O Papa apelou à união da Europa para travar o “inverno demográfico” e o “inferno da guerra”, que classificou como “duas calamidaes”, falando perante responsáveis políticos e representantes da sociedade civil, em Bruxelas.
“Como é grande a pequena Bélgica! Percebe-se como a Europa precisa dela para se lembrar da sua história, feita de povos e culturas, de catedrais e universidades, de conquistas do engenho humano, mas também de muitas guerras e de uma vontade de domínio que, por vezes, se converteu em colonialismo e exploração”, indicou, falando esta sexta no Castelo de Laeken, residência oficial da família real belga.
“Estamos perto de uma guerra… quase mundial”, advertiu.
No primeiro discurso da viagem ao país, iniciada na noite de quinta-feira, Francisco evocou a história da II Guerra Mundial (1939-1945) e o processo que levaria à criação da União Europeia, num “sério caminho de pacificação, colaboração e integração”.
A Bélgica, sublinhou, “surgiu como lugar ideal, quase uma síntese da Europa, de onde partir para a sua reconstrução, física, moral e espiritual”.
“Poder-se-ia dizer que a Bélgica é uma ponte: entre o continente e as ilhas britânicas, entre as regiões germânicas e francófonas, entre o sul e o norte da Europa. Uma ponte para permitir a expansão da concórdia, fazendo retroceder os conflitos”, declarou.
“Uma ponte que favorece as trocas comerciais, estabelece a comunicação e faz dialogar as civilizações”, acrescentou.
Um lugar onde se aprende a fazer da própria identidade não um ídolo ou uma barreira, mas um espaço hospitaleiro de onde partir e aonde regressar, onde promover intercâmbios válidos e procurar juntos novos equilíbrios, construir novas sínteses”.
O Papa alertou para as lições da história, quando “se começa a não respeitar as fronteiras e os tratados e se atribui às armas a criação do direito”.
A intervenção apelou ao desenvolvimento de uma “ação cultural, social e política constante e oportuna, corajosa e ao mesmo tempo prudente, que exclua um futuro em que a ideia e a prática da guerra voltem a ser uma opção viável, com consequências catastróficas”.
“Rezo para que os dirigentes das nações, ao olharem para a Bélgica e para a sua história, saibam aprender com ela e poupem assim os seus povos de desgraças e lutos sem fim. Rezo para que os governantes saibam assumir a responsabilidade, o risco e a honra da paz e saibam afastar o perigo, a ignomínia e o absurdo da guerra”, insistiu.
Francisco foi saudado pelo rei e pelo primeiro-ministro da Bélgica, após ter-se encontrado em privado com os monarcas, Filipe e Matilde.