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Nós e os espanhóis

Eu tenho um fetiche, e esse meu fetiche é ir a páginas electrónicas de jornais estrangeiros e andar a pesquisar o que eles escrevem sobre Portugal.

Leio jornais escritos em castelhano, nomeadamente o El Pais, o ABC, o El Mundo, o El Confidencial e a Voz de Galicia. São estas a minhas referência, e é raro ir cuscar noutros jornais de outros países que também falam castelhano porque é muito raro eles falarem de nós, e quando falam, são lugares comuns, fogos, futebol e pouco mais. São muito poucas as referências ao nosso país e não acrescentam nada de novo.

Jornais em ingleses, falam pouco sobre nós, e é quase sempre sobre futebol ou tragédias, ou então fazem cenas tipo “10 Praias Mais Bonitas e Portugal”. Também gostam de referir a notícia, sempre que um grupo de desordeiros ingleses se embebedam no Algarve, provocam desacatos e são presos. Os comentários a essas notícias, especialmente no The Sun, vão desde uns que acham que é uma vergonha para Inglaterra, a outros criticam a violência da polícia portuguesa, e finalmente os tipos porreiros, que aproveitam uma notícia sobre porrada, para garantirem que gostam do sol e de sardinhas.

Os jornais brasileiros, com tanta notícia interna, ligam-nos muito pouco, têm outros assuntos para tratar para além dos que acontecem na “terrinha” ou com “patrícios”.

Leio também, preferencialmente alguns editoriais do Jornal de Angola, alguns deles interessantes, mas nota-se que existe ainda muito recalcamento,

Isto para dizer que só os espanhóis é que nos vão ligando alguma coisinha, e todos os dias há notícias sobre Portugal para além do futebol.

Esta semana, o ABC, que tem tipos fabulosos que escrevem sobre a história de Espanha, dedicou um bom bocado do seu espaço descrevendo a Batalha de Aljubarrota e as consequências da mesma no futuro da Península Ibérica. Claro que é visto de um prisma de espanhol, mas eu também não estou à espera de outra coisa. Eu acho que tenho aprendido bastante história de Portugal no ABC com a história de Espanha.

No El Pais, uma notícia que referia a eleição de Mário Centeno para presidente do Eurogrupo e a capacidade de Portugal, um país muito pequeno, que com a sua diplomacia, conseguia colocar portugueses em lugares chave da decisão mundial.

Ora bem, tanto uma como a outra notícia, foram alvo de intensa guerra nos comentários, entre espanhóis que gostam imenso de Portugal,e aqueles que acham que a vitória em Aljubarrota de Portugal foi uma grande tragédia para os portugueses. E a propósito de tudo falam da União Ibérica, outros afirmam que somos uns vendidos aos ingleses, e os tais tipos em que mal se escreve sobre Portugal, mesmo que seja sobre incêndios, aproveitam para dizer que no ano anterior foram a Portugal com a família e adoram Lisboa e gastronomia e que as pessoas são muito educadas!

No meio desta parafernália, existem uns portugueses, como é o caso deste vosso amigo, que também faz um comentário para incendiar ainda mais a discussão. A ultima vez, li num jornal espanhol um artigo de opinião, e o tipo que opinava, garantia que 78% dos portugueses eram favoráveis à União Ibérica e eu enviei-lhe um mail a perguntar que raio de sondagem é que ele tinha conhecimento e que desse tão expressiva vantagem e ainda estou à espera de uma resposta.

Depois existem todos que começam a escrever dizendo que “Portugal é um pais muito pobre e endividado” e que portanto somos uns desgraçados, somos uns infelizes, e que Espanha é uma superpotência económica e essas coisas todas! E isso mata qualquer tipo de discussão, é reduzir a coisas a dinheiro e achar que os pobres não possuem grandes direitos, que o que é bom é ter um Mercedes e não um Fiat Punto.

Há também uns indivíduos que citam Camões, que um dia escreveu qualquer coisa do género ““Falai de castelhanos e de portugueses, porque espanhóis somos todos” e acham que o poeta era favorável à integração de Portugal em Espanha. Só que no tempo de Camões não existia Espanha enquanto nação, e Espanha era Hispânia, a Península Ibérica.

Conclusão. Gosto de Espanha e dos espanhóis, somos povos irmãos mas calminha porque não somos a mesma coisa.

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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