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Do ser e do saber

Não sei quem sou sempre,
nem em toda a parte.
Sei quem sou hoje e aqui,
e também nestes casos,
nem sempre.

Porque eu vivo noutros tempos,
em várias linhas temporais,
em planetas ucrónicos,
distópicos, utópicos,
muito para além da minha imaginação,
sozinho não chegava lá.

Podia dizer que sou princesa,
peixe-dragão, planta senciente
sob um oceano de gelo antigo,
insecto-quasar, homem-esfregão,
paladino metatrone, poeta, cabrão,
tudo ao mesmo tempo,
mas não digo!

Como sei?
São as minhas partículas
que o gritam a todo o instante,
conversas animadas,
comunicações de luz,
transmissões quânticas
graças a pontes mentais de Einstein-Rosen,
alcântaras espirituais,,
singularidades termodinâmicas
não-lineares de Wheeler-Misner
a níveis subconscientes,
sub-moleculares, subatómicos,
a espuma entre os mundos paralelos.

Ignorar esta percepção metapsíquica
que se impõe a mim,
este claro-saber, esta clarisapiência,
esta clari(e)vidência
é ser mouco ou louco.

Para alguns ser doido
é ouvir as vozes interiores,
“Oiço vozes!”,
uiiii, que repouse
já e chama-se o 112!
Eu cá acho que não é muito são
quem nunca ouviu
a sua própria voz interior
(ou, pelo menos, uma delas!).

E assim, já que nesta roda gigante,
montanha russa multiversal,
a rodada é gratuita,
(mas provoca tonturas, sim!),
viajo, faço turismo por
mundos, luas, sóis, vias lácteas,
superterras, superluas, supersóis,
buracos negros e brancos,
horizontes de eventos,
enxames de galáxias e vida,
do supervazio de Eridani
a Laniakea e outros céus
incomensuráveis,
neste verso e noutros.

”Ser eu toda a gente e toda a parte”
é isto, Fernando: ter várias linhas de vida
simultânea e constantemente,
conhecer os pontos
de divergência e de confluência
do espaço-tempo hemofílico.

E ter a consciência disso tudo,
sem passar por alienado
esquizofrénico, ébrio ou danado.
Não, não fumei (ainda não!).

Por isso escrevo,
deste modo o comprimido vermelho
passa melhor e a suposta demência
assim disfarçada em arte, humor
ou extravagância poética
não causa abalo nem dor
e é mais cosmética.

No entanto, bem sei,
sou apenas vibração ténue
na corda do Continuum.

Lá ao longe, fora de mim,
a sinfonia chinfrinesca
de tudo o que julgamos saber,
a herança gloriosa de 70 séculos
de conhecimento e progresso,
toca mais alto do que as vozes
da tua alma velha.
E é um barulho terrível,
a Civilização a vangloriar-se.

Mas, tu tens de aprender a escutar-te,
fazer, por um momento, pausa no que sabes
e sentir o que verdadeiramente és.

JLC29082018

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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