De que está à procura ?

Colunistas

Paula Rego – A luz e a sombra, uma forma de olhar

A escritora portuguesa Cristina Carvalho tem dedicado uma parte da sua obra a escrever romances biográficos de algumas figuras da literatura mundial e das artes. Desses romances destaco um deles que mais me marcou como leitora; O olhar e a alma — romance de Mondigliani (2015) prémio Autores 2016 para o melhor livro de ficção narrativa. A obra de Cristina Carvalho abarca diversos temas, múltiplas abordagens da condição humana, no entanto, é na dimensão da condição feminina que mais me tem despertado atenção e objeto de leitura. Relembro dois romances onde a escritora explora o mundo feminino no que tem de dramático e poderoso, de fragilidade e força, de silêncios, muitos silêncios, de transcendência e espiritualidade “A casa das auroras” (2011), e “Rebeldia” (2017).

Neste seu mais recente romance, “Paula Rego — a luz e a sombra, uma forma de olhar”, Cristina Carvalho associa o romance biográfico a esta sua capacidade de explorar o universo feminino na voz e na vida da pintora Paula Rego. Ao longo do romance assistimos a uma espécie de diálogo interior entre a escritora e a pintora como se de uma simbiose de almas se tratasse, tal é a forma da qual escritora e pintora sentem e vivem sentimentos e emoções, alegrias e dramas, ao ponto de descrever a sua perda como: “Melancolia é o meu sentimento de perda relativamente a esta artista, figura genial, intemporal, (…) Paula Rego para sempre, enquanto o meu para sempre que sou eu própria existir”.

O romance percorre a vida da pintora desde o nascimento na Ericeira à sua morte em Londres. Aborda as suas relações, sobretudo as familiares, a grande paixão pelo pai e pelo marido Victor Willing, e a relação muito próxima com Lila e Anthony, modelos das suas pinturas. 

A percorrer a vida de Paula Rego também se observa a vida de um país, as mudanças e os sobressaltos, as dificuldades de sobrevivência dos artistas, a condição da mulher e a procura da liberdade no que diz respeito à cidadania, mas sobretudo à liberdade do seu corpo. 

Paula Rego — a luz e a sombra, uma forma de olhar é como o título indica o modo de olhar o mundo com todas as ‘nuances’ e que a escritora Cristina Carvalho iluminou com a sua narrativa. É no meu entendimento, um tributo à obra e à mulher, mas é sobretudo um exercício de memória de mulher escritora para com a mulher pintora. 

“Paula Rego — a luz e a sombra, uma forma de olhar” de Cristina Carvalho é um edição Relógio D’Água.

São Gonçalves

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA