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A prosa límpida e densa de Rosângela Vieira Rocha

Mineira de Inhapim, moradora de Brasília desde os anos 60 – embora tenha vivido em cidades diferentes, mas sempre retornando à capital do país – a escritora, jornalista e professora da Universidade de Brasília (UnB) Rosângela Vieira Rocha teve seu primeiro romance, Véspera de lua, vencedor do Prêmio Nacional de Literatura da Editora da UFMG, publicado em 1990. De lá para cá, vieram Rio das pedras (2002), Pupilas ovais (2005), A festa de Tati (2008), Fome de rosas (2009), Dias de santos e heróis (2009), Três contra um (2011), Nem tudo foi carnaval (2012), Janaína, a bailarina (2012), O macuco Felício (2014) e O indizível sentido do amor (2017), além de participar da Antologia do conto brasiliense (2004), organizada por Ronaldo Cagiano, e Mais de trinta mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira (2005), organizada por Luiz Ruffato, entre outras.

Dona de uma prosa límpida, de rara concisão e densidade psicológica, Rosângela Vieira Rocha vem, discretamente, há mais de três décadas, deixando sua marca de originalidade na prosa contemporânea brasileira.

Em que momento da vida a materialização da pulsão da escrita?

Desde muito pequena, logo que aprendi a ler, eu já sentia um prazer especial com a leitura. Naquela época – década de sessenta – as professoras mineiras eram famosas por seus métodos de alfabetização, considerados muito avançados. Aprendi a ler com O livro de Lili – a menina que gostava de doce. O método se chamava Global, se não me engano, e era interessante e inovador. As crianças não faziam fichas, não ficavam soletrando, e certo dia começavam a ler tudo de uma só vez. Às sextas-feiras as professoras liam uma história para os alunos, geralmente um clássico da literatura infantil. Nesse tempo entrei em contato com o trabalho de autores como os irmãos Grimm, Andersen, Dickens. Eu me sentia um tanto deslocada em relação aos colegas, pois me emocionava muito durante a leitura, até chorava, se as histórias fossem tristes. Entre os contos infantis clássicos, muitos são extremamente tristonhos. Invejava a rapidez com que meus colegas saíam do “clima” das histórias e, saltitantes, iam brincar na hora do recreio como crianças “normais”, enquanto eu levava um tempão para digerir e assimilar o sentido dos contos. Ficava horas parada, refletindo. Acho que posso dizer que fui fisgada pela literatura nessa fase. Quanto à escrita, para mim sempre foi uma consequência da leitura. Como eu lia muito, fazia redações que as professoras elogiavam. De tanto elas dizerem que eu tinha jeito para a escrita, acabei acreditando. Inconscientemente, creio que já sabia que seria uma escritora.

É possível eleger as maiores influências literárias recebidas?

Não tenho essa resposta na ponta da língua, mas vou falar sobre um livro que foi um marco na minha vida. Nasci numa pequena cidade da zona da mata mineira, Inhapim. Não tínhamos bibliotecas e nem sequer livrarias. Livros eram objetos de luxo, muito cobiçados. Quando alguém viajava para uma cidade maior, geralmente por motivo de saúde, pedíamos que trouxesse livros para nós. Eu fazia parte desse grupo de leitoras sem livros, embora ainda fosse criança. Por isso, quando o livro chegava, havia uma fila de espera. Como eu era a mais nova da turma, ficava sempre por último, contando os dias para chegar a minha vez. Líamos de tudo, principalmente obras açucaradas da Coleção Menina e Moça e da Biblioteca das Moças, pois os critérios de escolha não podiam ser muito apurados, naquelas circunstâncias. Eu devia ter uns nove, dez anos, quando chegou às minhas mãos um exemplar de Orgulho e preconceito, de Jane Austen, depois de ter sido lido por várias moças da cidade. Fiquei fascinada com a história, especialmente com a linguagem refinada, cheia de humor e de ironia, diferente de tudo que eu conhecia. Cheguei a decorar trechos inteiros do livro. Mamãe não gostava muito que eu lesse ficção – em geral nossas mães não gostavam – por medo de atrapalhar os estudos. Além disso, ela, que era sensível, mas também pragmática, temia que eu me tornasse excessivamente sentimental e inapta para enfrentar a vida. Mas fiquei perplexa quando percebi que faltavam mais de trinta páginas, o exemplar de Orgulho e preconceito se estragara de tanto passar de mão em mão e não pude ler o final. Uma verdadeira desolação. Quando me mudei para Brasília, uma das primeiras coisas que fiz foi comprar dois exemplares do livro, que releio periodicamente. É claro que naquela época eu nem desconfiava da importância de Jane Austen na literatura universal. Ela continua sendo uma das minhas autoras prediletas.

