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Meditação

É tempo de me desligar do mundo e de me encontrar comigo…

Foi um dia cansativo.

A roda viva começou precisamente no primeiro momento em que o despertador iniciou a sua persistente e irritante melodia. Fá-lo teimosamente de cinco em cinco minutos, todas as manhãs muito antes da luz do dia raiar, mesmo que, ainda meio a dormir meio acordado o procure na mesinha de cabeceira, onde sempre fica durante a noite, mas ao mesmo tempo quase difícil de encontrar, encoberto que sempre está pelo escuro da noite e pelo facto de eu ter acordado, mas não despertado.

E a partir desse instante em que desperta, ele, pela primeira vez, quase sempre no momento em que finalmente me entregava a um sono mais profundo, já não se cala, até que eu fique ciente de que, com muito custo e muita pena, já não posso voltar a dormir.

Depois, começa o dia começa a romaria.

Acelerar o passo para não chegar atrasado ao trabalho. Enfrentar os afazeres desse mesmo trabalho. As suas atribulações. Os colegas, que tal como eu, têm dias… O relógio que não anda. As mensagens que à socapa se enviam e se recebem. As reuniões à noite, depois do trabalho. Os problemas que sempre surgem e parecem não ter fim. A preocupação com a vida, a minha e a dos filhos. A preocupação com o bem-estar deles. A televisão, os programas de que se gosta, a publicidade constante entre eles, que irrita. Os telefonemas que não espero, os outros que espero, mas nem sempre me agradam. O barulho dos carros. O barulho das pessoas. O barulho do mundo.

Foi um dia de emoções. Algumas boas, outras nem por isso, umas quantas más e irritadiças.

E é então que, à noite, já quando todo o mundo se foi deitar, quando se desligaram os aparelhos, e o silêncio da noite se abate na calma do meu quarto, procuro uma posição confortável quando me sento, de joelhos dobrados e pernas cruzadas, de costas direitas e pescoço firme, mas descontraído, e medito.

É tempo de me desligar do mundo e de me encontrar comigo. É tempo de olhar para dentro do meu ser e compreender-me a mim mesmo. Ou morrer tentando.

E nesse silêncio absoluto, só a minha respiração na qual me concentro, rasga esse mar de calmaria onde tento mergulhar para me reestabelecer a mim mesmo. Pacientemente ali fico sentado à espera do reencontro comigo, enquanto luto para amenizar os barulhos do silêncio, para os tornar harmoniosos e pacíficos. Para acalmar no alvoroço dos pensamentos e das pequenas distrações, que não param de me beliscar para me distraírem da minha concentração. Não é um processo fácil. Mas como em tudo na vida, precisa de persistência. Insistir, praticar, não desistir.

Os benefícios da meditação raramente são imediatos. Mas com a prática, com a persistência, em pouco tempo deixa de ser algo que fazemos porque necessitamos, para ser algo que fazemos porque queremos ansiosamente fazer.

Inspirar pelo nariz, profundo, até sentir o peito e o estômago a aumentar. Expirar pela boca, serenamente e devagar. Deixo que as energias negativas escapem de dentro de mim, com esse expirar longo e calmo. E quanto mais me concentro nessa calma, deixando que a mente relaxe, sem que me aperceba, já nem sequer ouço a minha respiração. Já quase não preciso dela para me encontrar nesse estado de calma, de serenidade, de meditação. Já quase não me lembro do meu corpo. Não preciso.

Entro para dentro de mim pelo lado escuro do interior dos meus olhos fechados, qual porta de uma imensa serenidade onde me encontro com o meu ser.

É neste estado, neste silêncio, que tenho uma melhor compreensão de mim mesmo, e do meu propósito na vida. É neste estado e neste silêncio que percebo que o meu Deus, não é nem nunca será o Deus que me impõem, mas sim aquele Poder superior a mim mesmo, que me pode ajudar, que me pode devolver ao verdadeiro entendimento da minha própria vida e o que fazer com ela.

Com a meditação aprendi que o importante é viver o presente, valorizar o momento, sem ficar numa espécie de limbo, entre um passado que não volta, e um futuro em que nem sequer tenho a certeza de poder viver.

António Magalhães

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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