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Militares portugueses impediram massacres, diz general

Os militares portugueses na República Centro Africana “têm de se orgulhar do que estão a fazer” na proteção dos civis perante os grupos armados, num teatro de operações marcado pela violência extrema, sustentou o general Marco Serronha.

Em entrevista à Agência Lusa, de passagem por Lisboa antes de regressar ao quartel-general da componente militar da missão de estabilização das Nações Unidas na RCA (MINUSCA), com cerca de 11 mil militares, o general Marco Serronha disse que as forças portuguesas já conduziram operações que “impediram massacres” que poderiam ter resultado em “centenas ou mesmo milhares de mortos”.

“Quem lá está sabe que impediu um massacre, que defenderam pessoas ou apoiaram campos de refugiados, isso também é uma vitória que tem de ser registada na contabilidade”, defendeu o general, que iniciou funções como Segundo Comandante da MINUSCA, para um mandato de um ano, na missão comandada pelo general senegalês Balla Keita.

A proteção dos civis é o principal objetivo da MINUSCA [Missão Multi-dimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização] da RCA. A força portuguesa de reação rápida, que já vai no 4.º contingente, conta com 159 militares. O primeiro e o segundo contingentes foram constituídos por comandos e o terceiro e o atual por paraquedistas. No próximo ano regressam os comandos à RCA.

Com mortes verificadas entre os capacetes azuis na RCA – este ano já morreram seis – num teatro de operações perigoso, o general Serronha recusa atribuir à sorte o facto de não ter havido ainda situações mais graves do que “ferimentos ligeiros” entre os militares portugueses.

“A principal proteção que a força tem deriva de duas coisas. Do seu equipamento, temos bons equipamentos de proteção, coletes balísticos, capacetes e as viaturas”, disse, acrescentando que, em segundo lugar, “a operação no terreno é muito boa” e tem um efeito dissuasor.

A realidade, frisou, é que a força portuguesa – a única força europeia em ações de combate no terreno na MINUSCA – é a tecnologicamente mais bem equipada e a mais bem treinada, cumprindo padrões de eficácia que não estão ao alcance da grande maioria das outras forças, provenientes do Ruanda, Paquistão, Egito, Bangladesh, Zâmbia, Burundi, Marrocos, Camarões e Mauritânia, entre os maiores contribuidores, num total de 11.650 militares.

O general Serronha, que assumiu funções como segundo comandante da MINUSCA em setembro, admitiu ser “evidente que não se pode dizer que não há risco”. Contudo, os grupos armados não atiram sobre os portugueses “de ânimo leve”. Nas palavras do general Serronha, os grupos armados sabem que se se meterem com os portugueses “levam na touca”.

“Eles [grupos armados] sabem que as forças portuguesas que lá estão, se fizerem tiro sobre elas, elas reagem ofensivamente de forma assertiva e portanto pensam duas ou três vezes antes de abrirem fogo”, disse.

“Tivemos três feridos ligeiros nos quatro contingentes. No primeiro contingente, dos Comandos, houve um [ferido], no segundo não tivemos ninguém, no terceiro houve em Bangui um soldado paraquedista que teve o impacto de uma granada, e tivemos há um mês em Bambari um sargento que levou um tiro, mas nada de grave”, resumiu.

No último ano, a força portuguesa de reação de rápida conduziu operações militares em Bambari, uma cidade com 40 mil habitantes a 300 km da capital, Bangui, atualmente considerada uma das cidades mais problemáticas em termos de segurança e na qual elementos de grupos armados têm provocado conflitos, quebrando um acordo com a MINUSCA.

“Foi acordado que Bambari era uma zona livre de grupos armados. Os grupos armados não podiam andar na zona de Bambari uniformizados e com armas. Sempre que tentam tomar alguma posição de mais força na cidade tem havido intervenções da MINUSCA e tem sido a companhia de reação imediata portuguesa que o tem feito”, disse.

Recentemente foi decidido o envio de seis viaturas blindadas PANDUR e de mais 20 militares para reforçar o contingente português na RCA, o que “dará um incremento do ponto de vista da letalidade”.

A força portuguesa, de reserva do comandante operacional, também tem a “missão de evacuação” e isso exige “capacidade de transporte com viaturas blindadas”, explicou.

O general Serronha frisou que o ambiente no teatro de operações da RCA é particularmente inóspito e os militares portugueses enfrentam condições duras, chegando a estar, quando saem de Bangui, um mês a viver em tendas não climatizadas, com temperaturas de 40 graus e rede mosquiteira, a dormir nos chamados `burros do mato´ [camas articuladas] que têm de transportar, além das cozinhas de campanha.

Além das condições no terreno, a força portuguesa sofre o que o general Serronha classifica como “guerra psicológica”: “[os grupos armados] emitem comunicados a dizer que os portugueses massacram pessoas nos sítios onde estamos, é evidente que isso é desmentido pela MINUSCA e por toda a gente, mas tentam pôr alguma pressão psicológica sobre a força portuguesa de modo a inibi-la de ter uma ação operacional mais efetiva”, especialmente em Bambari.

O próximo passo da missão portuguesa, disse, é “colocar oficiais no Estado-maior da MINUSCA”, na logística, no planeamento e nas informações, um objetivo que passará pela negociação no âmbito da ONU e que contribuirá, acredita, para “um Estado-Maior do quartel-general da MINUSCA mais efetivo”.

O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões ), já provocou centenas de milhares de mortos entre os civis, 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou dois vírgula cinco milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.

O governo do Presidente, Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território.

O resto é dividido por 18 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.

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