Deste lado do mundo,contemplo o horizonte, tão perto e tão distante. Sinto-me prisioneira de um corpo e de um tempo que julgo nunca terem sido meus.Vagueio pelas praias desertas, nesta madrugada morna, e sinto-me só. Não é uma solidão que magoe, é uma solidão sustentada pela vida e pelo desejo de abandono.
O tempo numa eterna fuga, ora para o passado, ora para o futuro, fugindo sempre às contrariedades do momento.
Se voltar ao passado e me fundir nas memórias, serei sempre a ausência dos que já partiram, e dos que ficaram um dia para traz nesta curta, mas longa caminhada.
Se correr em direcção ao futuro, serei sempre a esperança de me encontrar numa outra dimensão onde me esperam promessas de sonhos germinados em terra fértil!
Vivo sempre nesta ambiguidade de ser e de sentir.
Trago comigo as memórias e a nostalgia de um pais que deixei, as sombras do passado a banhar-me o corpo ao cair da noite. Chegam de mansinho, vestem-me o corpo e embalam-me o adormecer das noites de insónia. Trago também nas auroras em que desperto renascida a esperança de me fundir em novas vitórias, e correr em direcção a horizontes desconhecidos.
As vezes sinto-me marioneta do presente , nas mãos de um criador invisível! E, assim, os dias vão passando, como um rio que corre lentamente por entre serras vales e chega um dia enfim ao mar.
E pergunto-me:
Será o mar o fim ou o recomeço?
Deste lado do mundo onde me encontro agora, figura quase imperceptível na grandeza do universo que me envolve, protege, sinto ser sempre o fim de algo e recomeço do que me espera do outro lado do mar. No centro de um horizonte de esperança.