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Conferência internacional debate comunidades portuguesas na Nova Inglaterra

Uma conferência internacional reúne esta semana em Massachusetts, nos EUA, dezenas de especialistas e interessados em debater o trabalho fabril dos imigrantes portugueses e as implicações que teve para as comunidades portuguesas da Nova Inglaterra.

A conferência, que decorre entre domingo e esta quarta-feira, inclui exposições em museus, visitas a locais históricos, conversas temáticas e passeios em Lowell, New Bedford, Fall River e North Dartmouth, ligando temas de investigação à história viva das comunidades que aqui se estabeleceram entre finais do século XVIII e início do século XIX.

“Para os participantes que atendem os quatro dias, é como tirar um seminário intensivo sobre imigração e trabalho fabril e este período inicial da história da imigração portuguesa”, disse à agência Lusa um dos organizadores, Miguel Moniz.

Moniz explica que “os portugueses vieram para New Bedford como baleeiros, mas espalharam-se por todos os outros locais como resultado do seu trabalho na industria fabril da Nova Inglaterra”.

“Queremos que as pessoas que participem tenham uma ideia de como era ser um trabalhador fabril na comunidade portuguesa durante este período”, diz o organizador.

A conferencia acontece em espaços académicos como a Universidade de Massachusetts em Dartmouth, o Centro Saab de Estudos Portugueses ou os Arquivos Ferreira-Mendes, mas vai também a locais como o Museu da Baleação em New Bedford ou a Casa dos Açores em Fall River.

“Apesar de acontecer uma conferencia académica tradicional sobre o tema, muitas das palestras serão dadas em cenários não tradicionais, que foram concebidos para trazer os participantes até às cidades e espaços que estão a discutir”, explica Miguel Moniz.

Alguns dos especialistas presentes são Graça Cordeiro (ISCTE), Andres Novoa (ISC), Silvia Oliveira (Rhode Island College) Kady Phelps e Molly Mahoney (UMass Lowell), Ramos Villar (Universidade de Sheffield), Rose P. Rodrigues (Universidade de Fairfield), Maria de Sá, Camilo Viveiros ou Daniel Georgianna (University of Massachusetts, Dartmouth).

As palestras e investigações apresentadas serão depois reunidas numa publicação académica.

Além de painéis com especialistas, alguns eventos vão reunir membros da comunidade, que vão partilhar as suas histórias e oferecer um relato em primeira mão dos temas em discussão, como o movimento de associação de trabalhadores.

Além de Miguel Moniz, a conferência foi organizada por Cristiana Bastos, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que teve a ideia inicial para o evento há cerca de cinco anos.

Na altura, Bastos era investigadora na Universidade de Massachusetts em Dartmouth e trabalhava num projeto sobre Donald Taft, autor de uma tese de doutoramento publicada pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, sobre as comunidades portuguesas da Nova Inglaterra.

Na tese, Taft suponha que dados como a alta taxa de mortalidade, baixos níveis de educação e baixa esperança de vida da comunidade eram resultado da alta percentagem de sangue negro na composição genética da população.

No ano passado, o Conselho Europeu de Investigação (ERC) atribui a um projeto de investigação de Cristiana Bastos a mais prestigiada bolsa do ERC, no valor de 2.2 milhões de euros. O projeto tem o tema “A Cor do Trabalho: as Vidas Racializadas dos Migrantes” e está relacionado com a organização desta conferencia.

“Também vamos olhar para a forma como os discursos locais sobre os grupos raciais e étnicos, nacionalidades e minorias foram uma parte de como os portugueses se adaptaram às instituições policias, económicas e culturais da sua nova casa”, explica Miguel Moniz.

Para Moniz, esta é “uma lição de história com relevância contemporânea, [sobretudo] quando pensamos no movimento atual para marginalizar e deslegitimar imigrantes e grupos minoritários por membros da ‘alt-right’ e fações do movimento conservador”.

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