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Aniversário do perecimento do meu pai

O meu pai,
homem de Fé
em toda a sua vida
só faltara uma vez à missa.
Veja-se a ironia – à hora de sair
os sapatos em que era mestre
magoavam-lhe os pés.
Homem de Fé,
tenho aí como não podia deixar de ter
a sua Bíblia que lia avidamente,
tinha Fé que naquele Domingo
não lhe apetecendo levantar
para ir à “missa das sete”
a minha mãe estranhou, o pai continuava com Fé de se levantar
para a “missa das nove”.
A mãe estranhando o facto, começou
a ficar preocupada e a lembrar-lhe que
chegava a hora da “missa das onze”.

Às tantas o meu pai diz:
– Oh! Hoje não vou à missa.

Tudo se desabou.

– Queres que te chame um médico?!
Indagou a minha mãe.

– Oh! Não.
Deixa estar.

Continuou com a sua Fé.
– Terça feira tenho consulta
marcada com o doutor Dias Cunha…
– Está bem. Mas não vais esperar até lá.
Falava a alma da minha mãe apoquentada
pela estranheza dos factos.

Domingo à tarde, começam a chegar
os irmãos, seus filhos,
e foram à procura
do doutor Dias Cunha. Nunca desistira do Dias Cunha
que durante dezenas de anos
não detectou o seu problema.

Os meus irmãos não o encontraram.
Encontraram o doutor Mendonça
quem, por sua vez, havia tido uns negócios
com os meus avós, e o pai
começava a contar histórias que terão ocorrido
nesses terrenos – quintas, sei lá.

O médico de pronto diz que o caso era grave.
Assim mesmo. Que não adiantavam as conjecturas
do pai.

E diz que “tem que ir já para o Hospital de Guimarães”.

Foi o guinchar por todo o lado dos meus irmãos,
mesmo aqueles que haviam ido à Guerra.

Nunca da família alguém tinha ido a um hospital.
O seus nove filhos nasceram todos em casa.

– E vai de ambulância. Caustica ainda mais o médico.

– Então senhor doutor, nós temos aí os carros,
levámo-lo amparadinho.

– Não. Vai de ambulância e já.
Assim foi.

Em casa não sei ainda hoje dizer o que se passou
Sei lá.
Vários acontecimentos, eu ainda lembro. Assisti.
Vários outros ouvi ao longo da vida lamentar.

Ao fim de três dias lá veio a notícia.
E o diagnóstico.
Uma úlcera péptica no estômago.

Uma enfermeira contara: coitadinho. Pediu tanto para falar com os filhos.
E especialmente o Manuel…

Depois levaram-no para um buraco fundo e frio.
Eu tinha doze anos. Nem fui ver o buraco. Fiquei em casa
a ver o cortejo fúnebre pela janela.
Mas tive a infeliz experiência de ver mais vezes.

Mário Adão Magalhães
2013/12/15, 02, 37h

(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico)
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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