(A todos os meus amigos de infância)
Alegres, livres e serenos
Despreocupados e brincalhões
Éramos assim em pequenos,
Muita algazarra, muitos trambolhões,
Amizade simples e pura
Exímios em afetos
Qual sol que perdura
Em sentimentos, concretos.
Juntos enfrentamos perigos
E para o que nos havia de dar
Sempre unidos, sempre amigos
Pensando que tudo isto iria durar.
E hoje no peito esta dor contida
Esta saudade com que vivemos
Procurando ao longo da vida
Aquilo que fomos em pequenos.
Não, não nos perdemos
Apenas ficamos mais estultos
Só porque crescemos
Só porque nos tornamos adultos.
Tenho saudades de ser menino
Tenho saudades de não ter saudades
Quero voltar a ser pequenino
Quero esquecer as vaidades.
Quero voltar a ser um louco,
Um irresponsável que nem pensa
Um garoto que tão pouco
Jamais sente doença.
Quero voltar a arder em febre
Ter quem cuide de mim
Ser um mimado que quebre,
Um puto ruim.
Quero voltar a brincar
Sentir o cheiro imensurável da terra
Inalar a fresca brisa do mar
Subir com destreza a serra,
Quero voltar aos tempos antigos
Quero ser sensível e duro
Quero de volta os meus amigos
Não quero o futuro.
Hoje, quase não nos falamos
E se nos vemos
De tão formais que estamos
Quase não nos conhecemos.
Pouco lembramos o passado
E o presente é o que se consegue conquistar,
Como se fosse nosso legado
As nossas ostentações mostrar.
Tão informais, tão enfadonhos
Cheios de incertezas que nos consomem
Longe das alegrias, longe dos sonhos
Do menino que se tornou homem.
Éramos alegres livres e serenos
Éramos assim em pequenos
Sempre juntos enfrentando todos os perigos
Éramos os melhores amigos
E hoje, tudo o que eu gostava de saber,
Só porque ficamos tamanhos
Ajudem-me a entender
A razão de nos tratamos como estranhos.
No fundo, no fundo, o que quero dizer
É que não importa a idade,
Não escapamos ao fado de crescer
E o que conta é o valor da amizade.
A vida é um misto de sonho e esperança
De conquista e desilusão
Em cada adulto há uma criança
A criança que vive no seu coração.
Digo-te isto como uma advertência,
O verdadeiro sentido da vida
É o retorno à inocência
À pura alegria, por nós outrora sentida.
Por isso o que te digo
E o que te direi sempre que nos virmos
É que na vida temos perdas e temos ganhos,
E sendo assim meu amigo
Deixemo-nos de formalismos
E não nos tratemos como estranhos.
(excerto de Possivelmente poemas)