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Ideologias de género e outras formas de vulnerabilizar a sociedade

Tudo o que é demais é erro e sem bom senso nada evolui sem vítimas. Assim, destruir o que já se construiu, sem reflexão profunda, matérias frágeis e que alimentam a fragmentação social, nunca é caminho, se quisermos evitar vítimas ou consequências negativas.

Pretende-se, em Portugal, implementar alterações legislativas, com implicações práticas nas escolas, a favor de uma suposta integração de minorias, com base num pressuposto construído ideológico e sociológico, de que sexo biológico, orientação sexual e identidade de género são conceitos independentes que permitem escolhas separadas. E o mais grave disto tudo é que estamos a fazê-lo com crianças, como se estas já tivessem informação suficiente para fazerem escolhas desta natureza. Um menor é diferente de um adulto e muito tem a desenvolver, porque lhes falta informação e referências para poderem fazer depois as suas escolhas. Quantos de nós vemos a vida de maneira diferente de acordo com a idade que temos? Nunca nos esqueçamos que a aceitação incondicional de tudo e eliminação de referências (que não são preconceitos), criam crianças e jovens muitos mais inseguros e anárquicos. Biologia e saúde mental estão intrinsecamente ligadas. Ignorar isso, significa privilegiar ideologias sociais lógicas (porque têm narrativas com sentido filosófico), em detrimento da ligação à verdadeira ciência e mundo real, com ignorância e imaturidade. Deixo as leis que pretendem fazer passar, nomeadamente a Lei 38/2018 sobre o direito à autodeterminação e o Despacho 7247 sobre as medidas administrativas.

De forma madura, a integração e aceitação de que somos todos diferentes e que devemos saber viver em sociedade com a diferença, é fundamental. Concordo e defendo, como especialista do comportamento, este pilar de funcionamento de um sistema comunitário, qualquer que ele seja. Também é legítimo e concordo que devemos defender a justiça na igualdade de oportunidades (e nunca a de resultados, porque aqui não há justiça). No entanto, forçar uma suposta igualdade entre minorias e maiorias, não é justo precisamente pelo impacto que isso causará nas previsíveis consequências nas minorias. De forma muito simples, maioria é onde existe mais gente, e minorias, é onde existe menos gente. Não significa ser melhor nem pior para ninguém. Por isso, onde há dúvidas e incertezas significativas, sem estudos cientificamente estruturados em amostras representativas na população, por forma a prever o comportamento prático real, estaremos sempre a criar riscos de vitimizar e vulnerabilizar as próprias minorias que se está a tentar proteger.

A parte significativa e evidente da discussão que este assunto provoca, confirma que a discussão da suposta separação entre sexo biológico, orientação sexual e identidade de género é um assunto polémico, onde existem pontos de vista diferentes vincados e que radicaliza as posições, dificultando qualquer integração social. Tudo são organizações de pensamento rígidas, que têm impacto emocional, e que aumentam a vulnerabilidade psicológica e dificuldades de integração social. Esta evidência não pode ser ignorada nem esquecida.

Com a evidente e polémica discussão que este assunto das ideologias de género e suposta separação do sexo biológico, só mostra que a sociedade precisa de mais tempo para evoluir antes de implementar o que quer que seja, porque não tem ainda um padrão. Se não há evidência de um padrão ou de maior certeza, é porque estamos entre visões opinativas exageradamente conservadoras ou liberais, com construções políticas e/ou ideológicas que superam as conclusões científicas actuais, pelo que, quando assim é, tomar decisões para se implementar ao nível nacional (ainda por cima que mexe tanto com o equilíbrio pessoal de cada um), não é um acção com bom senso e alimenta fragmentação social e estigmatização. Daí que seja um erro avançar politicamente desta forma, porque tem implicações reais.

Entre tomar decisões, sem reflexão suficiente e adequada, só porque existe poder político, para lidar depois com as consequências e custos emocionais e económicos associados num país que não é rico, é, claramente, imprudente.

A natureza humana nunca foi perfeita, como qualquer outra espécie de mamíferos, pelo que ninguém é inocente quando conhecemos a história da humanidade desde que há registos. Sempre destruímos demasiado e causamos sofrimento desnecessário para evoluir. No entanto, é o que somos e não podemos deixar de aceitar que esta é a melhor sociedade de sempre que alguma vez existiu no planeta e continuamos a evoluir. Se for para melhorar, devemos sempre falar e chamar a atenção. Mas não devemos ser “mais papistas que o papa”. Infelizmente, quem é mais moderado expõe-se e fala menos do que quem é mais extremado, tal como quem tem menos informação fala mais, do que quem tem mais, o que também caracteriza o nosso padrão. Tal como dizia Martin Luther King, “o que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”, o que aqui devemos ler metaforicamente bons como os que têm mais bom senso e são maduros em detrimento dos maus (menos informados e mais imaturos com visões lineares de preto ou branco).

