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Contos da emigração

Contos da emigração reúne vários escritores, cada um deles, com a sua voz própria, retrata a emigração nas suas mais variadas vertentes, nos seus diversos contextos sociológicos. A emigração na Europa é a que mais é retratada neste livro.

Ana Cristina Silva relata a passagem de dois jovens para França, num tempo em que se fugia de um país pobre e era obrigatório participar numa guerra absurda e longínqua. Os personagens deste conto, para além da fome e de todas as contrariedades da clandestinidade, acabam por ser bafejados pela sorte e pela solidariedade dos homens, nos momentos cruciais.

Cristina Torrão dá voz a uma realidade dura e cruel para as mulheres que emigram para acompanhar os maridos nessa aventura. É uma realidade cruel, a escolha de uma mãe, estes dois casos desenvolvidos neste conto retratam bem as escolhas que as mulheres fizeram e as consequências dessas escolhas.

Gostei muito deste conto. E há outros. A vida de um taxista português em Londres. A vida de um alemão que cresce em Portugal, que volta para a Alemanha, e que anos mais tarde volta de novo para Portugal.

Temos também uma narrativa bastante irónica e divertida onde se relata a vida dos portugueses em França, a sua ascensão económica, a exploração da mão de obra. O conflito com outras nacionalidades, pela mão de  Nuno Gomes Garcia.

Um dos contos nesta coletânea que achei também muito interessante é o conto de Luísa Coelho. Um encontro informal, com um estranho, num banco de jardim, e por causa de um livro. Deixo aqui uma pequena passagem: “o meu tataravô, em 1799 – continuou o homem como se nada tivesse acontecido – escreveu ‘perdemos a cor e a língua, mas ficou- nos a memória”. Para a minha família, Toledo , minha Senhora, é a nossa pátria sonhada. Mas temos a consciência de que esta biblioteca é a nossa verdadeira pátria'”.

Gostei mesmo muito desta coletânea de contos sobre este tema. Não sei se sofremos de sonhos, se de ausências ou de perdas irreparáveis. A nossa voz é uma voz dorida, a dor de quem não se sente filho amado quer no berço, quer noutros lençóis onde nos deitamos ao longo da vida. Fica a certeza da memória, dos livros, da língua na voz destes escritores que materializam em linguagem literária a vivência da emigração.

São Gonçalves

Contos da emigração – Homens que sofrem de sonhos.
Vários autores
Editora Oxalá 2018

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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