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O medo das eleições na Europa, a cedência ao populismo

O próximo dia 9 de Setembro assinala mais umas eleições num país europeu e com ele traz os discursos extremistas e os movimentos anti-imigração. Desta vez a preocupação vem da Suécia, um dos países mais abertos e liberais da União Europeia.

Segundo as sondagens mais recentes, o partido extremista dos democratas suecos posiciona-se em segundo lugar nas intenções de voto, com quase 20% das preferências, podendo tornar-se no maior partido da oposição. Os mesmos estudos de opinião apontam para a vitória dos socialistas democratas, o partido que agora se encontra no poder, em coligação com os Verdes.

A subida dos extremistas suecos pode ser explicada com uma campanha que veicula a associação da imigração ao crime violento. Tal como no referendo sobre o Brexit, é mais um discurso populista e xenófobo que consegue o voto fácil e acrítico. Os números ajudam a fomentar o medo entre os eleitores: nos últimos seis anos cerca de 400 mil pessoas viajaram para a Suécia à procura de asilo, o maior número per capita da Europa.

Neste momento, há um sentimento de pânico político sempre que existem eleições na Europa. E nós não podemos tremer por cada vez que há eleições. O discurso que está a ser utilizado em Estocolmo foi o mesmo que se ouviu em Viena, Amesterdão, Paris, Roma e em Budapeste, no passado mês de Abril. Foi assim também que, no país de Merkel, a Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido de extrema-direita, entrou no Parlamento Alemão (é a primeira vez que tal acontece desde 1945). Em 2015 a AfD tinha 16 mil membros. Este ano esse número chegou aos cerca de 30 mil. Trata-se de um aproveitamento miserável da crise de refugiados de 2015. É a caça ao voto sob o jugo do medo.

No Parlamento Europeu, a Liga italiana de Salvini encontra-se integrada na Europa das Nações e da Liberdade (ENF), grupo com perspectivas antieuropeístas. Já a aliança nacionalista conservadora húngara, o partido Fidesz – União Cívica Húngara de Viktor Orbán, faz parte do Partido Popular Europeu (PPE), grupo em que se encontram o CDS e o PSD. Seria importante saber o que pensam os deputados portugueses do PPE sobre Orbán. Defendem-no? Discordam? Querem mantê-lo na sua família política? Identificam-se com o seu percurso de perseguição aos migrantes? Aos ataques ao Estado de direito? À tábua rasa que faz dos valores europeus?

O vice primeiro-ministro da Itália e o primeiro-ministro húngaro reuniram-se, na semana passada, em Milão, e, apesar de se encontrarem em grupos partidários com pontos de vista ideológicos supostamente distintos, Orbán não teve problemas em dizer que via Salvini como um “herói”, apelidando-o de seu “companheiro” na luta contra a imigração. O que os une, o constante ataque às políticas da União Europeia, é mais forte do que aquilo que os separa do ponto de vista ideológico e partidário. A verdade é esta: são ambos peças do mesmo puzzle. Enquanto que Salvini bloqueia as suas fronteiras pelo mar, Orbán bloqueia as suas por terra, empregando caçadores de migrantes e erguendo mais muros. Tudo com o “apoio moral” da Polónia, da República Checa e da Eslováquia.

A balança da política contemporânea tende a desequilibrar-se entre aqueles que recebem as consequências da globalização com responsabilidade e aqueles que têm medo dela. O Brexit foi um claro exemplo disso. É isto que une Matteo Salvini a Viktor Orbán. A Suécia tem este fim-de-semana um teste contra a xenofobia e a anti-imigração. Veremos o que acontece.

Também nesta semana ficamos a saber que o presidente do PPE, o alemão Manfred Weber, será o candidato deste grupo político à presidência da Comissão Europeia em 2019. Estão confortáveis o PSD e o CDS com esta candidatura? Vão apoiar um candidato que escreveu, em 2016, ao presidente Jean-Claude Juncker a pedir a aplicação de sanções a Portugal e a Espanha através de “todos os instrumentos, incluindo os da vertente corretiva”, que “devem ser usados na sua força máxima”. É este o perfil de um europeísta?

A Europa precisa urgentemente de mais humanismo e de solidariedade para não ficar à deriva do medo de cada vez que se abrem as urnas. Precisa que os cidadãos sejam as primeiras vozes europeístas e que estas sejam incisivas na luta pela liberdade. O medo das eleições na Europa é a cedência ao populismo.

 

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