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Estudo português que reescreve história genética da Índia está a causar polémica

Um estudo internacional liderado por Pedro Soares, da Universidade do Minho, reabriu a discussão entre cientistas e na Índia, ao provar que um grupo de falantes indo-europeus migrou para aquele país há 5000 anos, influenciando a língua e a cultura locais. Este é dos temas mais delicados da história política indiana e tinha sido refutado por defensores da língua indígena, mas as novas evidências genéticas nas linhagens masculinas são claras. O trabalho saiu na revista “BMC Evolutionary Biology” e está entre os 5% de artigos científicos com mais impacto social de sempre, segundo a Altmetric.

Pedro Soares, investigador no Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da UMinho, em Braga, nota que a diversidade genética, linguística e cultural indiana é antiga. Remonta aos caçadores-recoletores que colonizaram a região há mais de 50 mil anos e, depois, aos imigrantes vindos do Próximo Oriente e Irão graças às melhorias climáticas há 20-10 mil anos. Mas o seu estudo foca-se na Idade do Bronze, com a chegada a partir das estepes de homens pastoris e domesticadores de cavalos que falariam um ramo do indo-europeu, um tipo de língua das raízes do hinduísmo e que teria originado as línguas hoje faladas por mais de mil milhões de pessoas no Norte e Centro da Índia. A teoria é defendida por cientistas europeus, no modelo chamado “invasões arianas”, mas tem sido ferozmente rejeitado por nacionalistas hindus, que criticam ainda as conotações racistas e colonialistas.

“O hinduísmo é das civilizações mais antigas do mundo e terão sido migrantes arianos a ajudá-lo a nascer, segundo o estudo. Mas a última coisa que queremos com a ciência é insultar, o que fazemos é olhar, ler e interpretar”, diz Pedro Soares, que teve a caixa inundada de emais indignados. O artigo também tinha autores indianos, que pediram para sair aquando das conclusões. O estudo teve destaque na imprensa asiática. No “The Hindu”, com 1.4 milhões de exemplares de circulação, houve centenas de reações na notícia online, levando mesmo ao fecho da secção de comentários.

O trabalho uniu 16 investigadores das universidades do Minho, Porto, Huddersfield (Inglaterra), Sydney (Austrália), Edimburgo (Escócia) e Gales (País de Gales), incluindo oito portugueses – Pedro Soares, Marina Silva, Marisa Oliveira, Daniel Vieira, Andreia Brandão, Teresa Rito, Joana B. Pereira e Luísa Pereira. A equipa usou novas tecnologias de sequenciação para avaliar genomas completos atuais, tratados em estudos recentes, e ainda 500 genomas de indianos, tornados públicos na rede internacional Mil Genomas. A pesquisa incidiu no ADN mitocondrial (transmitido de mãe para filha) e no cromossoma Y (transmitido de pai para filho), que foi tratado pela primeira vez neste âmbito. Concluiu-se que boa parte das linhagens masculinas indianas era externa e que as linhagens femininas indianas denunciaram muito pouca migração. Ou seja, há 3500-5000 anos houve mistura de homens do exterior com mulheres locais da Índia.

Ter as duas linhagens e o resto do genoma “deu muita força às conclusões”, que a equipa quer fortalecer. “Vamos tentar arranjar a nossa própria amostragem e avançar para mais análise genética, embora saibamos da dificuldade de não existirem fósseis humanos com ADN antigo da Índia ou estudos com dados suficientes, ao contrário da realidade da Europa”, elucida Pedro Soares. O geneticista acrescenta que os homens falantes indo-europeus terão saído ao mesmo tempo das estepes para o subcontinente indiano e para a Europa central, influenciando também as línguas e a cultura deste continente. A teoria da migração global tem gerado cada vez mais consenso na comunidade científica.

 

 

 

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