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A imagem de Matilde

Creio que se anda a exagerar na divulgação das imagens da pequena bebé Matilde que sofre do “tipo 1 da patologia Atrofia Muscular Espinal”.

Lembro António Aleixo quando diz que “a rica teve um menino / a pobre pariu um moço”. Não sei a condição socioeconómica dos pais da bebé Matilde Martins Sande, que nasceu a doze de Abril com a supracitada doença, nem isso interessa para o caso. Mas a Comunicação Social (C S) faz muitas vezes essa destrinça.

Imagens da bebé são constantemente devassadas à beça em todos os tipos de C S, e não vejo qualquer eficácia nisso. Parece-me que se estigmatiza a pessoa da Matilde, sobretudo quando crescer – como desejamos com qualidade de vida nem que seja um século.

É certo que algumas imagens vão sendo publicadas pelos pais, direito que lhes assiste, mas deviam ser instruídos no sentido de o não fazer. O direito à imagem da  bebé está a ser coartado.

Esta enfermidade da pequenina Matilde, que se prevê curada com Zolgens e que apenas se disponibiliza nos EUA por cerca de dois milhões de euros, motivou nova avalanche de solidariedade dos portugueses, facto que me enternece e faz acreditar muito no que é o mundo português (a pessoa portuguesa).

Nem assim os portugueses que viram as suas doações vilipendiadas ao mais baixo nível, em favor das vítimas dos incêndios de 2017 e 2018, deixaram de responder abnegadamente à chamada. Em poucos dias aquela verba que me merece uma apreciação à margem, no sentido de como na humanidade ainda é, de não disponibilizando estes medicamentos fulcrais por preços que realmente possam ser acessíveis, porque, não deixo de compreender que há custos no desenvolvimento destes produtos, mas é absolutamente a antítese daquilo que estamos a ser nós, que rapidamente angariamos aquela verba.

Claro que, e isso também faz parte do ser português, se tem atrasado a aquisição do medicamento, num processo que me parece totalmente abjecto, porque há casos em que se tem mesmo de actuar.  Salgueiro Maia Continua a fazer-me lembrar, desta vez o senhor Ministro Santos Silva, que noutros meandros verbera que “seria um absurdo uma interpretação literal da lei” e recordo também que, se para tanto fosse necessário, foi criada uma lei de excepção para os touros de morte em Barrancos.

No caso do tratamento da Matilde, está também eu causa o respeito pelos portugueses que contribuíram. Contribuíram substituindo-se exactamente ao Estado. O Estado que – vamos lá ver em que páram as  modas – pode levar 10% de “imposto de selo” do valor angariado. Mais uma lei que enfim… a repensar.

Estado acaba por dizer assumir o pagamento do medicamento, o que é nada de especial, porque é perdulário com toda a sorte de habilidades colarinhos nívia que quase todos nós presenciamos dia a dia – ao ritmo de cada cavadela cada minhoca. Mas mantém o impasse na aplicação do tratamento, que os pais vão manifestando o desagrado, e já nem digo na celeridade mas na decisão de partir para o tratamento.
Qualquer leigo sabe que, assim de um modo geral, um tratamento deve ser levado a efeito o mais urgente possível.

Resta dizer que Felgueiras contribuiu com cerca de quatro mil euros. Que se saiba.

(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico)

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