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Embaixador em Cabo Verde: empresas portuguesas devem investir no arquipélago

© Lusa

O novo embaixador de Portugal em Cabo Verde, Paulo Lourenço, defendeu que é tempo de as empresas portuguesas verem “além do destino turístico”, investindo no arquipélago nas áreas prioritárias, como transição energética, economia azul ou digital.

“Estamos numa mudança de ciclo económico em Cabo Verde, com uma aposta clara na transição energética, na economia azul, na digitalização. Cabo Verde tem vindo a saber formar recursos qualificados nesta área, através das suas universidades, e eu acho que as empresas portuguesas têm de voltar a olhar para Cabo Verde numa lógica agora muito mais virada para estas áreas”, afirmou o diplomata, em entrevista à Lusa.

Paulo Lourenço assumiu as funções de embaixador de Portugal em Cabo Verde em 28 de fevereiro, após apresentar as cartas credenciais ao Presidente da República, José Maria Neves, e reconheceu o reforço das relações como prioridade, transpondo para a sociedade o relacionamento já existente ao nível das autoridades e governos dos dois países.

“Eu estou muito determinado a mobilizar o interesse das empresas portuguesas a partir desta premissa que é: olhem para Cabo Verde para além do destino turístico. E acho que as empresas portuguesas que hoje têm uma experiência de internacionalização muito significativa – e não estou a falar apenas das grandes empresas – e estão hoje numa nova fase de internacionalização, têm de olhar para Cabo Verde a partir da lógica do que é que está a mudar em Cabo Verde”, sublinhou.

Portugal lidera entre os países de origem das importações cabo-verdianas, com uma quota de mercado habitualmente superior a 40%, sendo o segundo principal destino das exportações do arquipélago, além do principal investidor no país.

“Nós estamos um pouco em todo o lado em Cabo Verde, as empresas portuguesas geram emprego em todas as ilhas, mas acho que está na altura de reconquistar a atenção da comunidade empresarial portuguesa para as oportunidades de investimento no arquipélago”, disse ainda.

Para o embaixador, há dois aspetos que “tornam o Cabo Verde um destino interessante de investimento português”.

“A primeira é esta aposta nas energias renováveis, na economia azul e na digitalização. Todas estas são áreas em que Portugal também está a apostar, em que nós temos nichos e valências específicos. E, portanto, há aqui uma correspondência que eu acho que torna natural para um empresário português ou uma empresa portuguesa nestas áreas, olhar para o que está a acontecer em Cabo Verde”, apontou.

“A segunda é que existem hoje modalidades de financiamento internacional que antes não estavam disponíveis para estas áreas. Hoje há uma correspondência muito grande entre aquilo que Cabo Verde descobriu ser um pouco o seu modelo, o seu paradigma de crescimento, para os próximos anos, estas áreas transição energética, economia azul, digitalização, só para citar as mais importantes”, disse.

Por outro lado, acrescentou, “também essa aposta coincide com aquilo que são hoje as preferências de financiamento das organizações internacionais, seja o Banco Africano de Desenvolvimento, seja o Banco Mundial, seja também o Banco Europeu de Investimento, seja a União Europeia”.

Áreas em que, apesar da dimensão do país, com menos de 500 mil habitantes distribuídos por nove ilhas e fortemente dependente do turismo, que garante 25% do Produto Interno Bruto, Cabo Verde tem “recursos”.

“Tem um excelente regime de ventos, tem sol o ano todo e tem muito mais mar do que terra e, portanto, tem de facto um conjunto de recursos. Tem um conjunto de recursos e um conjunto de competências que nós temos de saber interpretar”, exemplificou.

Acrescentou tratar-se de um mercado “desafiante”, mas que deve ser visto pelos empresários portugueses, também, como uma porta de entrada no mercado da África ocidental.

“Acho que está na altura de voltar a ver investimento direto português no arquipélago, porque as circunstâncias são novas, o enquadramento é mais favorável e nós temos aqui, de facto, uma correspondência que é nova e é importante entre aquilo que são as apostas estratégicas de Cabo Verde e aquilo que são hoje as modalidades de financiamento à disposição de Cabo Verde”, enfatizou.

Diplomata de carreira desde 1995, Paulo Lourenço desempenhou funções anteriores nas embaixadas de Portugal em Luanda, Londres, Sarajevo e Belgrado, e entre 2012 e 2018 foi cônsul-geral em São Paulo, Brasil.

“Às vezes, o que acontece entre Portugal e Cabo Verde é que nós conhecemo-nos há tanto tempo que achamos que não precisamos de nos conhecer melhor. E eu disputo essa conclusão”, afirmou o diplomata.

Paulo Lourenço nasceu em 10 de março de 1972, em Angola, e desde fevereiro de 2020 chefiava a Direção-Geral de Política de Defesa Nacional, funções nas quais negociou o novo programa-quadro de Defesa entre Portugal e Cabo Verde para o período 2022 a 2026.

“Eu acho que a relação entre Portugal e Cabo Verde é uma relação absolutamente excecional. É uma relação que eu, como tenho aliás vindo a dizer, não me parece poder ser encontrada na vasta maioria dos relacionamentos que Portugal tem com outros países, mesmo países de língua portuguesa”, reconheceu.

Admitiu que este “nível de cumplicidade” cria “um desafio”, de como reforçar “uma cooperação que já é densa, extensa e intensa”, num momento ”em que há um relacionamento, nomeadamente entre os dois Estados, que provavelmente não tem precedentes”.

“É possível fazer mais e onde eu vejo essa necessidade maior é justamente na relação entre as duas sociedades. Eu acho que tudo o que nós pudermos fazer para valorizar a relação entre as duas sociedades, o conhecimento mútuo, aproveitando também esta oportunidade histórica do acordo de mobilidade da CPLP, acho que estaremos seguramente a dar um passo qualitativo em relação àquilo que já era um padrão muito substancial de excelência na relação entre os dois países”, apontou.

Com um acordo de mobilidade para implementar, como “objetivo político” assumido por Portugal e Cabo Verde, e o “espírito de promover maior circulação no espaço da lusofonia”, Paulo Lourenço defendeu que é preciso “fazer tudo o que está ao alcance”, nomeadamente em relação ao processo consular, para o cumprir.

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