A formação em direito e jornalismo se deu por vocação ou foi fruto da dificuldade de se viver como escritor no país?

Nunca pensei em viver da escrita de ficção. Quando fiz vestibular para o curso de comunicação, habilitação em jornalismo, queria ser jornalista mesmo. Cheguei a pensar em fazer letras, mas o jornalismo me pareceu uma carreira que oferecia maior número de opções. Passei pouco tempo em redações de jornais, mas fiquei anos em assessorias de imprensa e em gabinetes de Ministros. Assessorei o Ministro Celso Furtado, no Ministério da Cultura. Por essas voltas que o destino dá, posteriormente fiz concurso para professora da FACOM/UFBA e comecei a carreira de professora universitária em Salvador. Nessa época – já tinha mestrado em comunicação, feito na ECA/USP – fiz vestibular para direito na UCSAL – Universidade Católica do Salvador, onde cheguei a dar aulas, também, no curso de publicidade. Mas essa segunda graduação se deu mais por curiosidade intelectual, pois eu queria ter uma visão jurídica do mundo. Tenho carteira da OAB, mas nunca advoguei, porque era professora com dedicação exclusiva. Depois de oito anos, consegui me transferir para a Universidade de Brasília e retornar à cidade que considero a minha segunda terra.

A longa experiência acadêmica, como professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade de Brasília (UnB), permite algum balanço? Concorda com Darcy Ribeiro, um dos fundadores de sua universidade, para quem a crise da educação em nosso país é, antes de tudo, um projeto de nossas elites políticas e econômicas?

Como disse antes, fui professora na UFBA e na UnB. Tenho grande admiração pelo professor Darcy Ribeiro e o maior respeito por suas ideias. Creio que a crise da educação no Brasil é algo bastante abrangente, com raízes históricas muito profundas. Há algum tempo li um texto publicado pelo jornal Zero Hora sobre uma pesquisa da Federação do Comércio do Rio de Janeiro, segundo a qual 70% dos brasileiros não leram um livro sequer em 2014. Nessa matéria há uma declaração da professora Regina Zilberman, do Instituto de Letras da UFRGS, lembrando que a alfabetização no país teve início há menos de 100 anos e passou a ser obrigatória somente em meados da década de trinta. Segundo Zilberman, saímos atrasados em relação aos demais países, sem contar que a cultura da oralidade, no Brasil, sempre foi mais forte que a cultura letrada. O livro nunca teve aqui a importância que teve e continua tendo na Europa, por exemplo. Visto dessa perspectiva, parece que o problema da educação sempre esteve presente e nunca foi enfrentado com a determinação e o rigor que merece. Creio que aí, sim, entraria a má vontade das elites e a tibieza que os governantes, de modo geral, têm demonstrado na busca de soluções.

Antecipando um tema muito recorrente na atualidade, seu romance Véspera de lua, publicado nos anos 90, trazia como protagonista uma personagem homossexual. Como foi sua recepção pela crítica e público na época? Por que o republicou?

