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Auschwitz – o arrepio que asfixia

A 27 de janeiro relembra-se a libertação do campo de concentração nazi em Auschwitz-Birkenau, na Polónia, pelas tropas soviéticas. Os primeiros campos nazis foram construídos em 1933, logo após a tomada de posse de Hitler como Chanceler da Alemanha a 30 de janeiro desse mesmo ano. Convém perceber como é este homem chega ao poder através de eleições livres.

De todo o inferno que foi (e é) o nazismo custa-me perceber (porque não há compreensão possível) como foi possível alguém votar numa visão tão putrefacta e desumana para um país. Hitler foi eleito. Não se tratou de um golpe, ou algo parecido, apesar da tentativa frustrada de 1923 quando se deu o “Golpe da Cervejaria” que custou cinco anos de prisão a este ditador fascista. Foi nesse período de encarceramento que Hitler escreveu “Mein Kampf” (abril de 1924). Um ano depois foram criadas as SS, em Munique, que se tornam a guarda pessoal de Hitler.

Fundando em 1920 o partido nazi representava, oito anos depois, 2,6% dos eleitores. Em 1932 Hitler perdeu duas eleições e a 31 de julho, com as eleições parlamentares, consegue 37,4% dos votos. O caminho foi sendo conseguido praticamente num período de treze anos. Hitler foi democraticamente eleito e, nesse mesmo ano de 1933 a 14 de julho,, o partido nazi torna-se o único partido autorizado numa Alemanha atingida por 5,6 milhões de desempregados. Serviram de bode expiatório os judeus, os comunistas, os sindicalistas, os ciganos, todos os que fossem diferentes, adversários e “danosos” para uma Alemanha que perdeu a alma.

Dachau, primeiro campo de concentração alemão, foi construído a 16 km de Munique. Com a chegada da guerra, em 1939 e com a ocupação nazi, crescem os campos de concentração com a função de extermínio, resultado da presunção nazi de que os polacos e os eslavos de leste eram, também, uma “raça inferior” e teriam o mesmo fim que os ciganos e os judeus: extermínio. Na Polónia foram construídos seis campos (Auschwitz, Belzec, Sobibor, Treblinka, Majdanek e Kulmhof am Ner) e os prisioneiros que chegavam eram imediatamente assassinados nas câmaras de gás. Auschwitz era o maior campo de concentração e de extermínio. Entre 1940 e 1945 os nazis transportaram 1,1 milhão de judeus, 140 a 150 mil polacos, 23 mil ciganos, 15 mil prisioneiros soviéticos e 25 mil prisioneiros de outras nacionalidades. Quase todos foram assassinados. Auschwitz (o campo matriz) era pequeno demais para tanta maldade e o “filho do diabo” mandou construir Auschwitz II – Birkenau e Auschwitz III – Buna.

Tudo em Auschwitz, ainda hoje, é penoso. De Cracóvia a Auschwitz sente-se a morte da alma humana. No percurso bastante isolado, as árvores contam histórias de quem tentou fugir, de quem chegou e já não saiu. A alma da humanidade ajoelha-se e ainda chora, 75 anos depois, Auschwitz. Do trabalho até à exaustão, da parede e do bloco da morte seguimos de arrepio em arrepio até á câmara de gás e o crematório. A imaginação e a memória estremecem e caem por terra na sala da asfixia. O Portão da Morte, em Auschwitz-Birkenau, será sempre a lembrança mais escura da humanidade. O arrepio que asfixia.

Como foi possível homens e mulheres obedecerem cegamente a uma ideologia apodrecida e de mera matança? Recordo noutro ponto, do muito que há na memória coletiva do nazismo, as crianças de Hamburgo… as vinte crianças que, a 20 de abril de 1945, foram deixadas no campo de Neuengamme enforcadas “como se fossem ganchos” (palavras do Cabo e carrasco das SS Johann Frahm). Provavelmente, Deus morreu nesse dia com os meninos de Neuengamme. Desde aí, ficamos por nossa conta.

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