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A Igreja contra ela mesma?

Com a publicação de um livro de 144 páginas e com o título “Do profundo do nosso Coração” (“Des profondeurs de nos cœurs”) em defesa do celibato, ultraconservadores do Vaticano tentam manipular em seu favor escritos do emérito papa Bento XVI. O Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, advoga a coautoria do livro dele e de Bento XVI.

O livro coloca o Papa Francisco em situação difícil. De facto, Francisco estava a preparar uma Exortação sobre o Sínodo da Amazónia onde deveria tomar posição, em breve, sobre o celibato e provável abertura do clero para mulheres a nível regional.

O livro declara-se expressamente contra posições do Sínodo para a Amazónia, onde se previa o sacerdócio para pessoas casadas. Concretamente, questiona a resolução 72 aprovada pelos padres sinodais do sínodo da Amazónia. De facto, o sínodo da Amazónia não acabou com o celibato, mas abriu uma brecha para familiarizar a ideia e com o tempo concretizá-la.

Segundo o livro, o sacerdócio celibatário pretende libertar o sacerdote do ciclo matrimonial e da sujeição aos bens terrenos (posse) para não estar sujeito ao “fluxo do tempo”.

É altamente questionável que Bento XVI tenha querido uma autoria comparticipada.  Colaboradores de Bento XVI dizem que “Bento está completamente alheio a esta operação mediática evidente”. Também vários jornalistas do Vaticano de renome negam o envolvimento do ex-pontífice na publicação do livro e dizem que Bento “não tinha visto ou aprovado a primeira página ou o facto de ter sido publicado um livro a quatro mãos “. Trata-se mais de uma “operação mediática” com “manipulações mediáticas” em curso, das quais Bento se dissociou. O cardeal Sahra apresentou como prova da cooperação três cartas com o cabeçalho e a assinatura de Bento XVI. Mas não há neles qualquer menção de cooperação num livro.

Uma pessoa íntegra como Bento XVI nunca poderia tomar tal atitude que constituiria um perigo para a unidade da Igreja. De facto, nestas questões quem teria uma palavra a dizer, ao lado do Papa seria o Colégio dos Cardeais” a quem competiria interferir.

Tudo leva a indicar que não há “transparência” entre o que os textos que Ratzinger terá escrito e o que aparece agora em livro conjunto. Certamente em breve sairá uma comunicação de Bento XVI a pôr cobro às especulações.

É bastante evidente que os ultraconservadores procuram minar a autoridade do Papa Francisco. Para isso revelam uma boa estratégia, conscientes de que hoje o que mais determina a opinião pública são as manchetes dos jornais e agendas de grupos com influência nos Media. Uma vez colocada em movimento a massa dos sentimentos já não haverá oportunidade para mais reflexões e diferenciações.

Porém a realidade que subsiste é que quem está com o Papa está com a Igreja!

António da Cunha Duarte Justo

 

 

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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