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O meu 25 de Abril

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O 25 de Abril foi para mim sobretudo o que aconteceu no Largo do Carmo.

De manhã cedo, às 8h00, era um Largo completamente vazio, exceto quatro pessoas e uma delas era eu, simples aluno da Escola que ali havia, símbolo involuntário do medo que se tinha apoderado da cidade, de ruas que eu tinha percorrido a pé, completamente vazias.

E de tarde a chegada progressiva ao Largo do Carmo de um grande número de pessoas, que aos poucos se transformou numa multidão com cravos na mão, sempre a crescer até à apoteose da saída da chaimite do QG da GNR e o fim, nesse mesmo instante, da ditadura. Uma multidão em comunhão, composta de todo o tipo de pessoas, unidas em torno de uma só coisa: serem portuguesas e portugueses.

A mesma coisa aconteceu uma semana mais tarde, no dia 1 de Maio, pela primeira vez dia feriado. De repente e de maneira completamente espontânea, as pessoas deram a palavra uma às outras e começou a ver-se cada vez mais pessoas a subir pela Avenida Almirante Reis, a convergir para a Alameda, onde se juntou espontaneamente nesse dia uma multidão de dezenas de milhares de pessoas para festejar o fim da ditadura.

Na altura, estávamos todos unidos, éramos um só Homem, Mulher e um só Povo, sem diferenças de cor, classe ou religião, unidos na esperança – e até certeza – de dias melhores e de um futuro brilhante para todos.

A partir daí vivemos uns meses de intensa utopia, acreditando que “o Povo é quem mais ordena”, até nos apercebermos que se a classe dirigente antiga tinha desaparecido, a verdade é que tinha sido substituída por outra, composta de aparatchiks políticos. E que se a sua forma de agir era diferente, na realidade o objetivo era o mesmo, isto é criar uma nova ditadura (dita do proletariado), reduzindo os Portugueses a uma massa de seres produtores de trabalho e de riquezas, captadas através do aparelho do Estado (a famosa noção de “receita” até hoje vigente), em proveito próprio (da sua seita política ou de si próprios).

E foi assim que lá morreu, pouco a pouco, a Utopia e a Esperança criada pelo 25 de Abril, transformando a união nacional em torno de valores mais altos, numa crescente onda de individualismo exacerbado, onde cada um seguia o fraco exemplo dado em praça pública pelo egoísmo das classes dirigentes.

Até hoje, 48 anos depois, como se pode constatar nos (poucos) casos de enriquecimento ilícito de alguns titulares de cargos públicos…

Francis da Silva

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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