Ainda me visitas nas noites de desassossego.
Os muros não são opacos quando chegas, sinto o calor do teu colo
os jarros já secaram há muito na jarra da mesa de cabeceira.
Lembro, ainda, quando os colhias no pequeno jardim debaixo da janela!
Os jarros e as hortensias perfumar os nossos dias.
Lembro o teu colo cansado a abrigar-me dos temores.
Quando me visitas trazes no corpo o odor
a flores do campo, a massa levedada acabada de amassar,
a urzes do campo, a madre silvas, a amoras maduras
Visitas-me, nas longas noites de insónia.
Brilham tanto os teus olhos, como quando eu te via chegar.
Agora, já não trazes no regaço a magia do colo
nem o pedaço de ternura que bebia sôfrega de ti
Pareces-me, agora, um pássaro triste
Uma mágoa sem voz.
No coração da madrugada o silêncio das aves que partem
sem dizer adeus.
São Gonçalves