Este romance recebeu o Prêmio Nacional de Literatura Editora UFMG, em 1988, e foi publicado em 1990. É o segundo que escrevi, mas o primeiro publicado. O primeiro, Rio das pedras, foi lançado 12 anos depois, só para que se tenha uma ideia de que, em se tratando de literatura, tudo é mistério. Na época em que escrevi Véspera de lua, ou seja, na segunda metade da década de oitenta, não se falava em TPM, nem em cólicas menstruais, nada disso. Havia um silêncio imenso em torno da menstruação, possivelmente pelo fato de ser inerente ao gênero feminino. Nos últimos anos ocorreram importantes mudanças, tanto no que diz respeito às concepções do “feminino” quanto no que tange à homossexualidade. A história gira em torno de duas questões consideradas tabus na época. De tiragem limitada, publicado por uma editora universitária, Véspera de lua esgotou-se rapidamente, tendo recebido uma crítica extraordinariamente satisfatória. Sempre tive vontade de fazer uma segunda edição, e somente em 2017 surgiu a oportunidade. Fiquei surpresa com a acolhida positiva que continua tendo, o que me leva a pensar que a história não envelheceu, ainda é atual e está na ordem do dia.

Em Rio das pedras, temos a vida provinciana como cenário. Apesar de ter passado a maior parte da vida em grandes cidades, como Brasília, Salvador e São Paulo, é acertado dizer que a menina nascida e criada em Inhapim, no interior de Minas Gerais, contribui com o que há de mais significativo em sua ficção?

No meu entendimento, a infância é a principal fase da vida. Tudo vem daí, dos nossos primeiros anos: o caráter, a personalidade, os padrões de gosto, enfim, já estamos, de certa maneira, prontos. A infância no interior apresenta certas peculiaridades, pois o mundo considerado adulto e o infantil se mesclam, os limites não são muito nítidos. Crianças do interior vão a batizados e a velórios com a mesma naturalidade, não são tão protegidas como as das grandes cidades. Essa participação na vida dos adultos faz com que amadureçam mais depressa, talvez. Saí de Inhapim com 14 anos, para estudar em Brasília. Quando reflito sobre esses primeiros anos, percebo que eles guardam ainda certo frescor, estão muito presentes na minha memória, se comparados a períodos bem mais recentes. Creio que a noção da passagem do tempo, para uma criança, é bastante diferente. Aqueles anos passaram devagar, havia uma largueza, uma calma e uma tranquilidade que não percebi em outras fases. Por isso, creio que a infância é definitiva na vida dos escritores.

Pupilas ovais, seu único livro de contos, foi visto por alguns críticos como uma leitura do universo feminino. É por aí mesmo?

Muito se discute atualmente sobre a literatura de autoria feminina. Em várias ocasiões ouvi escritores e escritoras desqualificando essa questão, afirmando que há literatura e pronto. É claro que essa é a posição mais cômoda, que resolve o assunto de cara, não é necessário refletir e dispensa comentários. Mas, na realidade, não é bem assim. Há uma bibliografia bastante extensa a esse respeito e cursos muito interessantes, também. Não gosto da expressão literatura feminina, que já se encontra investida de conteúdos ideológicos. Os estudos feministas cunharam a expressão “literatura de autoria feminina”, que julgo mais apropriada. Tenho lido bastante sobre o tema e acho que não restam dúvidas de que a literatura escrita por mulheres apresenta certas peculiaridades. A ideia encontra respaldo na sociologia e na história. As mulheres passaram séculos confinadas dentro de casa, sem uma noção mais concreta da aldeia ou cidade onde moravam. O mundo, para elas, era visto de dentro, e o lugar mais próximo do exterior era a fresta das janelas. A esse respeito, pesquisadoras espanholas criaram a expressão mujeres ventaneras, para denominar as pioneiras da escrita, que ousaram chegar às janelas de suas casas para ver o mundo lá fora e transformá-lo em histórias. Essa expressão era usada na Idade Média com um sentido pejorativo – as ventaneras eram mal faladas – e foi retomada pelas feministas com novo significado. Pupilas ovais é composto de 13 contos e a maioria traz mulheres como personagens principais, heroínas ou vilãs. Como mulher, não creio que eu consiga olhar o universo a partir de outra perspectiva. Será sempre da ótica do gênero feminino, embora eu possa circular livremente pelas cidades e não precise mais de ficar escondida atrás de janelas, literalmente falando.

Seu romance Fome de rosas, pode ser lido como um libelo ao vazio em que o homem contemporâneo, em grande escala, está entregue. Acredita que a arte tem algum papel para reverter isso?

