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Restauracão, restauragato e focinha no prato

A Assembleia da República aprovou recentemente os projectos do PAN, do BE e do PEV que possibilitam a entrada e permanência de animais de companhia em estabelecimentos fechados de restauração, além dos já autorizados cães de assistência.

A medida em si até que poderia ser considerada humanitária, se não fosse o caso de estarmos a falar de animais (alguns são autênticas bestas, mesmo de meter medo) e não de pessoas, uma vez que o objectivo destes projectos é precisamente evitar que os donos dos animais não tenham que os deixar amarrados à porta dos estabelecimentos de restauração ou dentro dos veículos, enquanto enchem o pandulho ou se embebedam.

É que a anterior legislação só os deixava entrar, aos animais, mas pela porta dos fundos, e devidamente acondicionados em embalagens com selo de certificação da autoridade alimentar e transportados em camiões frigoríficos.

Mas bicho que é bicho gosta do calor humano, e também de entrar pela porta da frente! Aliás, parece-me uma boa forma de atrair clientela chinesa para os restaurante de comida tradicional portuguesa: parece que já estou a imaginar uma mesa cheia de chineses a escolher a ementa e eis que, de repente, entra no restaurante um casal com os seus dois ‘lulus’. Para os chineses, a escolha passa a ser entre o ‘lulu’ preto às manchas brancas e o ‘lulu’ creme às manchas castanhas. E se não virem satisfeito o seu pedido, ameaçam com “uma leclamalão no livlo le leclamalões!”

Também passa a ser possível ao Pinto da Costa ir almoçar ao restaurante do Barbas, ferrenho adepto benfiquista, com o seu Boby e o seu Tareco. E se calhar a estar lá o Luís Filipe Vieira com a sua águia Vitória, aposto que o almoço vai ser mais desassossegado do que as conferências de imprensa dos presidentes portista e benfiquista a seguir aos jogos entre as respectivas equipas. E isto já sem falar no dragão que, por vezes, também acompanha Pinto da Costa e que incendeia tudo à sua volta. Ideal para um ‘fondue’!

No fundo, o que o PAN, o BE e o PEV pretendem é recriar as condições de higiene, salubridade e sã convivialidade que existiam na Idade Média porque vai ser muito divertido assistirmos aos empregados de mesa, carregados de bandejas de comida, a escorregarem na poia dos cães e a atirarem para cima dos clientes peixes, carnes, arroz, batatas e, claro está, os molhos para dar mais gosto aos pratos.

Os restaurantes vão passar a ser as redes sociais dos bichos, onde estes vão poder comunicar uns com os outros, fazer engates e também muita caca e tudo isto em público, tal como acontece nas ditas redes.

Os restaurantes e cafés vão passar a ser verdadeiros locais de cãovívio no sentido literal do termo, pelo não me admiraria nada que começassem a surgir restaurantes com nomes como: “O Canil”, “O Gatil”, “Pulgas com Todos”, “Coça Aqui Coça Ali”, “O Boby”, “Ração para Todos”, “Trela no Prato”, “O Ladrar do Leitão”, “Grelhados Zoo”…

Sugiro aos donos que criem dois espaços nos seus estabelecimentos: um espaço para animais fumadores e outro para animais não fumadores. Afinal os animais devem ter os mesmos direitos que os humanos, ou não?

Outra questão que se deve colocar é a seguinte: devem os animais poder entrar nus nos restaurantes e cafés? Eu por mim, é na boa! Se vir uma cadela descascada, nem ligo puto. Agora imagine o estimado leitor que é um cão e que vai a um café ou restaurante e que uma vez lá chegado encontra um mar de cadelas nuas. Acha que aguentaria uma refeição sossegado com toda esta provocação à sua volta? Pois é assim que se sente um pobre cão. Por isso, talvez não seja má ideia vestir os animais que acompanham os donos aos estabelecimentos de restauração, senão é forrobodó total na certa!

E os bichos devem ter o direito a escolher música quando entram num bar? Ou são obrigados a ouvir aquilo que os humanos escolhem? Não será violentar os pobres ouvidos (que ouvem ultrassons) caninos e felinos e afins? Provavelmente os nossos “amigos” de quatro patas gostariam de outras músicas. Fale com eles antes de sair de casa e negocie sobre qual o seu tipo de música favorito. Por exemplo, o cão de Pavlov adorava ouvir o tinir de uma campainha: salivava logo todinho a pensar num pedaço de carne.

O principal problema dos animais de companhia passarem a ter acesso aos restaurantes é o seguinte: doravante como é que se vai distinguir o cocó de cão de um prato gourmet? É que, ambos no prato, são praticamente indistinguíveis a olho nu…

Mas isto dos animais terem acesso aos locais de restauração (restaurante e cafés) não é novo em Portugal. No nosso país há muito que os animais, mesmo os mais selvagens e ferozes, têm acesso ilimitado aos locais de divertimento, como por exemplo às discotecas. Muitos desses animais, inclusive, trabalham nesses estabelecimentos. A experiência tem sido satisfatória? Parece que não! Parece que estes animais não foram educados devidamente pelos seus donos, tornando-se autênticas feras mortais que atacam ao mínimo estímulo, à mínima razão, norteando-se por princípios de pura bestialidade irracional.

Sabendo nós que o comportamento dos animais é o reflexo da educação que (não) teve dos seus donos, penso que, em muitos casos, seria muito mais seguro deixar entrar apenas o animal de companhia e deixar o dono à porta do estabelecimento de restauração. Seguramente que o ambiente no interior do restaurante ou café melhoraria substancialmente.

É caso para dizer: restauracão, restauragato e focinha no prato!

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