Costuma-se dizer, que a crosta da estupidez, que nos cerca, tem léguas de espessura.
Se a estupidez fosse das mais baixas camadas da população – que muitas vezes é mais sábia do que se pensa – compreendia-se, mas essa crosta provém de indivíduos responsáveis e (quantas vezes!) de encanudados, de canudos ocos.
Não é, todavia de “canudos ocos”, que pretendo falar, mas de gente modesta, empertigada da sua “importância” económica e bem-falante.
Estando na papelaria a comprar esferográficas, deparei com um diálogo, entre freguesa e balconista, sobre saúde.
– Então, que dizem os médicos? – perguntou a caixeira.
– Além de mais, falam também numa espondilico, ou pondirrose ou coisa assim.
– Cheee! Já ouvi falar nessa palavra!… – respondeu a empregada, exprimindo semblante condoído.
Como anedota é impagável; como realidade só pode ser lastimável.
Num açougue – contou-me familiar, – discutiam um crime horrível, relatado no jornal:
-Ah! Então já se sabe quem matou! Foi este homem de barbas! Bandido! – Afirmou a açougueira, apontando para o jornalista.
– Olhe que não – explicou a cliente, mais sabedora – esse é o jornalista!
– Olha agora! A senhora não me dê lições, que eu sei muito bem ler! Cá está: “A esposa perante o bárbaro assassino”. Bárbaro é este, que tem barbas e que é assassino. – Apontando insistentemente, com o indicador, para o retrato do jornalista.
Certo domingo fui participar na missa do Padre Faria, na Igreja de Santo Ildefonso, no Porto. Na homília, este, referindo-se às palavras de Cristo, que dizem: “Eu sou o caminho…”. O bom sacerdote, esclarece: “Não vão para aí dizer: que eu sou o caminho…”
E prosseguiu: “É que já me disseram que há quem afirme, que o abade de Santo Ildefonso, é o caminho… Eu sou apenas um pobre pecador…”
E ainda dizem que o ensino obrigatório é necessário para que todos sejam cultos e ilustrados.
O ensino, para muitos, apenas serve para obter diploma que permita obter bons empregos… e pouco trabalho!