Sim, creio que Fome de rosas fala fundamentalmente de um vazio e de uma fome que nada é capaz de saciar. No livro, a anorexia é uma metáfora relacionada a essa questão, que possui raízes muito antigas. É estranho perceber que na Idade Média já existia anorexia. Lendo sobre as vidas de santas do catolicismo, formulei a hipótese de que algumas delas talvez tivessem a doença. Nos jejuns muito prolongados, a partir de certo momento não se sente mais fome, e sim uma sensação de euforia, de deslumbramento, antes que o estágio da fraqueza total se instale. Mas, afora casos isolados, pode-se considerar a anorexia como uma doença típica da contemporaneidade, que surgiu em países ricos, onde existe objetivamente abundância de recursos, e foi se estendendo aos países periféricos. Outra característica da doença é que estatisticamente existem poucos homens anoréxicos. De modo geral, a maioria das pessoas que padecem desse mal, dificílimo de ser curado, é do gênero feminino. Conheço, inclusive, psiquiatras que não aceitam pacientes anoréxicos, por julgarem que não têm uma cura definitiva. Quanto à arte, especificamente a literatura, creio que um dos seus principais papéis é nutrir o espírito humano, mostrando que podem existir outras realidades, mais compensadoras e abrangentes que a realidade cotidiana. Não poderia afirmar que a arte é capaz de reverter completamente esse quadro, pois o mundo contemporâneo enfrenta problemas extremamente sérios, como o terrorismo, por exemplo. Mas estou certa de que a literatura traz elementos para reflexão bastante enriquecedores nesse momento histórico que estamos vivendo, em que existe, sem dúvida, uma crise de valores muito extensa e profunda.

O que a levou a escrever O indizível sentido do amor, seu romance mais recente? E o que dizer da bela recepção crítica que obteve?

Como o próprio título indica, é uma história de amor. Mas é também uma história de luto, de dor e de perda, em que realidade e ficção se mesclam. Meu marido, que foi preso e torturado pela ditadura militar brasileira, faleceu em 2012, aos 66 anos. Quando o conheci, no início dos anos 70, ele já tinha saído da prisão. Como era uma pessoa muito reservada, embora tenhamos sido casados durante 35 anos e tivéssemos um relacionamento muito harmonioso, ele não falava sobre essa experiência. Sempre respeitei seu silêncio, por saber que ele consideraria qualquer insistência minha como “invasão de privacidade”. Era muito cioso de seus assuntos. Depois de sua morte, senti uma forte necessidade de entender melhor, de tentar refazer esse percurso – saber o que realmente lhe havia acontecido naqueles anos terríveis – e empreendi uma busca nos arquivos da ditadura. Insatisfeita com as informações encontradas, fui a Portugal procurar a pessoa que fora líder do partido clandestino ao qual ele pertenceu na época, o Partido Revolucionário dos Trabalhadores – PRT. Esse homem, falecido em 2017, se chamava Alípio de Freitas e é considerado um símbolo das lutas contra regimes de exceção não apenas no Brasil, como em Portugal, Moçambique, enfim, é uma figura transcontinental. Não se trata de uma autobiografia, a estrutura é de romance, e utilizei elementos de ficção para preencher lacunas e vazios que a história apresentava. A boa acolhida do livro tem me surpreendido, especialmente porque até hoje recebo feedbacks positivos de idosos, jovens, intelectuais, bem como de pessoas extremamente simples. O livro tem sido muito elogiado pelos leitores e por críticos importantes, também.

Como tem sido a experiência de escrever para crianças? A literatura infantil e juvenil produzida contemporaneamente tem cumprido seu papel ou o mercado tem falado mais alto?

