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A interpersonalogia e a futuridade: “soft skills” e o desenvolvimento das pessoas

De entre outros novos desafios do mundo moderno, destacam-se a saúde mental e o ser emocionalmente inteligente, na medida em que são partes integrantes do ser humano, e também onde se enquadram as chamadas soft skills que definem as características da personalidade e da atitude profissional de cada pessoa.

Manter boa saúde mental é uma das competências mais complexas da natureza humana, pelo que, gerir conflitos, ultrapassar transições de lutos e défices de vária ordem, precisa de treino intensivo para articulação de pensamentos, consciência emocional e comportamentos em contextos pessoais.

Quem procura soluções fáceis para a complexidade da natureza humana acaba sempre por ficar mais frustrado do que realizado. De facto, a maturidade emocional para saber lidar com o mundo em que a única constante é a mudança sustenta-se, precisamente, no que não se compra nem se vende: pensamentos, emoções e comportamentos, ou seja, as soft skills são os desafios do mundo moderno.

Na realidade, com o andar do tempo, o mercado de trabalho tem passado por várias mutações e, nos dias que correm, tornou-se ainda mais competitivo. Há cerca de uma década atrás, a situação caracterizava-se por uma competição menos internacional e com menor intensidade, na medida em que as qualificações profissionais não eram tão desafiadas como agora (dada a velocidade com que muda o mercado e a relação entre oferta e procura).

Atualmente, o panorama é diferente, pois, já não é bastante ter um bom currículo com cursos, pós-graduações, MBA’s e afins. O “ter” essas formações, se não serve para saber-fazer e se o profissional não se adapta, torna-se desnecessário e inútil. Para além disso, tornou-se imperativo o profissional saber acrescentar valor às empresas e aos outros. Assim, para poder concorrer no mercado de trabalho, nos dias de hoje, para além das competências técnicas, são fundamentais outro tipo de competências, as soft skills, que, mais não são do que as aptidões mentais, emocionais e sociais do profissional.

Contudo, o relacionamento e a interatividade em ambiente corporativo que potenciam a competitividade e a produtividade, pode provocar a emergência do excesso de responsabilidades, pressões e outras questões que, juntando à intolerância em crescendo, facilita o caminho para a frustração e vitimização, dando origem a casos de ansiedade e depressão. A este propósito, convém lembrar o que a OMS (Organização Mundial de Saúde) já deu conta sobre o aumento muito significativo destes casos, prevendo até que, dentro de apenas um ano, a depressão será a principal razão de ausência do trabalho a nível mundial e cujo impacto negativo na economia global estima-se na ordem de um trilhão de dólares anuais.

As soft skills, sendo habilidades que se aperfeiçoam com educação, cultura, experiências e investimento próprio proactivo de cada pessoa, são determinantes na forma de cada qual se relacionar e interagir com os outros. São sempre os que melhor se adaptam os que mais vencem. Só que, as gerações mais jovens, estão a dar mais atenção às competências técnicas em detrimento da inteligência emocional, para além de terem pouca tolerância à frustração e manifestarem pouca disciplina, persistência e método para atingir os resultados que realmente valem a pena. Daí, o facto do individualismo ter vindo a aumentar e com ele a pouca tolerância e respeito às diferenças nas relações interpessoais, para além da crescente vitimização e politicamente correcto, transformando, com facilidade, referências em preconceitos. Em Portugal, por exemplo, a taxa de divórcios está na ordem dos 70%, segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), o que demonstra uma de duas coisas: ou fazemos castings errados nas escolas dos parceiros, ou decidimos acabar, de forma permanente, crises temporárias, o que impede a aprendizagem de novos comportamentos, bem como, o desenvolvimento e maturidade emocional e interpessoal.

Num mundo globalizado e sem limites, reconhecer as nossas próprias fronteiras e saber como expandi-las, pela aceitação do erro, torna-se, assim, fundamental para se manter a saúde mental e realizar-se a rotina de vida de forma equilibrada, flexível e saudável. A inteligência, sagacidade, articulação e dedicação que o profissional aplique na empresa em que trabalha não deve, assim, ignorar a sua neurobiologia funcional que sustenta as suas reais capacidades. Não há saúde mental sem neurobiologia funcional.

A questão do sono é também importante, porque dormir bem faz bem à saúde física e mental, protegendo as nossas capacidades, reduzindo o risco de demências em idade avançada e aumentando a longevidade. Por isso, o sono é uma necessidade biológica que importa satisfazer para se ter um bom funcionamento cognitivo e emocional. E esta conclusão não é opinião, mas sim evidência científica. Quantas vezes já nos irritamos mais por dormir menos? Quantas vezes sentimos menor ambição quando menos dormimos? Quantas vezes nos sentimos mais cansados por termos dormido menos? Não restam dúvidas de, que para o funcionamento pleno das nossas capacidades, temos que respeitar a nossa biologia e natureza.

As pessoas deveriam comunicar mais e melhor entre si em todos os ambientes em que estão envolvidos, seja na família, no trabalho ou na sociedade, procurando falar mais sobre a saúde mental, pois, continua a ser associada a um estigma, o que dificulta qualquer mudança e adaptação à realidade. Por isso, há que se dar mais acuidade e melhor acolhimento à saúde mental, como forma de se facilitar o acesso à felicidade e, assim, contribuir positivamente para a saúde e a economia.

Entender e lidar com as emoções é tão importante quanto a aprendizagem de matemática, ciências e outras áreas do saber, pois, a maturidade emocional acaba por ser uma ampla articulação lógica entre pensamentos, emoções, comportamentos, contextos, pessoas, memórias e experiências. Por isso, quanto mais gerirmos o sentido de humor, com boa autoconsciência e disciplina, mais e melhor gerimos os relacionamentos interpessoais e os desenvolvimentos de empatia, pois, mais gostamos de estar com quem quer estar connosco, dentro e fora do ambiente de trabalho.

Ivandro Soares Monteiro, PhD

Psicólogo Clínico/ Psicoterapeuta/ Psychological Coach/ CEO da EME Saúde

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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