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Os portugueses na Noruega

De acordo com a embaixada de Portugal na Noruega, haverá atualmente cerca de 9 mil portugueses a residir no país, quando há 20 anos não ultrapassavam um milhar. Trata-se, portanto, de uma co-munidade relativamente recente, em que uma parte possui uma formação superior ou qualificações profissionais especializadas. Independentemente do número, no entanto, o que importa considerar é que onde estiver um português é Portugal que está presente e a Noruega não foge a esta regra.

O anterior presidente da República, Cavaco Silva, esteve na Noruega em 2015 e encontrou-se com os portugueses. Por vezes, também a embaixada organiza en-contros com membros da comunidade, particularmente quando governantes ou outras individualidades visitam o país.

Mas nunca, até fevereiro passado, um deputado do círculo da emigração se tinha deslocado expressamente à Noruega para estar com a comunidade, conhecer a sua situação, necessidades e expetativas. Sinto, por isso, uma satisfação muito particular por ter ido ao encontro dos portugueses residentes naquele país escandinavo, que se concentram sobretudo em Oslo, Bergen e Trondheim, mas estão também um pouco espalhados por todo o país, mesmo nas zonas mais frias, já no círculo polar ártico. De resto, há até nessa região, em Andennes, uma fábrica de processamento de bacalhau de uma empresa portuguesa e onde, obviamente, também trabalham ou-tros compatriotas.

Precisamente por ser uma comunidade fora dos circuitos mais comuns das visitas, ganha um significado ainda maior ir ao seu encontro. O pior que pode acontecer às nossas comunidades é sentirem-se esquecidas. E é sempre importante estabelecer estes contactos, não apenas com as comunidades, mas também com os poderes públicos, para que eles percebam que os portugueses não são esquecidos pelas suas instituições, isto não obstante haver também consulados honorários em Bergen, Stavanger, Trondheim e Kristiansand.

Tanto mais que a comunidade na Noruega ganhou outra visibilidade a partir do momento que Hugo Castro Syrstad se empenhou em lançar o movimento associativo no país, de forma a criar um espaço de encontro, solidariedade e coesão entre os portugueses e projetar os valores culturais lusos e lusófonos.

Deve-se a Hugo Castro, um alentejano de Elvas (Vila Fernando), filho de mãe alentejana e pai norueguês, a criação de uma associação em 2012 a que chamou Lusofonia/Bergen, por viver nesta cidade, o que mudou radicalmente o panorama da presença portuguesa no país, que deixou de ser anónima e inacessível. Fê-lo com altruísmo e espírito de abnegação, com determinação para ultrapassar até algumas incompreensões de quem não entendia bem a importância do que estava a nascer. Porém, aquilo que tem construído é da maior importância, o que deve ser reconhecido tanto pela comunidade, principal beneficiário das associações, como pelos poderes públicos em Portugal e na Noruega. Depois da Lusofonia/Bergen impulsionou a criação da Lusofonia/Oslo, hoje presidida por Isabel Costa, que tem uma atividade cultural regular e intensa. Mais tarde impulsionou a criação da Lusofonia/Stavanger e mantém a vontade de criar ainda outras.

Particularmente durante o período da crise, muitos portugueses que chegavam à Noruega desamparados ficaram a conhecer com Hugo Castro o que é verdadeiramente o sentido de humanismo e solidariedade.

Igualmente digno de referência, é o caso de Nuno Marques, um português de Tomar que foi guarda-redes do Benfica e que um dia decidiu mudar-se para Notodden para ser guarda-redes da equipa local, um pequeno município de perto de 13 mil habitantes, a cerca de 110 km a oeste de Oslo, onde haverá aí uma meia dúzia de portugueses.

Nuno Marques é um extraordinário exemplo de adaptação e integração. Depois de deixar de ser jogador do Notodden manteve-se como treinador dos guarda-redes da equipa e, melhor, foi convidado a candidatar-se à Câmara pelo Partido do Centro. Poderia até ter sido o presidente, mas como não lhe agradou o parceiro de coligação da extrema-direita, decidiu aceitar a proposta dos Trabalhistas locais e ficar como vice-presidente da Câmara. Quando se visita Notodden percebe-se claramente como Nuno Marques é altamente apreciado e acarinhado na cidade. Portanto, é tam-bém um orgulho para Portugal.

É bem verdade quando se diz que há portugueses por todo o lado e merece tam-bém referência que o sub-diretor Geral do Instituto de Veterinária da Noruega, é o Professor Gonçalo das Neves, um cargo nunca antes ocupado por um estrangeiro.

Como se vê pelo exemplo da Noruega, os portugueses no estrangeiro são os nossos melhores embaixadores, pelo que é fundamental que tenham o devido reco-nhecimento. Na realidade, abstraindo o seu lado duro e difícil, a emigração portuguesa é também uma das nossas maiores rique-zas e o seu potencial para valorizar o país é enorme. Por isso os governos devem estar atentos a esta realidade e as nossas embai-xadas e consulados devem ser proativas na sua valorização, acompanhamento e apoio, procurando sempre conhecer bem as nossas comunidades em cada país. Portugal é um país que pode precisamente distinguir-se no mundo não apenas pelas suas diásporas, mas também pelo apoio que lhes dá. E neste domínio poderemos mesmo ser um exemplo para o mundo.

 

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