Meu primeiro livro infantil, A festa de Tati, foi publicado em 2008. É uma história sobre uma menina com necessidades especiais. Como foi muito bem recebido, fiquei animada e continuei escrevendo para o público infantil, especialmente situado na faixa de 8-10 anos. Meus livros abordam questões que fazem as crianças sofrerem, como racismo, bullying, etc. Sempre tive uma percepção aguçada para esses problemas. Além disso – e aí entra o mercado – obras sobre esses temas são muito procurados pelas escolas, que atualmente se preocupam com a transmissão de valores socialmente positivos. Mas não escrevo apenas sobre esses temas, é claro. Publiquei um juvenil, Nem tudo foi carnaval, que é uma narrativa lúdica, cuja escritura me divertiu muito. Assim como outros autores de livros infantis, sou muito requisitada pelas escolas e visito regularmente escolas públicas e particulares, tanto em Brasília como na região do entorno. É uma experiência riquíssima conversar com crianças sobre os nossos textos. Elas fazem perguntas notáveis, espontâneas, maravilhosas. E por vezes captam aspectos sobre os quais nunca havia pensado. Essa troca é fundamental para os autores, em todos os sentidos. De modo geral, creio que a literatura infantojuvenil vive um bom momento, no Brasil. Há um interesse crescente por parte dos pais, que finalmente começam a compreender a importância da leitura e da literatura para a formação das crianças.

Na safra recente de escritores, há nomes que possam ombrear com o que de melhor produzimos no século XX?

O número de escritores no país aumenta a cada dia. É muito fácil publicar atualmente, há novas maneiras de fazê-lo, existem editoras que publicam por encomenda, temos os livros digitais, enfim, publicar não é mais problema. A distribuição continua a ser a principal dificuldade do processo. É uma pena que não ocorra o mesmo com o número de leitores, que continua ínfimo em relação ao número de títulos que surgem anualmente no mercado. Não gostaria de citar nomes, não me parece apropriado, mas há jovens escritores muito bons, cujos livros de estreia revelam um grau de maturidade artística bastante elevado.

O que ainda nos falta para democratizar o acesso ao livro?

Creio que falta bastante, ainda. Em primeiro lugar, há que se trabalhar mais na formação de leitores. Dificilmente alguém se torna um leitor depois de adulto. Essa formação se dá na infância e adolescência. Criar o hábito da leitura é algo bastante complicado. Temos feito progressos nos últimos anos, nunca foram realizadas tantas feiras e festas literárias como atualmente, em cidades grandes, médias e pequenas. Mas isso é só o começo; os eventos despertam o interesse para a questão da leitura, mas, se esse interesse não for alimentado no cotidiano, os esforços vão para o ralo. O preço dos livros é alto, mas não me parece ser o problema principal. Se o hábito de ler for consolidado, acredito que as pessoas – refiro-me àquelas de razoável poder aquisitivo – deixarão de comprar outros bens para investir em livros. Em se tratando da formação do hábito, que é uma questão cultural, além de políticas governamentais voltadas para o livro e a leitura é preciso que a sociedade se envolva também, que passe a desempenhar um papel ativo, não deixando tudo a cargo do governo, como é costume no país. Sem um esforço conjunto, dificilmente chegaremos a ser um país de leitores.

Algo a dizer sobre o momento histórico por que passamos no Brasil e dos fundamentalismos, sejam políticos ou religiosos, explícitos, como há muito não eram, entre nós?

Esse tema tem me preocupado ultimamente. Nas redes sociais, esses conteúdos têm aparecido de maneira muito explícita. Eu, que fui uma jovem típica da década de setenta, nunca pensei que fosse viver tal momento, depois de tudo que passamos. A minha geração lutou aguerridamente para que as mudanças ocorressem no país e para o retorno da democracia. Sinto uma grande melancolia com esse atraso, esse retrocesso. Ideias que julgava completamente exauridas, atrasadas, superadas e ultrapassadas voltam agora de uma maneira surpreendente. Às vezes tenho a impressão de que não conhecia o meu próprio país. Realmente, não sei que rumos essas ideias tomarão, a que destino poderão nos levar. Percebo, com tristeza, que jovens que poderiam ser meus filhos pensam hoje como eu nunca pensei, na minha juventude. Mas, como toda questão de peso, creio que essa mereceria uma reflexão mais apurada, que não posso fazer aqui. Como aprendi a ser resistente, tudo que quero é que essa volta ao passado não seja tão grave como parece e que o bom senso acabe levando a melhor.

Sobre os autores: Angelo Mendes Corrêa é mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor e jornalista. Itamar Santos é mestre em Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), professor, ator e jornalista.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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