Ser mais prudente e ter memória, ajuda mais e melhor, do que ser radical a rasgar com o passado, esquecendo o caminho feito. Como cientista do comportamento esta é a escolha mais competente. Sem conhecer a história, não conseguiremos, nunca, prever comportamentos.

Sempre construímos melhor a partir da história que existiu. Ignorar a história, por regra, só nos regride, pois o instinto (sempre mais primitivo que a consciência) irá repetir os mesmos erros se nos esquecermos do caminho já feito.

Por isso, qualquer que seja o radicalismo, de direita ou esquerda, ambos são perigosos e devemos afastarmo-nos deles, pois são os que concebem tudo de forma linear (cheios de certezas, rígidos na sua visão, pouco flexíveis e pouco disponíveis para uma debate maduro para encontrar pontos comuns), quando ser maduro e saber viver em sociedade, implica ter bom senso e escolher o que é melhor para a maioria de nós, fruto da evolução natural que a história de todo o planeta tem demonstrado. Nunca conseguiremos agradar a todos numa sociedade ou comunidade, tal como nas famílias, mas nunca deixamos todos de fazer parte da mesma espécie.

Importa salientar aqui, de forma breve, que há muitos supostos artigos “científicos” que não são tão sustentados cientificamente como parecem, mas antes fazem parte de um conjunto de investigadores ou professores universitários (alguns, mas mais do que deviam estar no ensino superior) que usam partes da ciência para defenderem a sua ideologia e doutrinarem alunos (e nas área das ciências sociais, infelizmente fazem isto), levando-os, erradamente, a crer que sexo biológico, orientação sexual e identidade de género são conceitos independentes que permitem escolhas separadas, em vez de os ensinarem a pensar como cientistas objectivos sérios da natureza humana… Não podemos dissociar corpo de mente – e isto é mais que evidente na ciência pura baseada na evidência. Para além disso, formar é muito diferente de doutrinar. As universidades têm por obrigação formar e ensinar a pensar, para fazer evoluir. É esta a sua principalmente missão. Sempre apreciei os alunos que põem em causa e me desafiam nas matérias que lecciono, porque para eu explicar, tenho de saber, e para evoluir, temos de pensar e articular ideias, conceitos e resultados objectivos das investigações realizadas. O receio de pôr em causa a matéria que os professores explicam nunca deveria existir numa universidade ou ensino superior. Acrescente-se ainda a atitude do politicamente correcto que impera socialmente, para ofuscar a necessidade de debate, confundindo-se ideias diferentes entre nós, como ideias melhores ou piores, cujo resultado é apenas não manifestarmos a opinião diferente do que a maioria do grupo ou expectativa social.

Como já antes referimos, os conceitos de maioria e minoria, em ciência, são apenas conceitos diferentes, não sendo qualitativos como melhor nem pior. Desde que a maioria aceite conviver com a minoria, e vice-versa, somos todos maduros. Como uma família madura, alguém dentro dela é diferente das expectativas do sistema familiar, e essa pessoa é aceite sem problema e não deixa de fazer parte da família. Não é uma questão de oprimir ninguém. Mas alterarmos os padrões da maioria por causa da minoria, ou facilitarmos a vida da minoria privilegiando a sua adaptação com regras com acesso prioritário e acessível que a maioria (a suposta igualdade de resultados em vez de igualdade de oportunidades), também não é justo, pois é a competência que deve priorizar as oportunidades, porque somos todos humanos. E o mais importante, acima de tudo, é falarmos em justiça, em vez de falarmos tanto de igualdade. Justiça é o conceito mais adequado e não igualdade.

Para terminar, quando não há certeza, o debate impõe-se, sem medo de agradar ou deixar de agradar, pois só evoluímos quando todos conseguimos articular pensamentos e lógicas sobre os axiomas que sustentam as crenças de cada um. Que haja mais debate sem problemas de partilharmos os diferentes pontos de vista e ganharmos pontos comuns para tomarmos as melhores decisões que façam evoluir a comunidade e manter uma união social (em vez de promover a fragmentação ou radicalismos). Definir alguém no seu todo pelo que ela defende em particular é sempre limitativo para quem o faz. É muito mais o que nos une a todos do que aquilo que nos diferencia. E é por isso que, apesar de muito termos que evoluir, esta é a melhor sociedade que alguma vez existiu.

 

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