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Centenário do poeta Alfredo Estebaínha

Alfredo Estebaínha, poeta felgueirense, nasceu em quatro de Março de 1919 – há cem anos, em Aljustrel, distrito de Beja.

Apesar de aljustrelense, mineiro, não lhe dispenso a condição de felgueirense com honra.

Em Felgueiras, aonde se radicou na década de 50 do século X X , publicou “Do Fundo da Mina” em 1991, o seu primeiro livro. “P`ra Cá da Planície” veio a lume em 1994 e “Da Faculdade da Vida” em 1997.

Alfredo António Estebaínha não frequentou a escola, mas já em Felgueiras propôs-se ao exame da quarta classe de adultos, sem recorrer a professores.

O poeta começou a versejar era ainda criança e aos dezoito anos publicou o seu primeiro poema em décimas. Tal como um poema que me dedicou no início de mil novecentos e oitenta e nove.

Veio para Felgueiras para construir o edifício da Câmara Municipal, mas aqui se estabeleceu como construtor civil passando a construir importantes obras civis pelo Norte do País.

No período quente da Revolução dos Cravos, em Portugal, Alfredo Estebaínha dedicou-se muito mais intensamente à produção poética, já registada em papel porque entretanto tinha o exame da quarta classe, como disse.

Mestre Estebaínha publicou também trabalhos em vários jornais circunvizinhos. Ganhou vários prémios, especificamente em Jogos Florais.

A poesia de Alfredo Estebaínha é na generalidade muito erudita, eloquente e profunda, contrariando quem o toma por poeta popular.

Este velho poeta foi meu amigo, desde que eu era ainda rapaz, e foi totalmente retribuído na amizade e ternura que me dispensava.

Nos últimos tempos, já debilitado, quando me via, logo me reconhecia, mesmo que eu ainda não o houvesse visto. Vinha ele ter comigo com alegria e sorrisos, numa atitude que mostrava todas aquelas faculdades intelectuais invejáveis.

Num dos últimos encontros, ambos nos emocionámos muito, recordando os velhos tempos em que privávamos com mais regularidade e também com saúde.

Eu mesmo bati à máquina pelo menos um livro seu para publicar e vários trabalhos avulsos que ele insistiu eu fizesse revisão.

Do mestre Alfredo Estebaínha há ainda muitos trabalhos que a família vem agora publicar pelo centésimo aniversário natalício. Sabia que gostava de ver todos os seus trabalhos publicados, pois à volta de quinze anos, encontrei-o na berma da estrada perto de sua casa, esperando um industrial felgueirense que lhe prometera patrocinar um novo livro e o mestre sabia que o industrial passaria ali sensivelmente àquela hora.

Nessa altura fui surpreendido por alguma perturbação do velho poeta, que, vim a saber, sofrera um problema de saúde. Essa situação deixou-me muito constrangido, acabando por não conseguir esconder do poeta o impacto que tive, fazendo uma daquelas figurinhas que só um mestre e amigo como Alfredo Estebaínha provocava num ser que o admirava havia muitos, muitos anos.

Na memória ficam umas sacanices, com bonomia e educação que sempre foi seu mister.

Mário Adão Magalhães

(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico)

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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