A notícia da morte de George Michael chegou ao produtor Luís Jardim pela voz do agente do cantor, na madrugada de domingo

“Michael Lippman telefonou-me ontem [domingo] às tantas da manhã”, contou Luís Jardim, nesta segunda-feira, na TVI24, num contacto pessoal que mostra o relacionamento de amizade profissional que o produtor português mantinha com o ícone da pop.

George Michael é, na minha opinião, a última das grandes estrelas que duram. Hoje em dia temos várias estrelas que duram dois/três anos e depois acabam a carreira, o George não, há 40 anos que o fazia”, defendeu Luís Jardim.

A última vez que os dois conversaram foi “há uns meses”, em Inglaterra, quando se encontraram num estúdio. Luís Jardim é o primeiro, aliás, a reforçar que os dois eram “amigos de trabalho”, mas nem por isso deixou de ser confidente de George Michael ou de vê-lo de lágrimas nos olhos num momento menos bom em que saíam em grupo depois de uma jornada em estúdio.

Nos anos 80 deixei de fazer estrada, fui convidado para ir para a estrada com ele mas não aceitei, mas continuei a gravar com ele, gravei no primeiro álbum, como músico, não como produtor. George Michael não era um homem muito fácil de lidar, era um homem intenso, muito exigente. Ele tinha já um coração de produtor, embora nessa altura não produzisse, era o Steve Brown, e a diretora musical era a Anne Dudley quando me juntei a ele, mas o George era muito intenso, havia grandes discussões no estúdio”, lembrou.

Luís Jardim não tem dúvidas de que George Michael “era um líder”, que “exigia certas coisas que nem sempre se podiam fazer” e que levaram, por exemplo, à sua rutura com a Sony.

Para se ser uma estrela e um cantor que dure no topo há duas coisas essenciais: primeiro, a imagem de palco, eu digo primeiro porque a imagem conta muito. Podemos fazer truques no estúdio para disfarçar vozes mas a dele não era preciso ser disfarçada, tinha uma voz super reconhecível. Era um cantor pop de grande qualidade. Tinha tudo aquilo o que uma estrela deveria ter: escrevia bem, tinha muito jeito para escrever os chamados top 10, que teve imensos”, realçou.

Para o produtor português há um momento determinante na carreira de George Michael.

Acho que o que mudou a vida dele foi o tema ‘Careless Whisper’, que mostrou um George Michael que ninguém conhecia. Foi algo que ninguém esperava, uma balada tão bem cantada e escrita, entre ele e o Andrew Ridgeley [com quem dez dupla nos Wham!], que nessa altura já estava nos carros de corrida, porque o que ele queria era ser corredor. Acho que foi a grande mudança, abriu-lhe uma porta numa direção diferente, que eu acho que infelizmente não soube aproveitar, quando começou com os conflitos com a Sony. Ele teve algum sucesso antes de ter problemas com a Sony mas estava a entrar numa situação de depressão”, considerou.

Luís Jardim acredita também que o facto de, praticamente, ter sido obrigado a assumir a sua homossexualidade, vindo ele de uma família tradicional europeia, com um pai cipriota, depois do escândalo de ter sido acusado de atentado ao pudor, em Los Angeles, nos EUA, abalaram emocionalmente George Michael.

Cheguei a vê-lo de lágrimas nos olhos, a dizer aquelas coisas como tenho tudo e não tenho nada”, recordou.

Mas mais do que tristezas, Luís Jardim tem “excelentes memórias” de George Michael e faz questão de estar presente no último adeus ao cantor britânico. “Era uma pessoa excelente para trabalhar, suávamos, trabalhávamos 16 horas seguidas… Andava sempre rodeado de mulheres bonitas.”