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San Blas, o paraíso na Terra

O arquipélago de San Blas é um daqueles destinos que deixa qualquer um enfeitiçado com tanta beleza. Como lágrimas derramadas ao acaso, as 365 ilhas espalhadas pelo mar das Caraíbas enobrecem, de uma forma sublime, este lugar paradisíaco.

Algumas destas ínsulas são povoadas pelos Kuna Yala, um povo indígena que tem as suas próprias leis e cultura. Mas a maioria destes ilhéus são puramente virgens e selvagens. O ponto de partida para principiar uma aventura neste arquipélago é a cidade do Panamá.

Entre os turistas que anseiam abraçar este vasto complexo de ilhas, alguns possuem jeeps que partem até Carti, uma somítica vila costeira. Por estradas em péssimas condições, pejadas de enormes buracos, demorámos algumas horas para percorrer somente uns míseros cem quilómetros.

Entendemos, de imediato, o porquê de não termos encontrado qualquer tipo de transporte público a dirigir-se para esta vila. Afinal de contas, nenhum nativo nos tinha ludibriado quando os interpelávamos acerca de uma possível ida de autocarro até Carti.

Com chuvas torrenciais que teimavam em não abrandar, esperámos durante algum tempo até chegar uma pequena embarcação com o chefe de uma tribo. Apesar de os indígenas Kuna Yala terem o seu próprio dialeto, o patriarca falava espanhol. Prontos para embarcar numa nova aventura, partilhando a mesma ilha com este clã, deixamo-nos levar ao sabor da brisa.  m prelúdio calmo e sereno, com interlúdios de chuva e alguns ventos mais coléricos. Todavia, esta inconstante climatérica não era, de todo, um transtorno. As magníficas paisagens, desenhadas por ilhas celestiais ao longo da nossa locomoção, eram de uma formosura incrível.

A chegada à ilha foi um autêntico sonho. Palmeiras enfileiradas ao longo da costa embelezavam de uma forma sublime e perfeita aquela praia de areia branca e águas cristalinas. O panorama era perfeito. Longe da civilização e de tudo, presenciávamos um outro mundo. Um mundo puro e imaculado, que resistia a um arquétipo de neologismos e desenvolvimento, onde nem sequer havia eletricidade.

As habitações eram simples cabanas feitas de bambu ou de palha. O nosso aposento era uma modesta barraca, com um enorme buraco na parede, onde deveria estar uma janela. A porta mal fechava e, por isso mesmo, a cada noite que voltávamos ao quarto, algumas baratas cismavam em ser nossas anfitriãs. Malgrado todos estes míseros imbróglios, não estava minimamente interessado em nutrir qualquer tipo de conforto.

Sentia-me um privilegiado por abraçar aquela paisagem perfeita, mesmo que naquele instante tivesse a cabana mais reles e rude deste universo.

Explorar toda a ilha foi extremamente jocoso. Bastaram uns escassos cinco minutos e já tinha dado a volta completa ao seu território. Ao longo de vários dias, usufruímos deste éden no meio do nada, mas este nada transformara os nossos rostos numa felicidade veraz.

Vivíamos ao ritmo dos Kuna. Um andamento lento, pautado por batidas sincopadas das ondas do mar. As nossas refeições eram uma inopinada surpresa, pois eram pescadas na hora. Os indígenas desapareciam sorrateiramente pela costa, aparecendo mais tarde com lagostas e peixes. O brado de um búzio anunciava que a refeição estava pronta.

Indubitavelmente, estávamos perante uma experiência única, e assistir a todo aquele enredo era fenomenal. Sendo que não havia muito com que nos entretermos nesta tacanha ilha, decidi fazer o mesmo que os nativos. Pescar com um pau de bambu, tentando a minha sorte. Com inúmeros e variados peixes, dos mais pequenos aos mais astutos, pescar naquelas águas transparentes seria, certamente, canja. Mas tinha-me enganado redondamente. Todos eles me fintavam com uma pinta dos diabos, que acabei por desistir.

O mesmo se passou quando decidi abrir um coco. Mas que empecilho! Demorei cerca de uma hora a batalhar contra aquele fruto. Com tanta pancada e paulada, aquele coco aparentava ser uma obra de Picasso. Tinha diante de mim um coco cubista, num estado miserável. E tudo isto para desfrutar de umas meras pingas de leite de coco.

Rapidamente constatei que sobreviver sem qualquer experiência num lugar tão selvagem como este seria árduo e espinhoso. Por incrível que pareça, a falta de eletricidade tornara-se mágica. Fazíamos fogueiras na praia, onde passávamos a noite inteira a partilhar histórias, sob as mil e uma estrelas. Já na cabana, o som das ondas embalava-nos com um sorriso nos lábios.

Apesar do aspeto rude e modesto da nossa cabana, éramos, sem dúvida, uns privilegiados. Tínhamos vista para o mar, e todas as noites éramos embalados pelo sopro do vento e o som das ondas do mar, num sono profundo e magistral.

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