugar ao caos. Em Portugal, devido à mentalidade do povo, à situação corporativista e ao paternalismo autoritário das forças do Estado, não há perigo de se chegará a ter extremismos violentos como é comum ver-se fora de Portugal. O extremismo é, também ele, comutado num zelo nobilitado de defesa de uma República propriedade imaterial de alguns que de boa vontade a confundem com o bem-comum!

 

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