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Documentário sobre as vítimas da ditadura portuguesa

A realizadora Marta Pessoa estreia, este sábado, o filme “O medo à espreita”, sobre o ambiente de repressão no Estado Novo e que, segundo a autora, merece reflexão, porque se notam hoje “sinais sub-reptícios de incentivo à denúncia”.

O documentário, que se estreia no Dia da Liberdade, no âmbito do festival IndieLisboa, cruza depoimentos de pessoas que foram vigiadas, interrogadas e, em alguns casos, torturadas pela PIDE, a polícia política da ditadura, com relatos de informadores e fotografias de época.

Marta Pessoa explicou à agência Lusa que este não é mais um filme português sobre tortura, prisão ou sobre a PIDE. É um olhar sobre o passado a partir da atualidade, por verificar que, na sociedade, parece estar a “surgir devagarinho e sem se dar por isso” uma mesma sensação de medo.

“Ou por causa dos empregos, por razões sociais, as pessoas não se chegam à frente, ou não arriscam ou não fazem greve. Há coisas que parece que ainda perduram”, disse.

Para este documentário, a autora recorreu aos arquivos da Legião Portuguesa, depositados na Torre do Tombo – alguns nunca tinham sido abertos e consultados -, selecionando excertos de depoimentos de pessoas que eram informadoras do regime, que vigiavam sobretudo comunistas.

Esses relatos, feitos em vários locais do país, de vigilância em cafés e nas ruas, sobre movimentações de pessoas por suspeita de serem “perigosos comunistas”, são lidos no filme pelos atores Vítor d’Andrade, Francisco Nascimento, Miguel Loureiro e Miguel Melo.

“Quem eram os agentes? Porque é que não houve medidas mais radicais, porque é que foram condecorados e tiveram direito a pensões? O que é a polícia política?”, pergunta Marta Pessoa para explicar o interesse em fazer este filme.

Sobre a relação entre vigilante e vigiado, Marta Pessoa entrevistou ainda mais de uma dezena de pessoas que estiveram na mira do regime ou foram presas, torturadas e ficaram com ficha na PIDE. Entre elas estão Helena Pato, Teresa Dias Coelho, Raimundo Narciso, Margarida Tengarrinha, Artur Pinto e Custódia Chibante.

Do ponto de vista formal, o documentário alude aos filmes de terror, explica a realizadora. Rodado a preto e branco, o filme inclui vários momentos de silêncio, ecrã negro e testemunhos como em registo de interrogatório, enfatizando essa imagem de repressão, vigilância e medo.

“Há aqui um jogo de espelhos perverso. O próprio regime [de Salazar] tinha medo, sobretudo depois da guerra [II Guerra Mundial], porque a Europa estava a mudar e Portugal não. Havia o medo da revolução e medo quando a oposição deixou de ser o comunismo”, disse.

Marta Pessoa passou dez meses de volta dos arquivos históricos e, não sendo historiadora, reconheceu as dificuldades em fazer trabalho de investigação.

“É impossível fazer-se esse trabalho [de investigação em Portugal] se não há apoio nem estruturas”, disse.

O festival IndieLisboa começou na quinta-feira e termina a 03 de maio.

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