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No carrossel das nações e das culturas a Europa revela tonturas

As eleições europeias revelaram que está em curso a fragmentação e polarização das paisagens políticas europeias e a necessidade de implementação de políticas do ambiente. Com as eleições, os Verdes e os partidos pequenos começam a ter maior representatividade nos parlamentos, apesar do sistema favorecer os partidos grandes.

Em parte, a Alemanha está para os países europeus como a América para a Europa. Na Alemanha já se verifica o tempo de viragem dos partidos estabelecidos: a CDU também perdeu eleitorado embora continue à frente (28,9%), os Verdes (20,5%) conseguiram atrair a esquerda liberal do SPD, que viu reduzidos os seus eleitores de 27,31 para 15,8%. A História não para, ela é de quem a acompanha e a muda. De momento tudo procura e ninguém encontra! Na Alemanha, a juventude marcou presença nas urnas e a afluência geral do eleitorado foi de 61,5%.

Um outro fenómeno a manifestar-se é o facto de artistas conhecidos começarem a candidatar-se como pessoas individuais e conseguirem assento no parlamento. Ver em nota os resultados dos partidos na Alemanha (1) e noutros países (2). Verdes e pequenos partidos registam as maiores subidas (3).

Constata-se que, na consciência popular, avança o proteccionismo de Trump, não só na praça pública, mas também através de um populismo domesticado dentro dos próprios partidos, o que denota uma certa adaptação aos novos ventos. De facto, mesmo os chamados populistas AfD lutam por domar o seu populismo (expressão emocional popular) para que, com o tempo, possam afirmar-se como populismo civilizado à imagem do que acontece nos partidos já estabelecidos no sistema. Com o desmoronar dos grandes partidos populares, como a CDU e o SPD, os populismos de esquerda e de direita ganhará mais expressão.

De notar que embora esteja a dar-se um tornado a nível dos chamados partidos populares, permanece um equilíbrio nacional da cidadania de esquerda e de direita, na forma de estar política dos diferentes países, apesar de aqueles se encontram em navio a afundar-se; só na península ibérica, onde o discurso ideológico tem mais peso nas actividades governamentais, é que não. Na Alemanha, o partido os Verdes encontra-se a caminho de se tornar num partido popular e prestes a substituir o SPD nas rédeas do poder; outros partidos minúsculos também marcam presença.

O facto da fragmentação e polarização das paisagens políticas europeias obrigará os partidos a mudar a estratégia de conversações em formações de governo mais complexas e, por outro lado, a um acentuar de identidades partidárias com a consequência de, em vez de dialogarem, rivalizarem; também isto significará uma mudança de atitude na relação entre os tradicionais partidos formadores de governos na Europa central e norte e terá consequências a nível da UE na procura de consensos menos fáceis.

A acompanhar a greve do clima na paisagem juntou-se a greve das escolas a apoiá-lo, tentando assim irromper contra um cepticismo governamental ainda distanciado. O motor de arranque para a mudança sistémica da classe governante nos países europeus é movido pelas mudanças climáticas e pela imigração descontrolada e um certo desrespeito pela própria cultura.

A juventude, desta vez mais participativa, quer que o futuro lhe pertença, tendo emprestado, para isso, a sua voz aos partidos e movimentos verdes e não aos negociantes do hoje! A Europa encontra-se agora mais dividida entre os que puxam a corda em direcção ao futuro e os que a puxam em direcção ao passado. Um encontro de pausa para voltar ao meio seria o mais adequado!

A situação da EU não é boa e sofre de vários desalinhamentos e exigirá paciência para a construção de coligações multipartidárias com novas plataformas de conversações na gestão da coisa pública; na consequência teremos regimes políticos mais instáveis como tem acontecido com a Itália. Isso tornar-se-á já visível nas discussões para a substituição de Jean-Claude Juncker na escolha do novo presidente da Comissão.

Numa sociedade cada vez mais diferenciada também se torna compreensível um certo desconsolo nos monopólios dos Media e o descontentamento na classe política estabelecida. A velhice não perdoa e a juventude, se não é burra, aproveita-se.

Conclusão: uma loucura comum do globalismo económico avassalador, sem respeito pela natureza, movimenta o eleitorado de modo a substituir o partido social democrata pelo dos Verdes e a loucura de uma política de portas abertas irresponsável fomenta o chamado populismo de direita que instabiliza os centristas, como mostra o exemplo do AfD alemão.

Em Portugal os eleitores hesitam ainda na vontade de mudar o sistema de partidos clássicos, mas os partidos defensores de programas verdes e ecológicos já se encontrem a iniciar os primeiros passos para pisar a arena pública; são ainda demasiado fracos, mas o exemplo da Europa central encoraja-os. A variedade de partidos eleitos em Portugal já aponta para uma sociedade pronta a deixar de sonhar com maiorias absolutas.

António da Cunha Duarte Justo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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