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Coleção portuguesa de Arte Bruta em exposição na Áustria

A Coleção Treger Saint Silvestre, integrada na exposição permanente da Oliva Creative Factory, em São João da Madeira, vai ceder, a um centro cultural austríaco, diversas obras de Arte Bruta assinadas por mulheres, revelou fonte da instituição portuguesa.

As peças daquela que é apontada como uma das maiores coleções mundiais de Arte Bruta – também conhecida como Arte Marginal – serão assim expostas de 15 de fevereiro a 23 de junho no Bank Austria Kunstforum Wien, que se define como “a mais bem-sucedida instituição de exposições da Áustria”, e que, só na mostra “Flying High: Women Artists of Art Brut”, conta receber cerca de 150.000 visitantes

“O discurso sobre este género artístico ganhou uma dimensão extra em anos recentes, com a expressão ‘Arte Bruta’ a deixar de focar-se exclusivamente em obras de utentes de instituições psiquiátricas e a abranger também artistas ‘mediúnicos’, os chamados ‘lobos solitários’ e o trabalho de artistas com incapacidades”, explicam as curadoras Ingried Brugger e Hannah Riger na apresentação da exposição.

“As barreiras históricas entre Arte Bruta e ‘Alta Arte’ parecem estar a ser rapidamente destruídas, a relevância dos critérios estéticos está a sobrepor-se ao interesse do diagnóstico e o que até agora foi escondido ou marginalizado está a ser empurrado para a superfície”, acrescentam as especialistas.

É nesse contexto de afirmação que Veronika Rudorfer, que faz parte da equipa de curadoria do Kunstforum Wien, situa a aposta específica na Arte Bruta feminina. O objetivo é assegurar uma apresentação abrangente de artistas que, em toda a sua “diversidade internacional e dimensão contemporânea”, marcaram os últimos cem anos dessa expressão plástica.

Veronika Rudorfer justifica: “Cada história de uma autora de Arte Bruta está relacionada de perto com a história da emancipação feminina em geral, mas é frequente que a discriminação se manifeste ainda mais dramaticamente neste domínio artístico concreto. As artistas-mulheres são muitas vezes ‘marginais entre os marginais’ porque a Arte Bruta ainda tem que lutar por um estatuto igual ao da ‘Alta Arte’ academicamente reconhecida e as disparidades entre homens e mulheres são mais evidentes nas avaliações do mercado, o que determina a visibilidade dessas autoras”.

Reunindo cerca de 300 obras de 90 artistas de várias nacionalidades, a mostra “Flying High: Women Artists of Art Brut” – título traduzível por “Voando Alto: Mulheres Artistas da Arte Bruta” – procurará assim dar a conhecer a forma como essas criadoras afirmaram as suas identidades, refletindo nas suas obras os seus mundos interiores, as suas mitologias individuais e as suas histórias de vida pessoais.

“Frequentemente influenciadas por doença mental, por isolamento, por abuso sexual, exclusão e outras dificuldades, as artistas femininas escolhem temas e padrões diferentes dos dos artistas masculinos”, explica Veronika Rudorfer. “Os seus métodos de produção, materiais, técnicas e suportes também são distintos”, conclui.

Além da Coleção Treger Saint Silvestre, a mostra que é inaugurada a 15 de fevereiro no Kunstforum Wien também vai recorrer a empréstimos de entidades como o Museu Gugging da Áustria, a Coleção Prinzhorn da Alemanha e a Coleção de Arte Bruta de Lausanne, na Suíça. Haverá ainda cedências por parte de instituições de nacionalidade francesa, britânica e japonesa.

Numa seleção do próprio Bank Austria Kunstforum Wien, de São João da Madeira para Viena seguirão várias obras da francesa Jacqueline B., da brasileira Marilena Pelosi e da a chinesa Guo Fengyi.

Jacqueline B. (1928), que despertou as atenções do pintor Jean Dubuffet, frequentou duas escolas religiosas, mas aos 23 anos mal sabia ler e escrever, após o que se dedicou ao desenho com particular inventividade.

Marilena Pelosi (1957), forçada a abandonar o Brasil para escapar ao casamento forçado com um sacerdote vudu, afirmou-se mais tarde por desenhos que cruzam catolicismo exuberante com macumba febril.

A chinesa Guo Fengyi (1942-2010), para atenuar graves crises de artrite, adotou os métodos da filosofia Qi-Gonq e, sob o efeito de visões, criava, em extensas tiras de papel de arroz, elaboradas figuras femininas em formas espectrais, umas vezes serenas e, outras, monstruosas.

O Kunstforum Wien (Fórum de Arte de Viena), que soma mais de um quarto de milhão de visitantes por ano, assume a divulgação de arte moderna e contemporânea, como principal missão. A sua constituição remonta aos projetos iniciais de apoio e divulgação artística do antigo banco austríaco de Comércio e Turismo (Österreichische Creditanstalt für Handel und Gewerbe).

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