ao longo da vida vais erguendo
esse miraculoso enclave entre
o pedaço de mundo que te coube
e a vastíssima estepe da morte
planura perfeitamente avistável
da janela do teu quarto
durante essa imperceptível órbita
adquires certos poderes
permissões demiúrgicas
saberes cósmicos e frutescentes
porém a escuridão continua a encandear-te
e é-te ainda de todo interdito
o acesso às clareiras do poente
diante de ti
num lume manuseável e compacto
deflagra uma estante com dimensões litúrgicas
como se estivesses perante
uma árvore estrelada e incansável
ocorrem-te aforismos esplêndidos
olhas para as lombadas
para todos os itinerários ali guardados
olhas para as tuas mãos e
obedecendo a um rito ancestral
pegas num livro ao acaso
abre-lo e folheias umas quantas páginas
confirmas que és um pássaro concluso
na orla de um poema tacteias pensamentos consolativos
e no teu semblante desponta uma seara jubilosa
sem os místicos herbários dos poetas
a tua biblioteca
jamais estará completa
dm