De que está à procura ?

Colunistas

É que… hoje fiz um amigo

É que… hoje fiz um amigo
O que é que aconteceu diz lá
É que hoje fiz um amigo
E coisa mais preciosa no mundo não há.

Sérgio Godinho – “Com um brilhozinho nos olhos

Eleanor Roosevelt um dia disse: “Muitas pessoas hão de entrar e sair das nossas vidas, mas apenas os amigos verdadeiros deixarão pegadas no nosso coração.”

Quando me detenho a pensar nesta aventura que teve o seu início há mais de vinte e dois anos, recordo as várias fases que por ela passei. 

Como qualquer outro emigrante que fale da sua própria aventura, a de deixar o país que o viu, ou a viu, nascer e crescer, recomeçando uma nova vida bem longe de casa, de hábitos, pessoas e lugares diferentes, quase sempre as primeiras memórias que ocorrem, são as das dificuldades e do sofrimento.

Sofrimento, quando um beijo de despedida, de um adeus até ao meu regresso, doi mais do que a mais excruciante dor física. 

Quando peguei no Miguel ao colo, nessa altura com pouco mais de sete tenros anos de idade, e o João com três, e segurando-os em cada um dos meus braços, os beijei nas faces, enquanto as lágrimas, que apesar de tudo me esforcei para as conter, deslizavam livres e teimosas, como que destacando a tristeza que com esforço tentava disfarçar. E eles, inocentes mas inteligentes que sempre foram, apertavam-me contra si, com aqueles bracinhos suaves e frágeis, sabendo que a viagem que eu estava prestes a fazer, seria longa e penosa, porque marcava o início de uma saudade que todos iriamos sentir bem dentro de nós a partir daquele dia. E deram-me um beijo, beijo esse que eu fui a sentir desde o momento que deixei Felgueiras, até ao Reino Unido.

Um bom pedaço de mim ficou como que colado ali na rua Oliveira Fonseca, e como uma espécie de elástico, foi-se estendendo para qualquer lado que eu fosse, por muito longe que fosse e por muitas voltas que desse, sem nunca se partir ou rebentar, sendo esse pedaço de mim como que um elo de ligação às minhas raízes, as minhas origens. 

Saudade.

Saudade, palavra essa que não tem tradução para uma qualquer outra língua, simplesmente porque ela é uma amalgama de profundos sentimentos, apesar de tudo, os mais nobres e dignos de um verdadeiro ser humano.

A vida é mesmo assim, feita de encontros e desencontros, de lugares e pessoas, de aventuras e desventuras, de sorrisos e gargalhadas, de lágrimas choro e suspiros. De novas adaptações, sempre alicerçadas nas raízes que apesar de tudo são o suporte do que sempre fomos e da maneira como vamos crescendo como pessoas.

Nunca deixamos de amar todos aqueles que de uma ou outra maneira são parte dessas raízes, e dessas raízes cresceu aquilo que somos hoje, a nossa personalidade, a nossa postura perante a vida, o nosso melhor, e o constante esforço e empenho que impomos a nós mesmos, para trabalhar o que temos de menos bom. 

Adaptamo-nos, não esquecendo nem família nem amigos, e expandimos a família, que cria mais família, fazemos novos amigos, que incluímos com os velhos amigos.

Em Portugal sempre tive um bom leque de amigos, na sua maioria conterrâneos Felgueirenses. Depois, dos três meses no Regimento de Lanceiros de Lisboa, (Polícia do Exército) e dos seguintes doze meses e quinze dias no Regimento de Lanceiros do Sul, em Évora, o meu leque de amigos estendeu-se às várias regiões do nosso bonito, amado e único Portugal, e as chamadas ilhas adjacentes, Açores e Madeira. 

E isso, esses momentos que partilhei com toda essa gente, momentos esses que fazem parte da história da minha vida, são afinal de contas, o que a vida tem de melhor, na sua simplicidade. 

Se, com os quinze meses e quinze dias no Regimento de Lanceiros, eu estava felicíssimo por ter alargado o meu leque de amigos para lá das fronteiras felgueirenses, mais felicíssimo fiquei ao expandir esse leque de amizades a um nível internacional, digamos assim, que a minha vida de mais de vinte e dois anos por terras de sua Majestade, assim o permitiu.

De facto, as minhas primeiras amizades com pessoas de outro país, apesar de eu estar a viver em Inglaterra, foram com pessoas do Bangladesh. 

Lembro com especial carinho o Mr. Mobur e a sua paciência em me ensinar algumas palavras em inglês, uma vez que, nessa altura os meus conhecimentos do idioma, não iam muito para além do, “thank you, good morning, ou good nigth.

“Look, Fanando, onion, onion…”

Dizia, enquanto segurava uma cebola na mão e a exibia bem à frente dos meus olhos, para que eu percebesse ao que se referia.

Lembro também o Labú, Farid e o Sassá, este último que não é propriamente o seu verdadeiro nome, mas sim uma maneira carinhosa que os muçulmanos, pelo menos os do Bangladesh e do Paquistão, têm para assim chamarem os mais velhos.

Ao leque juntaram-se alguns iranianos, turcos, palestinos, lituanos, polacos, filipinos, letões, russos, eslavos, checos, franceses, italianos, espanhóis, e uma boa quantidade de holandeses, pelos sete meses em que trabalhei no hangar 14 do Schiphol airport, em Amesterdão.

E claro está, britânicos também, uma vez que, dito desta maneira estou a englobar os meus bons amigos ingleses, escoceses, gauleses.

Ao longo da minha vida fui conhecendo muita gente, muita mais foi-se cruzando no meu caminho e eu no delas. De muitas ainda me lembro bem dos seus rostos e nem sempre me lembro dos seus nomes. Outras, lembro os seus nomes, mas os seus rostos vão-se esfumando da minha memória, até desaparecerem quase por completo.

De algumas tenho enorme saudades, de outras nem por isso. Algumas recordo porque as quero recordar, outras faço um esforço comedido apesar de tudo, porque sou simples e não guardo rancores, para as esquecer.

No passado sábado saí com um grupo de amigos, o Mike, o Ben C, e o Bem H, o Rod, O Tony, o Mark, o Jack.

Falo neles não porque me merecem maior ou melhor atenção do que aqueles meus amigos felgueirenses, alguns dos quais da minha infância, mas porque são os mais recentes.

É que… juntei mais amigos, ao meu leque de amigos, e coisa mais preciosa no mundo não há…

António Magalhães 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA